Capítulo 2

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O dia seguinte começou agitado. A mãe e o padrasto haviam chegado tarde da madrugada e perderam o horário, inclusive Menandro. Ela esperava na porta de casa, batendo o pé esquerdo no chão. Como era a única que dirigia, aguardava impaciente pelos homens da casa para dar-lhes carona, um para a escola, o outro para o trabalho.

O garoto terminou de se arrumar, pegou sua mochila e abriu a porta, dando de cara com Leonardo a lhe esperar.

-Finalmente a "florzinha" apareceu! - disse o homem, alto, forte, em torno de 40 anos, cabelo curto e raspado nas laterais.

-O que é isso?! Tentado me matar de susto agora? Perdeu sua clava aqui, homem das cavernas?!

-Engraçadinho como sempre! Bem, só tenho um recado: preciso dessa casa limpa para hoje á noite, mas não é o dia da faxineira aparecer, e não quero falar com sua mãe sobre isso. Vou trazer alguns amigos para tomar um chope, já que ela chegará tarde.

-Ué, contrata você uma diarista, então! - rosnou Menandro.

-Está surdo ou quer que eu repita?! Está perdendo o bom senso, é?

- Você que deve estar com tanta cera no ouvido e não ouve mais nada, até porque o povo do paleolítico não possuem hábitos de hegiene, certo?

Nesse meio tempo Sabrina berrava chamando pelos dois.

Irritado, Leonardo mirou o dedo indicador na ponta do nariz do rapaz e ameaçou:

- Se continuar se fazendo de bobo comigo, terá uma bela de uma surpresa qualquer dia desses quando chegar no seu quarto! Seu ídolosinho do capeta estará ao partido ao meio te esperando! E depois não adiantará ficar choramingando feito uma "bibinha"!

Menandro sentiu o sangue ferver e seu rosto enrubesceu de raiva. Cerrou os dentes e rosnou de volta:

- Toca um dedo nela! Toca! E verá que a ira dos deuses não é só um mito esquecido!

- Hahaha! Não acredito nessas bobagens, criança. Mas está avisado: o que prometo, cumpro!

Novamente a mãe gritou por eles e Leonardo virou as costas e saiu andando. Desceram a escadaria, um envolto de ar triunfante, e outro carrancudo.

-Nossa, meu filho! Que cara é essa?!

Menandro abria a boca para responder, mas Leonardo foi mais rápido:

-Pois é, tive de acordá-lo, estava ferrado no sono! Também, vira a madrugada assistindo televisão, dá nisso! Mas sabe como é, né. Juventude!

-Ok, ok. Agora vamos logo que já estou mega atrasada!

Menandro babava de raiva e pensava, enquanto entrava no carro: "Eu queria ser um trator...infeliz!". O padrasto ostentava um riso debochado no rosto. "Vai rindo, palhaço. Seu reinado ainda vai acabar!".

Então, Sabrina arrancou com o carro pelas ruas do bairro nobre.

Menandro sabia que a mãe era traída, pois já flagrara conversas suspeitas de Leonardo pelo telefone. Contudo, necessitava de provas.

O pai de Menandro separou-se da mãe dele por causa de uma paixão há dez anos. Desde então Sabrina fechou-se para o amor e dedicava sua vida ao trabalho e filho. Até que conheceu Leonardo, apaixonou-se loucamente e convidou-o para morar junto com  eles, tudo em pouco mais de seis meses.

"Eu não queria destruir sua felicidade, mãe. Mas a situação demanda um fim urgente! Tinha que se apaixonar justamente por ele?! Que Cypris me ajude a mandar esse cara pelo espaço!"

Menandro - um conto neo-pagãoOnde histórias criam vida. Descubra agora