― Vamos descansar. Amanhã chegamos no acampamento. ― Disse Liam e todos os garotos concordaram se sentando. Estávamos realmente mortos de tanto andar.
Comi em silêncio por algum tempo depois de alimentar Gus e observei os meninos deitando para dormir. Aparentemente, era um consenso entre todos que as primeiras horas da noite ficavam a cargo do tenente.
― O que vai acontecer comigo quando entrarmos no acampamento? ― Consegui falar fitando o céu estrelado.
A verdade que me consumia por dentro era saber porque diabos eu estava no passado, o que eu tinha que aprender naquelas décadas tão longe das minhas e quando eu voltaria para a minha vida triste, desesperançosa, mas, pelo menos, parte de uma década que eu conhecia, com coisas que eu conhecia, longe de uma potencial guerra onde eu poderia morrer muito antes de sequer voltar para casa.
― Provavelmente vão te interrogar sobre o que você sabe e porque estavam te mantendo em cativeiro. Vão querer dados para vencer a guerra ou qualquer coisa do tipo. Afinal, o que uma brasileira está fazendo em plena Europa sem ser médica ou em ajuda humanitária? ― Liam parecia refletir sobre o que falava. ― E afinal? O que você está fazendo na Europa?
Silêncio. Eu não sabia como responder aquela pergunta sem deixar o clima muito estranho. Eu não sabia como explicar ou o que explicar. Mas... E se me torturassem para conseguir uma resposta que eu não tinha? Ou se ao ser torturada eu contasse que vim do futuro? O que poderia acontecer a minha pessoa se descobrissem isso?
― Você não se lembra? ― Perguntou Liam virando o tronco na minha direção. Sob a luz da lua, percebi que ele parecia assustado com essa ideia. Assenti levemente e ele continuou olhando para os meus olhos como se de repente estivesse vendo minha alma.
― Eles não vão aceitar que você não se lembra. Você precisa lembrar de qualquer coisa... ― Ele pousou as duas mãos firmes sobre os meus ombros, pressionando levemente enquanto me sacudia. ― Qualquer coisa, qualquer coisa, se não...
― Se não... ― Minha voz quase deu uma falhada ao imaginar o que Liam não tinha coragem de falar.
― Se não... ― Ele repetiu novamente parecendo tentar criar coragem.
― Se não eu vou ser torturada, não é mesmo? ― Seus olhos continuaram focados nos meus e eu percebi que suas bilhas brilhavam ainda mais, talvez pelas lágrimas que ele segurava enquanto ele assentia.
A vida era uma coisa engraçada e horrível de viver. Demorei para perceber que estava chorando por saudade dos meus pais, por saudade de um século que ainda não tinha vindo, por saudade da paz que era a minha vida e de tudo mais que doía no meu coração de saudade ao pensar. Só fui perceber mesmo quando Liam, quebrando qualquer etiqueta que pudesse haver entre homens e mulheres naquela época, me abraçou confortando-me enquanto eu chorava copiosamente.
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A Grande Guerra e o Amor.
RomanceLuísa já estava desistindo da vida quando foi levada para o meio da Grande Guerra, como era conhecida na época a Primeira Guerra Mundial. Liam, por sua vez, não desiste de viver, pois apesar dos intempéries, acredita que Deus tem um propósito para...