Capítulo 3.
Quando acordo, a luz machuca meus olhos. Acima de mim, tudo está colorido de violeta e laranja. Minha garganta queima e me sinto enjoada como se tivesse bebido água quente. Minha boca e minhas mãos se sentem como se eu tivesse comido algo doce e deixado derreter e não tivesse lavado, estavam grudentas e pegajosas, com uma sensação curiosa de estar usando batom seco ao redor da boca e luvas. E então eu finalmente percebi que estava olhando para o céu. Levantei rápido em pânico cego, e observando a cena diante de mim deixei atingir meu cérebro e além do enjôo, agora eu também sentia vertigem.
-Ela acordou. -Alguém anunciou, mas eu olhava para baixo agora e não vi quem foi.
Sangue cobria o gramado da escola, bem como meu vestido esfarrapado, o tecido adquirindo tons de púrpura e negro e marrom de lama escura. Eu não sabia onde estavam minhas sandálias, não me importei de procurar, tampouco. Comecei a hiperventilar e finalmente reparei em minhas mãos cobertas de lama e sangue e tentei limpá-las na saia. Olhei ao redor em busca de explicações, socorro ou qualquer coisa, haviam pessoas com roupas anti radiação ou algo assim. Estavam cobertas dos pés a cabeça com os tecidos e máscaras rosa, óculos de segurança. A cena da investigação do E.T completa com a tenda rosa de lona mais adiante, com um túnel transparente se estendendo desde a porta.
Alguns de meus colegas estavam ensanguentados sentados no chão com cobertores prateados. Olhavam para mim com olhos vidrados que eu não sei se encaravam a mim ou o nada. Exceto Jesse e Adan. Alguns deles choram soluçando em silêncio, mas não esses dois. Jesse parece em choque, seus olhos encarando o chão numa expressão vazia. Adan me olha como se eu fosse algo grotesco e assustador. Me encolho sob seu olhar e abaixo o olhar de volta para o sangue que me cobre. De quem é?
-Se sente bem? -Uma voz eletrônica e abafada fala perto de mim. A pessoa ajoelha-se ao meu lado. -Você lembra de alguma coisa?
-O que... -Eu tento mas minha garganta dói. Levo a mão até meu pescoço.
-Está com sede? -Fiz que sim com a cabeça e a pessoa disse algo no rádio e logo uma pessoa trouxe uma garrafinha de água e a entregou para mim. Bebi com avidez mas cuspi tudo. Tinha gosto de água sanitária.
-O que é isso!? -Grito, minha voz sai esganiçada e rouca.
-Era apenas água. -A pessoa que me entregara a garrafa disse e a pessoa diante de mim estalou a língua.
-É claro. Morse, traga a outra bebida. -Ela disse e Morse saiu. -Você lembra de alguma coisa? -Ela perguntou ligando uma lanterna diante de meus olhos.
A luz queimou como se ela tivesse jogado gasolina em meus olhos e ateado fogo. Gritei e cobri os olhos me encolhendo para longe dela. Ela murmurou um pedido de desculpas e puxou meus braços para me trazer para perto de novo. Depois pediu que eu seguisse seu dedo com o olhar. Abri os olhos, mas não via nada além de ofuscante tons de azul, verde, amarelo e vermelho. Um ponto amarelo sacudia diante dos meus olhos.
-O q... O que aconteceu com me-meus olhos? -Eu perguntei, a voz trêmula e gaga. Senti meu corpo inteiro tremer e eu sabia que algo horrível estava acontecendo.
-Eles voltarão ao normal logo. -Ela disse mas eu ainda hiperventilava e a vertigem aumentou.
-Aqui, beba isso. -Era Morse de volta com outra garrafa. Esta, no entanto, brilhava suave em amarelo escuro, quase laranja. Bebi com avidez, o gosto não era muito bom, mas pelo menos não era água sanitária.
-Se sente melhor? -A mulher perguntou e abri os olhos para encontrar tons de vermelho que foram se tornando formas e contornos nítidos até minha visão voltar ao normal, e percebi que o que eu via antes como rosa, era na verdade branco, e meu vestido, que via roxo, continuava com a mesma cor, mas enlameado e manchado de marrom lama e marrom escuro.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Malha de Prata
Fiksi UmumUm experimento de um laboratório é lançado no ginásio de uma escola do exército britânico e adolescentes são transformados em armas biológicas. Mantidos em segredo do resto do mundo e de seus pais, os estudantes e alguns professores são levados para...