Capítulo 4

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Capítulo 4.

Sentei atordoada, me afastando cega pra longe e sentindo muita dor de repente. Arfei com a fisgada. Todos os músculos em meu corpo protestavam. Jesse veio até mim e segurei seu uniforme hospitalar.

-Jesse, me ajuda. -Implorei. Sentia muita dor, meu abdome doía, minha cabeça doía, meu peito apertava.

-Doutora, está piorando! -Jesse chamou e a médica estava de volta.

Eu não conseguia respirar, sangue entrava pelo meu nariz e então saía e eu tossia, engasgada. Agora Delly também chorava sangue e entrei em pânico. Chorei enquanto o sangue fluía como se tivessem ligado uma torneira em meu nariz. Um outro médico adentrou a sala e começou a me analisar também.

-O que está acontecendo comigo? -Implorei. Com pouco mais do que alguns toques em meu corpo dolorido ele respirou fundo, conformado. Aliviado até.

-Você está morrendo, isso é excelente. -Ele disse, anotando algo em uma prancheta. Engasguei e Jesse xingou, abraçando-me com força, enviando agulhadas por todo o meu corpo ao que engasguei um grito. -Procure manter a calma, estamos otimistas quanto a isso.

-Otimista é meu ovo! -Delly gritou. -Ela está morrendo!

-Sim, mas não se preocupe. Outras cobaias passaram pelo mesmo processo.

Jesse de repente não estava mais ao meu lado. Ele se tornou um borrão que se ergueu, agarrou o médico pelo colarinho e lhe deu um soco. O estalo que o nariz do médico fez ao quebrar revirou meu estômago e virei meu corpo de lado para vomitar. Mais sangue no chão, junto com pedaços de algo que eu não queria identificar.

-Ela não é uma cobaia, seu velho escroto! -Ele xingou. Um soldado engatilhou a arma novamente e Jesse recuou um pouco. Delly soluçando aproximou-se de mim e segurou minha mão. Sorri para ela.

-Queria ter tido mais tempo. -Eu disse e ela engasgou. -Você parece legal.

Jesse voltou ao meu lado e me puxou para si num abraço trêmulo. Ele xingava e amaldiçoava sem parar enquanto segurava meu tronco mole em seu colo, nos balançando para frente e para trás. Logo, eu não ouvia mais nada além de minha própria pulsação diminuindo até não haver mais nada.

Abro meus olhos para encontrar a escuridão fria e metálica ao meu redor. O ar é tão gelado que vejo mini cristais de gelo acima da minha cabeça. É então que percebo que aquilo não é bem uma cama. Isso... É um caixão? Em pânico, chuto e grito pedindo por ajuda, esmurrando a esmo com medo. O metal ao meu redor amassa com meus socos e chutes, e uma porta abre ao que me empurro para fora. Saio da prateleira onde estou deitada e caio sentada, minhas coxas fazem um baque surdo quando atinjo o chão e olho ao redor.

Estou nua, percebo agora. Nua e assustada, mas pelo menos não tem nenhum rastro de sangue em minha pele que eu possa ver. Toco minha pele e aperto, mas está tudo gelado e apenas o chão está levemente mais aquecido. Meu corpo dói para se mover e começo a chorar abraçada a mim mesmo. Estou sozinha em uma sala branca coberta de portas quadradas em uma parede, uma das gavetas aberta e bastante danificada, a da qual acabei de sair. Há um jogo de luzes no teto, está desligado, com algumas lâmpadas de LED nos cantos. No centro da sala há duas mesas de metal com baldes embaixo e entre as duas, um carrinho quadrado de metal com ferramentas, panos e outros materiais.

É em um necrotério. Agora eu lembro. Eu morri. Choro sozinha, abraçada a mim mesma, debruçada sobre minhas pernas. Nenhuma lágrima rola de meu rosto e minha garganta está dolorida de gemer e chorar. Minha boca está seca e minha pele está fria. Não sei quanto tempo passo sozinha. Horas? Minutos? Quando um funcionário finalmente entra, estou quieta ainda abraçada a mim mesma em um canto mais escuro, já que as luzes de LED todas miram o centro da sala, deixando os cantos mais confortáveis. O funcionário grita e sai da sala as pressas.

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