Bom dia, princesinha - ela ouviu, sentindo seu ombro ser sacudido com cuidado. Resmungou qualquer coisa, incomodada, e se enrolou nas cobertas.
Ouviu a outra suspirar e logo as mantas quentes foram puxadas de cima de si.
- Está na hora de acordar, se você ainda não percebeu.
-Mais cinco minutos, Ymir - ela pediu com a voz sonolenta, enquanto se encolhia em posição fetal sobre a cama.
Deixou de ouvir qualquer som no quarto e pensou que estaria, enfim, em paz. Todo o sossego foi interrompido, porém, quando foi atingida com força por algo macio.
Pulou assustada da cama, olhando para a outra que lhe sorria vitoriosa com uma almofada nas mãos.
-Bom dia! Que bom que já está de pé. - ela largou o estofado.
-Isso não vale, Ymir. Você me assustou! - a loira reclamava, sob a risada da dama de companhia que voltava a se aproximar, deixando em cima da cama um cabide com um vestido xadrez de cores claras e mangas pretas.
-Vou esperar lá em baixo, com seus pais. - ela se afastou, parando para dar um último aviso - Não se atrase.
A loira mostrou a língua para a porta já fechada e suspirou, derrotada, exibindo um sorriso logo em seguida. A verdade é que gostava que a outra fosse a primeira pessoa que via pela manhã.
...
-Hora de acordar. - ela ouviu a voz distante, puxando sua consciência do mundo dos sonhos. A cada vez que dormia, o corpo parecia forçar-se mais a nunca acordar.
Sentiu o ombro ser sacudido com pouco cuidado, a mulher nunca era paciente. Abriu os olhos claros e a visão, já danificada, focou na mulher à sua frente. Roupas brancas, touca branca, até os olhos eram brancos graças aos óculos que usava.
Levantou-se apaticamente, abandonando a nuvem de sonolência em que se encontrava. A mulher a ajudou a trocar de roupas, tirou a camisola branca e colocou outra, também branca. Tudo era branco naquele lugar. Algo dentro de si talvez questionasse isso, mas sua consciência estava demasiado entorpecida para trazer às claras o questionamento.
A primeira coisa que pensou quando viu todos de branco, pela primeira vez, foi "fantasmas". Mesmo que o significado da palavra houvesse se perdido no tempo de sua mente, a associação ficou e assim ela os chamava nos pensamentos.
A mulher que a chamava quando dormia era um Fantasma. As outras duas que penteavam e desembaraçavam seus cabelos eram Fantasmas, os homens que a levavam para um salão vazio e iluminado eram Fantasmas.
Por pouco não achou que ela mesma era um fantasma mas, ao contrário de todos naquele lugar, ela tinha uma cor. Os olhos eram azuis. Não sabia quem era, porém. Toda e qualquer informação que buscasse em sua mente resultava em uma terrível dor de cabeça e, às vezes, alguns desmaios.
Disseram uma vez que ela era um anjo. Também não sabia o que era, mas era melhor do que ser fantasma, de modo que ela passou a se definir assim.
Os pés cobertos por uma sapatilha branca andavam a passos lentos pela sala onde vários Fantasmas operavam máquinas com pequenas luzes e bipes. Atravessou o enorme cômodo, conduzida ao salão iluminado, atrás de uma porta automática.
Já estava acostumada com a rotina. Naquele momento, em que entrava no salão, sua cabeça começava a latejar. Podia ouvir o som da corrente elétrica correndo pelos vários cabos do teto, mesmo que não fizesse a menor ideia do que seria aquilo, mas era um zumbido incômodo, no final das contas. Lhe causava dor, uma dor aguda que deixava sua mente em caos e guerra.
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Shelter - Ereri/Riren
FanficNum universo onde o sol se tornou uma ameaça à vida na terra, o Reino se ergueu enterrado debaixo do solo. A humanidade viveu nele uma era selvagem de tecnologias absurdamente avançadas e diferenças sociais profundas onde poucos foram os que tiveram...