Capítulo 1.

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Capítulo 1.

O relógio na escrivaninha estava parado e eu não tinha ideia de quando isso aconteceu. Caminhei enrolada no roupão até lá para colocar pilha nova, mas ao tocar nele senti a eletricidade me atingir como o ferrão de uma abelha.

A estática irritante foi vencida e troquei a pilha do relógio e ajustei a hora com o meu celular. Quase hora do jantar, vesti uma blusa de manga comprida azul ciano por baixo de uma camiseta roxa, leggings pretas sob um short jeans cinzento.

Enquanto meus pés secavam, tentei pentear meus cabelos, mas havia tanta estática no ar que quanto mais eu os penteava e secava com o secador, mais armados e encaracolados os fios castanhos ficavam. Aborrecida enrolei meus cabelos na toalha e passei rímel marrom nos cílios loiros claros, que me faziam ter cara de sono o tempo todo, calcei as meias e meus tênis e só depois, voltei a tentar domar meus cabelos.

Sai do quarto e dei de cara com Meera prestes a bater na minha porta. Minha melhor amiga sempre passava no meu quarto antes de descer os para jantar. Ela sempre vestia roupas tradicionais indianas na escola, mesmo na sexta feira casual. Ela dizia que era importante mostrar que ela não havia esquecido suas raízes.

-Bonita roupa. - Comentei seguindo ao lado dela enquanto seguíamos pelo corredor.

-Você também está bem. - Ela respondeu e olhei melhor a bata azul ciano de manga longa sobre uma blusa fina branca, calça comprida de tecido e sapatos decorados com dourado e azul.

-O que fez no cabelo hoje? - Pergunto observando seus fios longos e morenos enrolados e subindo como loucos com a estática.

-Estava sem paciência, então só fiz uma trança. Acredita que levei choque da porta do banheiro?

-Eu levei do relógio da escrivaninha. - Ri sem muito humor enquanto nos juntamos a uma horda grande de alunos em roupas casuais caminhando em direção ao refeitório. - Acha que vai chover hoje?

-Melhor hoje que amanhã. O baile dos calouros é amanhã. - Ela observou enquanto entrávamos na fila.

Nossa escola era conhecida na cidade próxima, e no resto do país, como uma escola para gênios, mas nós somos apenas adolescentes normais com pais ricos. Não tínhamos panelinhas, exceto as dos grupos extraclasse e o ambiente comum era sempre tranquilo e cheio de adolescentes correndo, caminhando ou aproveitando o dia quando havia sol. O baile de início do ano letivo aconteceria no dia seguinte, próximo às festividades de Páscoa.

Meera e eu frequentamos as mesmas escolas desde sempre e estávamos nas mesmas aulas. Até nascemos no mesmo dia. Nossos pais eram sócios em uma empresa de arquitetura em Londres, e amigos antes disso. A mãe dela era indiana também e Meera tinha três irmãos mais novos e um mais velho. Minha mãe é britânica, uma socialight rica que casou por interesse do pai na firma do meu pai e eles só tinham a mim e meu irmão mais novo, Johnny de oito anos. Meera e eu éramos praticamente gêmeas em termos de personalidade, mas fisicamente diferentes. Ela já tinha 15 anos enquanto eu completaria muito mais adiante no ano. Seu cabelo escuro estava preso numa trança apressada que caia até seu quadril enquanto os meus estavam soltos num rabo de cavalo com cachos apontando em todas as direções por causa da estática.

-Não seja idiota. O ar está seco, por isso tanta estática. Não vai chover.

Meera fechou a cara e suspirei dramaticamente antes de virar para encarar o entrometido. Jesse Stone, filho de um senador. Rebelde sem causa, riquinho metido a besta, padrão cis.

-E de ser idiota você entende muito bem, não é mesmo? - Comentei pegando uma bandeja, prato e talheres.

-Você me conhece bem de mais. - Ele diz sorrindo e abaixou para beijar minha testa e o empurro para longe.

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