Capítulo 6

19 4 0
                                    

        Menandro bebia um chá quente preparado pela mãe de Lucas. Ele estava pálido e sentia-se muito fraco.

         -Preciso fazer alguma coisa... Mas minha mente parece não funcionar direito.

         -Também, olha o seu estado! A impressão que dá é de que se der um passo, desaba no chão. Tem que se alimentar.

         -Minhas náuseas me impossibilitam de sustentar qualquer coisa no estômago.

         -É puramente emocional, mas deve ir ao médico.

         -Nem pensar! Isso traria problemas para sua mãe e você. Meu único remédio é acabar com aquele ser das trevas!

         Menandro suspirava feito um dragão a ponto de queimar tudo.

         -Seja lá o que pretenda fazer, se teimar em não cuidar de sua saúde, será difícil levar a cabo qualquer plano.

         O amigo permaneceu em silêncio.

         -Talvez devesse deixar isso assim. - disse Lucas, num comentário surpreendente.

         -Hein?! Como assim?! - Menandro arregalou os olhos.

- Pense bem... E se for a vontade dos Deuses. Ou melhor, de sua própria Deusa. Afinal, paixões ardentes e perigosas caem na alçada de Afrodite, certo?

         Menandro pensou que era alguma brincadeira de mau gosto do amigo, para variar, e abriu a boca com o intuito de repreendê-lo. Porém, Lucas estava sério, inexistia qualquer humor por trás daquela observação.

         -Enlouqueceu de vez, Lucas? Minha Deusa contra mim mesmo?

         - Menandro, o mundo não gira em torno do seu bem-estar, de suas vontades e opiniões, nem mesmo, aliás, muito menos os Deuses...

         O filho de Sabrina fechou o cenho. Aquelas palavras foram como facadas em seu peito.

         - Estou pasmo com o que disse! Nem vou responder nada, caso contrário podemos abalar nossa amizade.

         Revoltado, caminhou a passos pesados até a varanda do quarto de Lucas. A noite estava fria, sem lua até àquela hora.

         "Talvez haja um fundo de verdade no que ele disse... será? "

         Num canto do quarto um monte de jornal chamava a atenção.

         -Para que tudo isso?

         -Estou recortando reportagens interessantes para guardar. É um hobby meu.

         Menandro agachou-se ao lado daquela montoeira e começou a revirá-los, por mero passatempo, ao que uma foto intrigante fisgou-o.

         -O golpista sedutor? - leu o título da reportagem policial. Passou os olhos no texto , captou o assunto e levou o jornal aos olhos do amigo. - Veja essa foto! Veja! Te lembra alguém, apesar da diferença dos cabelos e barba???

         Lucas tomou a edição em mãos e leu :

         -"Procurado por seduzir mulheres carentes e roubar-lhes dinheiro. Troca de identidade com uma habilidade demoníaca." É a cara do seu padrasto! Há muitas chances de ser ele mesmo! Mas como vai averiguar?

         -Averiguar?! É claro que é ele! Tenho toda certeza! Preciso mostrar isso para a minha mãe! Era o que eu precisava!

         -Calma, espera aí! O que pretende fazer a essa hora da noite?! Tá maluco?!

         -Vou acabar com isso agora mesmo! – bradou Menandro, cheio de energia, apesar de conservar a palidez. – Não posso deixar minha mãe sozinha com aquele demônio por mais tempo.

         -Menandro, tenta se acalmar! – Lucas segurou nos ombros do amigo agitado e olhou bem no fundo dos seus olhos – Isso é caso de polícia, vai amanhã à delegacia, explica tudo, eu até te acompanho. Ele não fará nada justamente hoje, temos tempo. Imagina só, você e sua mãe sozinhos com ele num momento crítico? Não sabemos se ele possui alguma arma escondida ou o que é capaz de fazer para se safar. Precisa ser racional agora.

         O frenesi do jovem começou a diminuir e ele prestava atenção em cada palavra que ouvia. Quando Lucas soltou seus ombros, respirou fundo e fechou os olhos, sentando pensativo na cama em pleno silêncio. Talvez o discurso surtia efeito.

         -Ok, você está certo.  Acho que é melhor eu dormir, estou muito cansado.

         -Boa idéia, já está tarde, é melhor encerrarmos o dia. Amanhã cedo faremos tudo o que for preciso.

         -Obrigado, Lucas. Não sei o que seria de mim se não fosse você.

         -Sou seu amigo, ora. É meu dever protegê-lo de si mesmo. Você é bastante inteligente, sabe disso, mas ás vezes deixa se levar pelas emoções.

         -É verdade. E não é a toa que você é de Atena. Hehehe!

         Lucas dispôs um colchão no chão para si e cedeu a cama para Menandro. Era quase meia noite quando desligaram as luzes e foram dormir.

Menandro - um conto neo-pagãoOnde histórias criam vida. Descubra agora