Menandro bebia um chá quente preparado pela mãe de Lucas. Ele estava pálido e sentia-se muito fraco.
-Preciso fazer alguma coisa... Mas minha mente parece não funcionar direito.
-Também, olha o seu estado! A impressão que dá é de que se der um passo, desaba no chão. Tem que se alimentar.
-Minhas náuseas me impossibilitam de sustentar qualquer coisa no estômago.
-É puramente emocional, mas deve ir ao médico.
-Nem pensar! Isso traria problemas para sua mãe e você. Meu único remédio é acabar com aquele ser das trevas!
Menandro suspirava feito um dragão a ponto de queimar tudo.
-Seja lá o que pretenda fazer, se teimar em não cuidar de sua saúde, será difícil levar a cabo qualquer plano.
O amigo permaneceu em silêncio.
-Talvez devesse deixar isso assim. - disse Lucas, num comentário surpreendente.
-Hein?! Como assim?! - Menandro arregalou os olhos.
- Pense bem... E se for a vontade dos Deuses. Ou melhor, de sua própria Deusa. Afinal, paixões ardentes e perigosas caem na alçada de Afrodite, certo?
Menandro pensou que era alguma brincadeira de mau gosto do amigo, para variar, e abriu a boca com o intuito de repreendê-lo. Porém, Lucas estava sério, inexistia qualquer humor por trás daquela observação.
-Enlouqueceu de vez, Lucas? Minha Deusa contra mim mesmo?
- Menandro, o mundo não gira em torno do seu bem-estar, de suas vontades e opiniões, nem mesmo, aliás, muito menos os Deuses...
O filho de Sabrina fechou o cenho. Aquelas palavras foram como facadas em seu peito.
- Estou pasmo com o que disse! Nem vou responder nada, caso contrário podemos abalar nossa amizade.
Revoltado, caminhou a passos pesados até a varanda do quarto de Lucas. A noite estava fria, sem lua até àquela hora.
"Talvez haja um fundo de verdade no que ele disse... será? "
Num canto do quarto um monte de jornal chamava a atenção.
-Para que tudo isso?
-Estou recortando reportagens interessantes para guardar. É um hobby meu.
Menandro agachou-se ao lado daquela montoeira e começou a revirá-los, por mero passatempo, ao que uma foto intrigante fisgou-o.
-O golpista sedutor? - leu o título da reportagem policial. Passou os olhos no texto , captou o assunto e levou o jornal aos olhos do amigo. - Veja essa foto! Veja! Te lembra alguém, apesar da diferença dos cabelos e barba???
Lucas tomou a edição em mãos e leu :
-"Procurado por seduzir mulheres carentes e roubar-lhes dinheiro. Troca de identidade com uma habilidade demoníaca." É a cara do seu padrasto! Há muitas chances de ser ele mesmo! Mas como vai averiguar?
-Averiguar?! É claro que é ele! Tenho toda certeza! Preciso mostrar isso para a minha mãe! Era o que eu precisava!
-Calma, espera aí! O que pretende fazer a essa hora da noite?! Tá maluco?!
-Vou acabar com isso agora mesmo! – bradou Menandro, cheio de energia, apesar de conservar a palidez. – Não posso deixar minha mãe sozinha com aquele demônio por mais tempo.
-Menandro, tenta se acalmar! – Lucas segurou nos ombros do amigo agitado e olhou bem no fundo dos seus olhos – Isso é caso de polícia, vai amanhã à delegacia, explica tudo, eu até te acompanho. Ele não fará nada justamente hoje, temos tempo. Imagina só, você e sua mãe sozinhos com ele num momento crítico? Não sabemos se ele possui alguma arma escondida ou o que é capaz de fazer para se safar. Precisa ser racional agora.
O frenesi do jovem começou a diminuir e ele prestava atenção em cada palavra que ouvia. Quando Lucas soltou seus ombros, respirou fundo e fechou os olhos, sentando pensativo na cama em pleno silêncio. Talvez o discurso surtia efeito.
-Ok, você está certo. Acho que é melhor eu dormir, estou muito cansado.
-Boa idéia, já está tarde, é melhor encerrarmos o dia. Amanhã cedo faremos tudo o que for preciso.
-Obrigado, Lucas. Não sei o que seria de mim se não fosse você.
-Sou seu amigo, ora. É meu dever protegê-lo de si mesmo. Você é bastante inteligente, sabe disso, mas ás vezes deixa se levar pelas emoções.
-É verdade. E não é a toa que você é de Atena. Hehehe!
Lucas dispôs um colchão no chão para si e cedeu a cama para Menandro. Era quase meia noite quando desligaram as luzes e foram dormir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Menandro - um conto neo-pagão
General FictionMenandro é um jovem neo-pagão iniciante e devoto da deusa grega Afrodite e estudioso aplicado das antigas religiões. Sua vida seguia bem até sua mãe, Sabrina, se apaixonar por Leonardo, um homem que mais tarde se revela um perigoso fanático cristão...