Não estamos pecando.

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Acordei pela manhã no susto. A Madre Superiora estava em pé parada atrás da porta fechada me olhando com os olhos mais escuros que antes, e com uma cara mais brava ainda. Será que passou da hora de acordar? Olhei para a janela e ainda estava de noite. Não parecia ter me atrasado. Porque ela estaria aqui? Com os braços cruzados abaixo do peito e com uma das sobrancelhas arqueadas, resolveu se pronunciar:

- Bom dia, irmã. Pensei que se atrasaria no seu primeiro dia. Vejo que estava enganada.

Será que é bom dizer que acordei no susto?

- Bom dia, Madre. Obrigada pela observação. Estou levando a sério isso.

- Ótimo. Levante-se e vista seus paramentos. Vamos tomar café e de lá vamos conversar para tentar descobrir o chamado de Deus para a sua vida.

Depois do café e rezarmos por quase uma hora na capela particular das freiras, seguimos para o jardim onde tinha várias irmãs caminhando e conversando.

- Então, irmã. Me conte exatamente o porquê da sua vontade de dedicar sua vida a este lugar, aos irmãos e a Deus.

- Eu não me adaptava com as coisas do mundo lá fora. Minhas amigas que resolveram conhecer as maravilhas carnais, como elas dizem antes do casamento, me contavam como é bom se envolver com homens. Eu nunca senti vontade e interesse nisso. Nunca senti vontade de beber aquela cerveja que tem um cheiro horrível. Nada me prendia ou chamava atenção. Cheguei a conclusão de que me tornar freira seria a minha vocação. Aqui eu me sinto a vontade e sinto que fiz a escolha certa.

Continuamos andando enquanto ela parecia pensar. Eu fui sincera em tudo o que eu falei, ocultando a parte em que estava nervosa, sentindo que algo aconteceria mais a frente.

- Entendo, irmã Arizona. Comigo foi meio parecido. E para o que você acha que Deus te chamou? Já tem alguma ideia?

- Hum.... - Pensei. - Ainda não. Estou tentando descobrir bem antes de vir para cá. Rezo todo o tempo para cair uma luz sobre minha cabeça e me mostrar, mas ainda nada. Eu espero descobrir com o tempo.

- Entendo. Sabe que não há nada de errado em apenas dedicar sua vida não sabe? Mesmo que não tenha nenhum chamado para você.

- Sim, eu sei. Isso me conforta. Mas ainda quero levar um tempo para ver se consigo descobrir.

- Ótimo.

E continuamos caminhando até chamarem ela e eu ir fazer o que me foi passado.

O tempo que passei fazendo minhas obrigações pelo convento me concederam ótimas companhias, onde conheci irmãs amorosas e algumas meio loucas, mas de ótimos corações. Não me sinto deslocada mais. Não que eu me importe com isso, mas é bom ter alguém para conversar de vez em quando.

O jantar foi posto em um grande salão, havia duas mesas extensas para que todas pudessem se sentar sem se preocupar em ficar de pé. Quando me sentei perto das moças que tinha conhecido, elas logo trataram de puxar assunto comigo.

- A paz de Deus, irmã. Está gostando daqui?

- Sim sim, é perfeito.

- Soube que está ficando no sótão, não é assustador lá?

- Não... Na verdade é muito bom, e transmite uma paz grandiosa. Dá para rezar muito, como diz a Madre. - dei uma risadinha.

- Estranho. A Madre sempre dá um jeito para que todas as freiras fiquem nos quartos. Porque ela quis que você ficasse lá? É do outro lado dos nossos aposentos. Se caso acontecer algo e você gritar, nunca que iremos saber.

Franzi a testa. Também não entendi isso. Mas como recebi uma advertência ontem não iria mais questionar a Madre sobre isso.

- Eu também não entendi. Mas não falarei nada sobre isso. Ontem falei sobre isso para a Madre, e ela me mandou rezar bastante para Deus me perdoar pela língua grande.

Madre SuperioraOnde histórias criam vida. Descubra agora