VII

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Alguns dias depois, Anne e Gilbert se encontraram na fazenda Blythe. Anne fechou o livro na sua frente. Ela e Gilbert estudavam há um tempo; ela foi para casa com ele logo depois da escola.

 Os sons de arrulhar do bebê vieram da sala de estar, misturados ao canto sussurrado de Mary. O resto da casa estava quieto, o comportamento normalmente barulhento de Bash ausente enquanto ele estava na cidade. Gilbert estava sentado na cadeira ao lado dela, lendo seu próprio exemplar da leitura atribuída à senhorita Stacey. Ele estava recostado na cadeira, uma perna apoiada, o livro contra o joelho. Anne observou os olhos dele percorrendo as páginas, absorvendo cada palavra. O vinco entre as sobrancelhas, algo que Anne notou que era característico quando ele estava se concentrando, estava presente quando ele virou a página. O estômago de Anne se mexeu enquanto ela continuava olhando para ele.

— Você quer ir lá fora? — Anne perguntou. — O tempo está adorável...

Os olhos de Gilbert se voltaram para os dela do livro. 

— Claro. — ele sorriu, fechando o livro.

A questão subjacente estava lá, é claro. Eles poderiam ler mais tarde. Os dois se levantaram e saíram da sala de jantar, Anne seguindo Gilbert até a árvore em frente à casa. Era o lugar para o qual normalmente iam quando o tempo estava bom e eles estavam estudando lá fora. Anne não contou a Gilbert sobre Marilla pegá-los e gritar com ela por isso. Era mais fácil fingir que nunca aconteceu. Uma brisa fez cócegas no rosto de Anne enquanto atravessavam o quintal.

— Eu amo quando a brisa chega. — disse ela melancolicamente.

— É mesmo?— Gilbert perguntou quando eles se deitaram no chão sob o carvalho.

Anne sorriu sonhadora. 

—Ai sim. Traz o cheiro dos pomares e é tão divino. Isso me faz sentir como se estivesse em uma nuvem com cheiro de maçã, muito longe.

Gilbert riu. Eles estavam em ângulo um do outro, suas cabeças juntas. Anne olhou para o céu, as folhas da árvore projetando sombras bruxuleantes acima deles. A cabeça de Gilbert estava em suas mãos, presa atrás da cabeça. As pálpebras de Anne já estavam pesadas. Sua cabeça, no entanto, não ficaria confortável. Ela se moveu para um lado e para o outro, tentando colocar a mão embaixo da cabeça, muito grumosa, do lado, muito dolorosa e plana no chão, com muita força. Anne bufou, cansada e frustrada.

- Você pode simplesmente deitar a cabeça no meu braço. - sugeriu Gilbert, parecendo meio adormecido.

Anne congelou. Ela e Gilbert tinham ficado... mais sensíveis ultimamente, isso era verdade. Era inevitável quando você dormia um com o outro. Não era incomum que eles acordassem, braços pressionados juntos ou pernas se tocando ou a cabeça de Anne em seu ombro. Mas isso aconteceu quando eles estavam dormindo. Eles sempre dormiam separados e, se acordavam juntos, era culpa do corpo adormecido.

Isso foi diferente, no entanto. Desta vez, ela estaria intencionalmente deitada em Gilbert. O que isso significava...

- Só é estranho se você o torna estranho, Anne. - murmurou Gilbert.

Anne zombou. 

- Eu não estou tornando isso estranho.

- Sim, você está.

- Não, eu não estou.

- Então use meu braço como um travesseiro e vá dormir.

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