Arquivo 001 - Abandone toda a esperança

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Por: Eugênio Bravin - Interpretando Filippo, o Mafioso, morto logo após firmar um pacto com um dos 72 demônios da Goetia.


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No princípio, as trevas se fizeram presente em minha pós vida.


A vida carnal me acompanhou pro além túmulo e lá desejei que o pacto jamais tivesse sido feito.

 

No primeiro dia descobri que viveria uma eternidade de sofrimento e dor. Meus olhos, vendados, aumentaram em milhares de vezes a sensação do toque deles. A dor lancinante de ser mastigado vivo pelos pontiagudos dentes de meus algozes me fez vomitar e descobrir que meu suco gástrico era a única coisa que me nutriria pra eternidade e pela primeira vez em minha existência eu desabei. Não me tiraram a venda em momento nenhum...ou eram minhas pálpebras que foram costuradas para que eu experimentasse o suprasumo da Dor? Chorei, gritei e clamei por Deus, mas lá nos Confins do inferno, é o Diabo que detém morada e não há mais quem possa ouvi-lo.


No segundo dia, se fez presente o desespero. Uma figura decrépita, de aventais sujos de sangue seco com os próprios dentes desfazia a costura das pálpebras e se deliciava com a remela e o pus da sutura. A língua bifurcada e áspera, sibilava e proferia heresias enquanto minhas lágrimas lubrificavam o desespero líquido amarelo de odor fétido. Vomitei novamente e meu algoz lambeu cada gota como um manjar servido pelos próprios príncipes do inferno.Meus olhos se abriram e aos poucos se adaptaram melhor a penumbra que cercava minha câmara. Meus algozes, famintos, para meu desespero eram meus pais, tios e todos aqueles que jurei amar em vida! Agora, estes que estavam nus, se masturbavam enquanto eu gritava por clemência a Deus. Eles gargalharam e eu senti meu desespero...palpável...súbito...implacável.Seu banquete de carne estava servido e odor pútrido de suas fezes se misturava ao torpor da minha dor. Um deleite de prazer e agonia os fez ter uma fome voraz e meu órgãos enchiam suas barrigas profanas. Nesta dessa dança canibalesca, o momento de clímax chegara e fui preenchido pelo gozo mal cheiroso dos meus carrascos. O liquido de um branco transparente se acumulavam em poças em minha caixa torácica aberta e estes gargalhavam e se deliciavam deste coito maligno. Morri novamente por não suportar a dor que me invadia.


No terceiro dia, O Diabo contemplou a chance de mostrar para mim os fraudulentos que assim como eu, faziam fortuna sobre os de boa-fé. Dez grandes valas circulares jaziam com os corpos dos oportunistas e grandes capatazes chifrudos chicoteavam suas vítimas. A mim, não foi dada a oportunidade de sofrer, mas de chicotear aqueles cuja a ganância fora o princípio fundamental da vida. Por quê eu, Samael? Qual o motivo de fazer esses desgraçados sofrerem pelas mãos de um semelhante? Não levantei o açoite em nenhum momento e a decepção ou regozijo se fizeram presente na face dos Senhores daquele Local. Em uníssono, o coro maldito condenou-me a sofrer a pena do enclausuramento seletivo. Minha cabeça fora enterrada naquele solo infértil até o pescoço. O sentimento claustrofóbico do ar faltar as narinas era aterrorizante. Agonia preenchia meus pulmões ao invés de oxigênio e subitamente senti o abraço mortal...Um grande ser escorregadio e delgado se entrelaçou em cada centímetro de meu corpo e a sinfonia de ossos fez sua estreia nessa Orquestra dos Infernos. Como um tenor bem ensaiado, fiz o máximo para acompanhar o Maestro, mas o retumbar do sofrimento só poderia ser apreciado pelos vermes desta terra negra. Meus ossos estalaram e senti a bocarra da criatura destruir e separar músculo...ossos.... tendões. Deus não existia neste plano e as minhas súplicas não seriam ouvidas... me dei conta de que a Esperança era uma adaga sem fio. Seu corte cego jamais aplacaria ou destruiria a agonia pungente da minha alma. O sangue encharcou a terra sobre minha cabeça e o cheiro de ferro inebriante atiçara os vermes amarelados como pequenos filhotes de moscas em busca de sustento. Uma voz suave e melodiosa em minha cabeça entoou antes que eu desmaiasse: - Abandone a esperança minha criança e a oportunidade de ser um Maestro dessa Orquestra surgirá. Tu sentirás conforto e consolo sobre minhas asas pois AQUI eu sou o Alfa e o Ômega. Tu me deves obediência resoluta pois Teu salvador foi morto e Teu Pai nutre ódio colossal por ti.


...No sétimo dia, o Diabo descansou e vislumbrou a sua obra. Eu não era mais um torturado...Eu era o algoz que uivava heresias enquanto glorificava a carnificina.Me banqueteei da carne do meu próprio pai e fiz questão de apreciar cada litro de seu sangue...Me tornei um sommelier que com presteza sabe das benesses que o vinho vermelho traz para alma decaída.Gozei litros de pus sulfuroso na órbita ocular da cabeça decepada de minha mãe e fiz questão de esfacelar seu cérebro a cada estocada. Ali me tornei o semeador herético e sei que se essas brotarem em chão fértil, maravilhosas árvores de puro terror crescerão frondosas.Minhas vestes de gala para a despedida dessa Orquestra são ornamentadas com sangue, suor e lágrima dos meus inimigos. Como o último capítulo do meu ato glorioso, recebo os aplausos daqueles que sucumbiram à loucura da sinfonia que comandei por toda eternidade. Minha irremediável selvageria fez do meu corpo esquálido um involucro de pura loucura, vingança. Uma eternidade de dor e agonia me fizeram crer em só um fato:Tornar-se um demônio é um preço baixo a se pagar para que a humanidade não sucumba ao que nós, os pecadores e renegados fomos sujeitados aqui. Não se engane, eu não busco a destruição da humanidade...somente planejo e busco atingir a 3 objetivos: Primeiro, devolver a gentiliza ao meu algoz de encaminhar-me ao Inferno; Segundo, colaborar com a humanidade na luta contra os males ocultos que estão aquém do inferno e terceiro e não menos importante de trazer a ruína do reino de Deus e destes diabos que me atormentaram nessa agonia sem-fim.

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⏰ Última atualização: Apr 20, 2020 ⏰

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