Capítulo 7

19 3 0
                                    

        A mãe e o padrasto de Menandro ainda estavam acordados, sentados sobre a cama. Ela exibia olhos inchados e de braços cruzados fitava um ponto invisível no ar. Ele lia uma revista de esportes, quando deu uma olhadela na mulher e, impaciente, resmungou de um jeito nunca antes feito:

         -Vai desamarrar essa cara de bunda ou não?!

         -Assim que meu filho voltar, minha cara vai melhorar! Acho que você não compreendeu a situação ainda. Meu filho e eu estamos brigados, pela primeira vez, por causa de coisas que nunca haviam sido motivo de qualquer discórdia.

         -Vai dizer que a culpa é minha ?! – ouriçou-se o homem, arremessando a revista para um canto. – Isso aconteceu de tanto que ele foi mimado. Não percebe o rumo que a vida dele tomou?! Primeiro se tornou um pagão, com ídolos demôniacos no quarto , com altar e tudo. Até gay deve ser! Se não fizermos nada a respeito. Deus irá castigá-lo, e aí não adiantará chorar. Ao invés de me julgar como um inimigo, entenda que estou tentando salvar o seu filho. Pensa bem nisso. Lavo as minhas mãos!

         Sabrina engoliu em seco e cerrou os dentes. Uma enorme fúria começou a crescer em seu íntimo, desejando explodir com todas as suas forças, mas ela se conteve. Engoliu a resposta que intentava dar.

         “Como chegamos a esse ponto? Quando houve esse desvio? Menandro é o que sempre foi. Não foi ele quem mudou. Mas, esse homem... Leonardo parece muito diferente, analisando um pouco. Tem algo estranho por aqui” – pensava a mulher.

         Gradativamente recobrava as faculdades mentais, como se um feitiço houve sido rompido. Por sua vez, Leonardo percebeu sua mancada e tentou se reaproximar, pedindo desculpas. Quis beijá-la e acariciá-la, porém Sabrina esbravejou “Me deixa quieta!!!” ,esquivou-se e resolveu sair do quarto. Sozinho, o cara golpeou o colchão e praguejou.

         De repente , a campainha tocou , deixando ambos intrigados. Sabrina encontrava-se no quarto do filho, admirando a organização dele.

         -Será ele?!

Leonardo saltou da cama e ao encontrar a mulher no corredor, apressada em querer atender a porta, disse:

         -Espera, espera! Vou ver se é quem você está pensando! A essa hora da noite, não sei não.

         Por via das dúvidas, foi na cozinha pegar uma faca, escondendo-a por trás do braço. Sabrina permaneceu no topo da escadaria, cheia de expectativa.

Menandro - um conto neo-pagãoOnde histórias criam vida. Descubra agora