Capítulo 3

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 Minhas pernas parecem ter sido moídas quando voltamos a caminhar no dia seguinte

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Minhas pernas parecem ter sido moídas quando voltamos a caminhar no dia seguinte.

Não sei exatamente para onde estamos indo, não faço ideia de como vim parar na Europa e até aproveitaria e desfrutaria do fato de ser a primeira vez que eu estaria fora do meu país se não tivesse certeza de que daqui 100 anos a realidade das terras nas quais caminho será muito diferente.

Gus está dormindo no meu colo e eu já não reclamo mais de dor nos braços. Estamos todos em situação precária, com fome, com dor. Além do mais, se Liam consegue aguentar um homem de setenta quilos nas suas costas, eu consigo aguentar uma criança de vinte quilos nos meus braços. Ao menos tentarei com todas as minhas forças.

Paramos para almoçar e enquanto os meninos parecem avaliar o machucado do amigo que certamente amputará a perna, Liam tira os coturnos que usa para aliviar os pés doloridos. De fato, com a roupa que estou hoje, me sinto bem menos desgastada e com menos frio do que no dia anterior.

― Para onde estamos indo? ― Aproveito para perguntar me sentando ao lado de Liam.

― Para oeste.

― Oeste?

― Oeste, para próximo das terras francesas.

Agora que o céu está bem firme no horizonte, consigo observar melhor o tal de tenente Liam. Seus cabelos eram castanhos bem escuros e os olhos eram azuis bem brilhantes. Não aparentava ter mais do que vinte e cinco anos, muito embora parecesse estar em bastante forma. Desviei o olhar antes que ele me pegasse o encarando.

Acabei voltando minha atenção novamente para ele quando o vi fechando os olhos e rezando antes de comer. Não sabia dizer porque estava em choque, talvez porque na época onde eu existia – ou quem sabe com as pessoas que eu convivia – não fosse comum encontrar um garoto religioso.

― Acredita em Deus? ― A minha pergunta pareceu ser carregada de desdém na fala e não era para menos: Eu não conseguia acreditar em um Deus que permitia que a Guerra existisse ou que tantas pessoas passassem fome ou que pessoas boas ficassem doentes ou até mesmo que eu tivesse sido adotada por uma família boa, mas pudesse desenvolver qualquer coisa do tipo que me tirasse dela. Esse não era um Deus no qual eu queria acreditar e por isso mesmo eu preferia nem acreditar.

― Sim, você não? ― Ele perguntou abrindo um sorriso para mim. Apertei um lábio sobre o outro.

― Não. ― Me limitei a dizer.

― E posso perguntar porque não? ― Suspirei.

― Esse seu Deus está te mandando para a Guerra. Esse seu Deus não olha para todos os seus filhos, porque se olhasse viria muitas pessoas boas sofrendo desnecessariamente. ― Quase me senti uma verdadeira rebelde protestando contra Deus, mas para ser bem sincera, eu só estava cansada de pensar em como a minha vida seria mesmo que eu voltasse para o futuro. E se eu desenvolvesse a tal doença hereditária? E para que continuar vivendo se eu simplesmente poderia estar vivendo uma ilusão lutando por uma vida que no fim não me levaria a nada? Eram muitas dúvidas que esgotavam-me pouco a pouco.

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