Capítulo 5

22 4 0
                                    

Os dias passaram, era Lua Cheia, ocasião para o primeiro ritual no sitio da tia de Marina.

Numa clareira, sob a luz radiante da orbe prateada, os três circumabulavam o altar de pedra,sob a qual havia uma panela de ferro contendo o fogo sagrado e algumas tigelas e taças.

Lucas orou á Héstia, deusa do fogo e da purificação, tendo uma vasilha de água em mãos. Um galho seco pousou sobre as chamas e depois mergulhou-o incandescente na água.

-Torne-se , por Héstia, na água lustral, purificadora de toda e qualquer impureza.

Recitando versos antigos espargiu sobre os amigos algumas gotas.

-Que toda a impureza retire-se de seus corpos e de seus espiritos, tornando-os puros e leves para a presença divina.

Encheram as mãos com grãos de cevada, ergueram-nas na direção da Lua e Marina iniciou a prece:

" Selene, prateada e radiante deusa, eu te chamo nesta prece, nesta noite que é toda Sua!

Coroada de ouro quando se levanta do horizonte, ou de prata ao subir no ponto mais alto dos céus.

Rainha de beleza incomparável, rodeada pelas estrelas ofuscada pelo teu brilho.

Senhora do Tempo, mãe dos Meses que correm, tu que dás ínicio , meio e fim aos trabalhos da Natureza.

Seja-nos propícia, esteja presente e receba sua oferendas em teu dia sagrado! "

Depositaram a cevada nas tigelas, espalharam pelo local e sobre si mesmos.

A lua parecia mais brilhante e uma suave brisa soprou, balançando levemente os galhos das árvores que os cercavam.

Em seguida recitaram antigos e modernos hinos em honra á divindade lunar, realizaram libações e ofertas de bolos preparados por Marina. Uma simples e graciosa dança circular convidou deidades do local ao rito, figuras femininas translúcidas espiavam e outras participavam de longe, sob as copas escuras das árvores.

A data caiu num fim de semana em que o trio pôde permanecer no sítio, usufruindo da beleza e paz da natureza.

No entanto, ao regressar ao "lar doce lar" na segunda-feira à noite Menandro teve uma bela surpresa. Na sala haviam instalado uma espécie de altar com cruzes e uma grande Bíblia dourada. Na verdade, aonde dirigia seu olhar, encontrava alguma imagem cristã.

Seu estômago revirou imediatamente, emergindo uma grande ânsia.

-Que troço é esse??? - a sala pareceu girar por um instante - Isso só pode ser um pesadelo!

Menandro escutou um burburinho vindo da cozinha e aproximou-se pé por pé a fim de saber o tom da conversa.

"Estamos muito distantes, devem ser aquelas coisas, como o próprio pastor disse...

Não se preocupe, meu amor. No máximo até depois de amanhã o pastor virá conversar com ele. Por Deus tudo vai melhorar, você verá."

O embrulho no estômago se intensificou e o garoto teve que subir voando para o vomitar no banheiro. Os passos apressados fizeram-se ouvir e chamaram a atenção do casal, que intrigados foram atrás dele.

-Abre  a porta, meu filho! Deixa eu te ajudar aí!

-Não! Me deixa sozinho! Não quero ver ninguém!

-Por favor, não fique assim. É pelo seu próprio bem!

-Anda, Menandro. Pára de frescura. abre essa porta! - intrometeu-se Leonardo.

O garoto parou de responder e eles resolveram desistir. Assim que desapareceram da volta, Menandro retirou-se para o seu quarto, nem jantar não fez questão.

-Você vai minguar e desaparecer com a Lua, canalha! 

         A semana passou e ele evitou a todo custo cruzar com sua mãe e o ogro. E quando não havia escapatória, limitava-se a cumprimentos frios e respostas curtas. Menandro não alimentou-se adequadamente e o enjôo e dores de cabeça acompanharam-no pelos dias que se seguiram. Sentindo quase impossível continuar no mesmo espaço, aceitou o convite de Lucas de passar um tempo em sua casa.

Menandro - um conto neo-pagãoOnde histórias criam vida. Descubra agora