Parte 9 O anjo negro

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O trem estava atolado em meio ao gelo e ninguém sabia ao certo quanto tempo levaria para desatolá-lo, Mariana e Lucas resolveram jogar uma partida de xadrez e como Bernardo não sabia jogar e estava muito curioso pra ver o trem do lado de fora resolveu dar uma volta.

__ O que vocês estão fazendo? __ perguntou o menino a um grupo de duendes que trabalhavam do lado de fora, próximo a uma roda solta do trem.

__ Estamos retirando as rodas e colocando esquis em seu lugar __ respondeu um duende o qual o menino ainda não tinha visto, na verdade ele realmente não tinha visto quase ninguém e agora via uma verdadeira multidão.

__ Vai demorar muito? __ o menino ainda estava boquiaberto com tantas criaturinhas a sua volta.

__ Um pouco __ respondeu novamente o duende sem dar muita atenção ao menino.

__ Eu queria andar um pouco, eu posso? __ Bernardo tinha certo receio que eles negassem, mas caso isso acontecer ele estava determinado a desobedecer às ordens.

__ É claro que você pode __ Bernardo logo reconheceu a voz de Miguel que vinha atrás dele e virou-se para enxergá-lo __ você pode ir, mas peço que não se afaste muito, nós não sabemos ao certo se existe algum tipo de perigo e caso lhe aconteça algo grite e o socorro será enviado.

Bernardo mal acabara de escutar as recomendações de Miguel e já tinha as esquecido, saiu correndo para bem longe do trem atolado o mais longe que suas pernas poderiam chegar, quando um vento gélido cortou sua espinha, o menino se arrepiou e ao longe escutou uma voz o chamando.

__ Bernardo, venha, venha ate aqui __ a voz parecia estar na mente do menino __ mais um pouco, você esta quase.

Bernardo não conhecia aquela voz, mas se sentia atraído por ela e resolveu ir a sua direção "mais um pouco, eu preciso de você" ficava repetindo em sua cabeça e sem perceber aquela voz o levava para um imenso vale congelado.

__ Estou aqui __ a voz sussurrou em seu ouvido e o menino se virou de imediato.

E lá estavam quem o chamara com duas imensas asas douradas, seus cabelos castanhos chegavam a sua cintura seus olhos de um azul profundo emoldurados em um rosto angelical, seu corpo era bem esculpido como um jovem atleta, seu rosto era lindo e delicado, sua voz era fria suave e delicada.

__ Quem é você? __ Perguntou o menino àquela criatura que mais parecia um anjo.

__ Eu sou um amigo __ respondeu o anjo com sua fria voz.

__Um amigo? Mais eu nem te conheço __ Bernardo não conseguia parar de encarar aquele anjo.

__ Mas eu te conheço e há muito tempo queria te encontrar __ o anjo se aproximou do menino e o envolveu em suas asas e o menino se arrepiou, não era medo, sentia certo prazer ao toque daquele anjo, não sabia explicar aquilo, seu coração disparou e suas pernas ficaram bambas __ você gosta de mim? Diga que sim.

__ Sim eu gosto __ a respiração do menino ficava cada vez mais ofegante.

__Então eu lhe darei muitas coisas é só você vir comigo __ a voz soava feito musica nos ouvidos de Bernardo.

__ Eu não posso, tenho que voltar para o trem __ o menino precisou reunir forças pra poder conseguir falar.

__ E por que você deseja voltar aquele trem, aquela é uma viagem longa demais, sem nenhuma emoção, pode ser muito perigosa e no final pra onde vai te levar __ falou o anjo com um sorriso malicioso em seu delicado rosto.

__ Não sei __ os pensamentos de Bernardo voavam para longe e não conseguia deixar de pensar no acidente sofrido pelo trem e se realmente ele era seguro.

__Venha comigo e eu lhe darei o mundo __ mais uma vez o anjo sorriu maliciosamente, mas o menino nada percebeu.

Bernardo não conseguia encontrar argumentos e no momento e que começara a estender sua mão direita para o anjo algo fez com que retomasse seus sentidos, uma voz chamou sua atenção.

__ Afaste-se do menino seu monstro __ era Miguel que e aproximava, em seus olhos Bernardo via uma fúria incontrolável.

__ Não __ respondeu friamente o anjo abrindo suas enormes asas.

__ Afaste-se, ele vem comigo __ berrou Miguel, sua fúria agora traspassava pela voz.

__ Ele é quem deve escolher com qual de nós ele irá __ Bernardo reparou que os olhos do anjo mudavam de cor à medida que ele falava passando de azul para vermelho. Vermelho como o fogo __ essa é a lei.

__ Não me fale da lei, eu tenho ordens de meu mestre pra levá-lo __ Miguel parecia ter escutado um palavrão.

__ Não, ele tem que escolher, essa é a lei, e o velho não está acima dela __ os olhos do anjo se enchiam de ódio.

__ O meu mestre não esta acima da lei, mas mesmo assim eu vou levá-lo e não vai ser você que vai me impedir __ Miguel gritava enquanto puxava Bernardo pelo braço.

__ Tudo bem __ o anjo recuou um passo para trás, abaixou suas enormes asas, seus olhos voltaram a ficar azuis e com um tom delicado e suave continuou __ eu abro mão do menino, mas por hora e fique sabendo desde já que eu vou voltar.

Uma rajada de vento cortou o vale gelado onde eles se encontravam e com um piscar de olhos aquele anjo sumiu em meio à neve.  

A volta do expresso polarOnde histórias criam vida. Descubra agora