Túnel Do Necrotério

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    Eu sempre evitei passar por aquele lugar, mas hoje não tinha como fugir.

   Mas que lugar? O Túnel que liga o Hospital das clinicas com o IML do outro lado do hospital. Mas há muito tempo ele foi desativado, por culpa de alguns acontecimentos que ocorreu lá.

   E aqui estou eu, às 3 da madrugada com esse cadáver e sem nenhuma equipe de apoio, ou seja, o único jeito é ter que usar o túnel.

   Empurrando a maca pelo corredor deserto vou em direção ao único elevador que dá acesso ao túnel. Depois de ajeitar a maca dentro do elevador, a porta fecha e o arrepio toma conta do meu corpo. É um equipamento antigo e velho, a ferrugem já toma conta de toda extensão do metal, o cheiro de coisa pobre é evidente, e resquícios de sangue seco por toda parte mostra que o elevador já fora bastante usado.

   Diante aos 103 metros que vou ter que enfrentar, minhas pernas treme e todos os meus pêlos se erriçam, enquanto os barulhos infernais das correntes velhas do elevador se movimentam.

   Depois de uma demorada descida, as portas do elevador se abrem fazendo eco pelo corredor escuro, e nesse exato momento eu penso em voltar para o hospital e esperar por alguém, porém meu profissionalismo sempre fala mais alto e eu retomo o pouco de coragem que me restou e sigo em frente.

    A cada passo que eu dou, pelo barulho que faz, é como se eu tivesse andando de salto em um piso de mármore, vou empurrando a maca devagar quando ouço um som estridente que quase me faz perder o controle das pernas…

    Ufa, é só o elevador fechando as portas.

    Com as pernas ainda tremendo continuo empurrando a maca o mais rápido possível, e sempre observando o túnel escuro e sujo, a tinta já descascada, buracos e manchas nas paredes, mas o que mais me incomodava era um som crescente de alguém respirando como se tivesse cansado, a cada passo que eu dava meu coração batia mais alto e o som da respiração ficava mais alto.

   Eu já não conseguia me mexer quando uma enfermeira entrou no meu campo de visão, o alívio que eu senti foi tão grande que eu quase gritei de alegria, pelo menos tenho companhia nesse lugar, bom, pelo menos uma companhia viva.

    Eu fui de encontro com a enfermeira e perguntei:

– Nossa você quer me matar é?

   Ela me olhou assustado e foi logo dizendo:

– Não, jamais faria isso, só achei que iria querer uma companhia até o IML.

   Eu já mais relaxado, puxei assunto com ela e fomos andando, esqueci até que estava nesse lugar horrendo.

    Logo chegamos ao portão do IML e eu disse que iria voltar de ambulância pro hospital, a enfermeira, cujo nome é Luiza, disse que iria voltar pelo túnel mesmo, e já virou e foi indo, fiquei um tempo lá parado pensando na coragem dela e logo segui para o necrotério.

   Entreguei o corpo e assinei os papéis e falei para o legista já bem velha que estava de plantão:

– Nossa, eu estava vindo pra cá sozinho pelo túnel, se não fosse pela Luiza eu teria voltado para o hospital e desistido de trazer o corpo hoje.

    A legista com um olhar confuso e amedrontado me perguntou:

– Quem é Luiza?!
– Uma enfermeira que eu encontrei no começo do túnel e me acompanhou até aqui, ela só não entrou porque disse que iria voltar pelo túnel mesmo.

    A legista ficou me olhando com cara de quem estava procurando alguma piada, e depois falou:

– Ela não entrou porque ela está morta, existiu uma enfermeira chamada Luiza há muitos anos, mas ela foi assassinada pelo chefe dela, que logo após abandonou o corpo no túnel.

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