Silêncio No Cemitério

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     Aos treze anos nunca havia tido contato com a morte, não fazia ideia o que era ver um cadáver, até chegar certo dia, ao voltar da escola, observei que havia muitas pessoas no portão de minha casa.

    Eu morava com o meu avô, nesse dia, ele havia falecido, e pela primeira vez na minha vida, eu tive que entrar em um cemitério.

    Foi então que me explicaram o que significava a morte, nesse dia, a vida para mim começou a fazer mais sentindo.

    Depois disso, fui morar com meus tios que moravam perto do cemitério, de início eu tinha um certo receio, mas com o passar do tempo, passei a ir todas as tardes neste cemitério, o silêncio do ambiente me trazia certa paz.

    As provas finais da escola, exigia certo tempo para estudar, nos intervalos eu procurava relaxar e caminhar entre os túmulos, observando as lápides, o ano da qual haviam nascidos, até a data de falecimento, reparava também em suas fotos.

    Me perguntava sobre o sentido da vida e se haveria vida após a morte.

    Anos se passaram desde então, havia me formado na escola, porém alguns hábitos permaneceram em minha personalidade, era reservado e com poucos amigos. Havia chegado a hora de fazer uma faculdade, me interessei na área da engenharia civil, me dedicando ao máximo aos estudos.

   Um outro hábito que persistiu foi o de frequentar o cemitério durante a tarde, com todo este tempo, já conhecia todos os funcionários que trabalhavam no local.

   Neste meio tempo, eu perdi minha mãe em um acidente de carro, seu corpo foi velado na capela deste cemitério, procurei ficar longe das pessoas que acompanhava o cortejo durante o velório.

    Todos se despediram, ao final do enterro, eu fiquei por alguns minutos, já que não havia mais ninguém a me esperar em casa.

    Foi quando um senhor se aproximou de mim, ele trazia em mãos um ramo de flores.

– Qual o grau de parentesco com o finado? – perguntou o senhor de voz grossa.

– Não é finado, é finada. Ela é minha mãe – respondi.

– Desculpe meu amigo, eu também acabei de perder alguém. Minha esposa.

    Conversamos por algumas horas, como já era tarde, nos despedimos e seguimos nosso caminho. Eu sempre voltava para aquele cemitério e sempre encontrava aquele senhor, com um ar sereno e o ramo de flores em suas mãos.

    Passamos a ter uma boa amizade, conversamos por horas, sempre me fazia companhia em minha caminhada ao observar as lápides.

   Anos se passaram, me mudei para outra cidade. Minha vida acabou se tornando rotineira, do trabalho para casa, e com pouco tempo de lazer, mas nunca deixei de voltar aquele cemitério, onde tudo permanecia igual.

   Voltei a minha cidade natal da qual tinha este amigo que a morte havia dado início a união.

   Após alguns dias, retornei ao cemitério, mas não encontrei aquele senhor, perguntei aos funcionários do cemitério e me disseram que ele viera a falecer há alguns meses atrás.

    Procurei pelos seu familiares, pois queria saber o que havia acontecido, eles me informaram que a causa da morte fora um ataque cardíaco.

    Fui ao cemitério para ver onde ele havia sido sepultado, até encontrar a lápide com sua foto.

    Não retornei mais naquele cemitério, pois não iria me acostumar sem a presença do meu velho amigo.

    Voltei para o meu trabalho e meus estudos, mas sempre pensava naquele episódio da minha vida, aquele senhor para mim era misterioso, passei a levar flores e velas em seu túmulo, mas para mim a vida continuava.

    Para mim aquele velho sempre esteve lá, mesmo não o vendo caminhar junto a mim.

    Antes do acontecido, eu escrevo está história e tudo que sei, acordei de um sonho ruim e estou neste lugar. Vejo o senhor que conheci e ele quer me dizer alguma coisa.

-Você tem que conhecer a verdade que jamais foi dita.

    A verdade era não tão absurda, não era um sonho apenas, era a passagem de uma transição da morte, isso foi dito por aquele senhor, em seu túmulo, não havia mais sua foto e sim a minha.

    Então tudo foi esclarecido, ele quem escrevia a história, era um método de alto poder, escrevia tudo que eu relatava, pois tinha perdido a vida, quando minha mãe morreu no acidente.

    Não me lembrava também que estava no carro, sobrevivi, apenas por um dia, mas permaneci em coma, agora sei que minha única lição de vida foi aquele senhor.

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