Vinte

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Tóquio sentiu um súbito frio na espinha quando olhou para o prédio a sua frente. Esperava não encontrar o seu pai, mas isso era bastante improvável. Contudo, contaria com a sorte.

Se é que ela tinha alguma.

Seus passos eram nervosos de encontro com o edifício, passou pela recepção sem problema algum, tão logo subia para o último andar. O da presidência. Suas mãos suavam, seu lábio era constantemente castigado por suas mordidas e seus pés se moviam freneticamente dentro do elevador. Não tinha mais chantagens na manga e de fato, não tinha ideia de como iria convencer ao seu irmão a ajuda-la. Papo sentimetal? Amor de irmãos?

Talvez, se houvesse algo do Ed, seu irmão, naquele Edmundo Blake, ele se comoveria e a ajudaria. Costumava ser assim. Mas e se não? E se não tivesse restado nada do garoto que ele foi? Então ela estaria oficialmente ferrada.

Quando a porta do elevador enfim se abriu ela prendeu a respiração e ajeitou a postura. O jeans negro que vestia fora afofado por suas mãos assim como a blusa branca de mangas. O escritório de seu pai era no outro corredor, a garota de fios loiros verificou e suspirou aliviada por estar fechada.

Que ele esteja e fique por lá.

Ela voltou o olhar para a porta com "Edmundo Blake" gravada em dourada. Respirou fundo antes de forçar os seus pés a se moverem até la. Havia um pequeno corredor que levava até a porta, neste jazia uma pequena mesa e dois cactos, também um quadro bem acima.

É claro que haveriam cactos.

Ela parou em frente a porta, observou o nome do irmão gravado em um dourado bem polido e brilhante, e então ergueu a mão para bater, mas ela congelou. Ouviu uma fungada, soou como choro. Sua mão estava suspensa no ar, seu cenho franzido.

— Hoje é um dos dias em que eu não consigo respirar. — a voz de Edmundo soou abafada através da madeira — eu não sei mais lidar com toda essa merda... não tenho sido eu ja faz um tempo e isso me mata um pouco a cada dia.

— Conversar sobre isso pode ser a solução. Apenas uma conversa — era outra pessoa. Uma mulher.

Tóquio estava surpresa pelas palavras de seu irmão, foi como se algo houvesse a atingido fortemente, porque o seu peito ja começava a apertar. Ele estava chorando. Porra, o Edmundo estava chorando.

— Não é o que eu estou fazendo?

— Sabe que não é comigo com quem irá resolver isso. — a mulher soou firme. Estava totalmente neutra e passiva.

Tóquio ouviu passos, e então houve um pequeno silêncio.

— Como dizer aos meus pais que eu não me importo com tudo o que construíram e não quero essa porcaria de empresa? Que eu sequer desejo trabalhar aqui? — ele riu mas não havia humor — você não faz ideia do quanto minha mãe ficaria desapontada.

— Ela ama você, Edmundo. Ela te amaria qualquer jeito, ela é a sua mãe! Um trabalho diferente não anula isso... ela ainda amaria você.

Silêncio outra vez. Mas esse pareceu maior, esse foi maior.

— Eu não tenho tanta certeza disso.

Tóquio tinha o peito apertado, seu coração corroía aos poucos com cada palavra que saíra da boca de seu irmão ecoando em sua cabeça. Que porra havia acontecido para que tudo se tornasse tão quebradisso? Estava desnorteada, a mente dando um nó, mas não tanto quanto o seu coração. Afastou-se um pouco da porta, deu alguns passos para trás e fechou os olhos com força, se arrependendo disso no minuto seguinte quando sentiu as suas costas se chocarem com o cacto e a mesa, também quando o barulho da queda da planta ecoou pelo corredor.

Petricor| RETA FINALOnde histórias criam vida. Descubra agora