A Viagem

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   Havia algo estranho. Todos dentro do ônibus podiam sentir isso.
 
   Eles haviam saído de Belém no final da noite, em direção a São Luiz. A estrada era perigosa, todos sabiam disso.

   Havia perigo de acidentes, assaltos e muitas outras coisas. Mas não era tudo.

   Havia algo de sobrenatural e temeroso no ar, como se algo estivesse para acontecer, uma criança começou a chorar, a mãe colocou a cabeça da menina no peito, tentando conforta-la . 

   Lá na frente, perto do motorista, uma velhinha rezava, segurando um terço.
 
   O motorista suava e, de vez em quando, levava a mão à cabeça, como se houvesse algo que o incomodasse.
 
   De súbito, apareceu algo no meio da estrada. Parecia um carro policial. Dois homens pedia para que o ônibus parasse.
 
   O motorista se lembrou que era comum os assaltantes se disfarçassem de policiais e isso quando não eram os próprios policiais que praticavam os assaltos.

   "Não pare para eles!" - gritou um homem, entre lágrimas. "São ladrões!"
    "Vão matar todos nós!" - choramingou uma mulher.

   Apesar dos protestos, o motorista parou. Os dois homens entraram, armas na mão.
  
   "Todos parados!" - berrou um deles.

   Havia algo de estranho nos dois, como se fizessem parte de outra realidade. Seus corpos pareciam intangíveis.
 
   "São fantasmas, mamãe. São fantasmas!"  - gemeu a garotinha. "Eles vieram pra nos levar..."
"Os homens devem se levantar, e colocar as mãos pra cima." - ordenou o policial.

   Os homens, resignados, levantaram-se e deixaram-se revistar. Depois foi pedido que abrissem as sacolas. Os dois olharam tudo, depois saíram.
  
   "Boa viagem!" - disse um deles ao motorista, mas ele não respondeu.
    
   Na verdade, o motorista nem mesmo pareceu prestar atenção neles. Ele simplesmente fechou as portas, sinalizou e saiu.

   Os dois ficaram lá, parados no meio do mato, observando o veiculo se afastar. Um deles encostou no carro e acendeu um cigarro.

   "Sabe, eu não entendo o porque temos de ficar aqui, no meio desta estrada esquecida revistando ônibus..."
   "Você não soube... do ônibus que foi assaltado?"
   "Não eu estava de férias..."
   "Era um ônibus como este..."  - e apontou com o queixo o veiculo que já sumia no horizonte.
   "Eles pararam no meio do caminho para pegar um passageiro. Era um assaltante. Ele tentou parar o carro, mais o motorista se negou. Foi morto com um tiro na cabeça. O ônibus bateu então em um caminhão. Todo mundo morreu."

  "Sabe, agora que você me falou estou me lembrando de uma coisa estranha....O cabelo daquele motorista parecia manchado de sangue..."
  "Você...você anotou a placa?" gaguejou o policial.
  "Claro. Está aqui. É  F 13320."
    O outro ficou lívido.
  "Era... era o ônibus do acidente!" respondeu o policial pálido.

   Era a repetição da última viagem daquele ônibus, naquela estrada assombrada, que se repetiria pela eternidade afora...

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#Tamos_Juntos_é_Nois.

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