02. shut up, demon

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Tudo o que Kate conseguia sentir era ódio. Passava a maior parte do tempo chorando em seu quarto e quando finalmente resolvia sair, acabava descontando a raiva nas duas garotas.

Kate acabou se tornando uma mulher fria e agressiva e aquilo só piorava quando ela olhava para baixo e via sua barriga, ou quando o pequeno Ruel se mexia na barriga. Ela o odiava.

Era um ódio mortal. As vezes quando acordava na madrugada com os movimentos do bebê, ela sentia vontade de pegar uma faca e perfurar a sua barriga, ela só queria que ele saísse dali.

E então Kate se lembrou de uma amiga que realizava abortos, em uma clínica clandestina mas ela sabia que a amiga era de confiança.

Ela estava nervosa e aquilo refletia no bebê, que parecia nervoso e não parava de se mover na barriga, irritando Kate ainda mais, que mal via a hora de não ter mais nada ali dentro.

Fica quieto, demônio. — Ela sussurrou, dando um tapa em sua própria barriga.

As outras mulheres da sala a encaravam como se ela fosse um alienígena afinal sua barriga era gigante, ao contrário de todas elas, que a barriga mal era visível.

Kate ignorou os olhares e agradeceu aos céus quando finalmente entrou no consultório. Abraçou a amiga de longa data e assim que sentou-se em uma das cadeiras da sala, recebeu aquele olhar assustado mais uma vez.

— Eu...certo, por favor me diga que o aborto não é para você.

— É claro que é. — Kate deu de ombros, a amiga era a sua última esperança. — Você sabe tudo o que aconteceu comigo Lily, eu odeio esse bebê.

— Quantos meses?

— Seis.

— Seis meses? Você só pode ter enlouquecido! Seis meses é muito arriscado, Kate.

— Eu sei que é tarde mas não me importo, eu só não quero ter esse demônio crescendo dentro de mim.

Os olhos da mulher marejaram, ela não estava chorando por sentir tristeza e sim por ódio. Ela queria acabar com aquele problema logo.

— Você pode morrer!

— E o que eu tenho a perder?

— Você tem duas filhas que dependem de você, pense nelas antes de dizer coisas tão absurdas. — Lily a repreendeu, quase não acreditando nas coisas que estava escutando.

Kate se sentiu culpada, ela amava as duas meninas mesmo que elas a irritassem as vezes. Porém odiava o menino, era como se ele estivesse sugando todas as suas forças e a fazendo perder toda a pouca sanidade que ainda lhe restava.

— Por favor, você tem que me ajudar.

— Eu me recuso! Eu jamais me perdoaria se você morresse e com um bebê tão grande e avançado, a sua morte é quase que uma certeza.

— Vai ser pior se ele nascer, eu juro.

— Você já chegou tão longe, falta pouco tempo para que ele nasça. Espere Kate, sei que o odeia agora mas você pode amá-lo quando ele estiver em seus braços pela primeira vez.

Kate sentia que aquilo não iria acontecer e realmente tinha razão. Três meses depois ela sentiu o peso daquela decisão.

Ruel Van Dijk nasceu no final de outubro e até mesmo o seu primeiro choro, havia deixado Kate irritada e atordoada. Ela não conseguia olhar para ele sem sentir raiva.

O demônio agora estava em seus braços e ela odiava olhar naqueles olhos. Odiava aquelas mãos tão pequenas e as bochechas coradas, odiava quando Stella o fazia rir e então aquela gargalhada ecoava pela casa.

Kate odiava Ruel e assim que os anos se passaram, o ódio apenas aumentou. Olhar para o filho a fazia se lembrar do ex-marido e aquilo doía, ela não conseguiria suportar.

Ela odiaria Ruel para todo sempre.

kill game, beforeOnde histórias criam vida. Descubra agora