Sob controle

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Sendo bem sincera, nunca fui uma boa contadora de histórias, mas ao fim de tudo, sinto a sensação de que tenho o dever de deixar registrado as últimas linhas de acontecimentos da minha geração e de tudo o que tem acontecido. Quem sabe estas palavras sejam preservadas em um vaso de barro, ou em alguma caverna esquecida.

Então, se você está lendo e ainda não as queimou, isso significa que posso contar com você, pois não foi consumido por ele. Me chamo Eva, e espero muito que esses registros te ajudem a fazer do mundo um lugar melhor.

Um novo ano se inicia, e uma coisa nunca deixei de fazer que é comemorar esse momento, então partindo dessa premissa volto alguns anos atrás, quando comemorava a entrada do ano 70 do novo mundo, na cidade de Salt.

Como de costume eu sempre repetia o mesmo rito de todos os anos, dizendo exatamente à meia noite daquele dia o quanto eu era agradecida por viver em dias de serenidade e plenitude, o que mais poderia pedir?

Enquanto a suave brisa tocava meu rosto, começava a refletir sobre minha própria vida, minhas aspirações e objetivos, mas tudo isso me lembrava que no fundo do meu coração existia um sentimento que ainda não compreendia, mas que estava lá.

Nesse tempo, a guerra já não existia, tudo o que se ouvia falar era apenas o que estava registrado nos livros de história. Problemas como a pobreza, fome e conflitos de opiniões já não tinham lugar no mundo, tudo parte de um passado que a humanidade superara a muito tempo.

O homem regozijava-se perante o criador do novo mundo, aquele que unificou os escolhidos na mesma fé e nas mesmas convicções.
Mas para quem decide enxergar apenas as pétalas das rosas, dificilmente verá seus espinhos.

Depois do grande clarão que reduziu a humanidade de 9,5 bilhões de pessoas para 500 milhões, foi desenvolvido um rígido controle de natalidade mundial, onde só era possível nascer de duas formas, a primeira era quando uma alma retornava ao ponto inicial aos 70 anos de idade, onde renascia novamente na mesma família através de simbiose modificada, possibilitando assim a sobrevivência da genealogia familiar.

A segunda forma, se dava quando o casal originário tinha o primeiro filho para que fosse possível o ciclo genealógico. O casamento, só era permitido para os casais originários que eram aqueles homens e mulheres que estavam presentes na fundação do novo mundo, enquanto os filhos deles assim como eu, nascemos isentos das sinapses responsáveis pelos sentimentos como amor e, assim o homem venceu a morte.

Dentro desse regime, fui uma das últimas primogênitas a nascer, cresci como qualquer outra criança naquela época, rodeada de riquezas e amigos.

Desde pequena me levantava bem cedo, pois gostava muito de apreciar a natureza e a vida ao redor.

Me lembro de acordar e me espreguiçar ainda na cama, correndo logo em seguida para a janela onde observava as ruas limpas, pessoas andando nas calçadas e usando roupas perfeitas com cores claras tudo muito suave, nada de extravagância no mundo, e tudo isso era incrível.

DEPOIS DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora