O início

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Saindo da casa dos meus pais, fui mais tarde para o trabalho do que de costume. Debaixo de muita chuva chego ao complexo arqueológico, e já na entrada vejo Pedro todo sujo, andando de um lado para outro e falando sozinho.

Nossa, realmente pensei que ele fosse louco, então para me deixar ainda mais impaciente, antes mesmo que eu descesse do carro, ele me abordou dizendo, - Eu preciso que venha comigo, estamos sem tempo, preciso que veja algo, sem tempo, sem tempo!
Ele repetia quase sem parar.

O seu rosto carregava uma expressão de preocupação e seu olhar se jogava em todas as direções, como se procurasse algo ou alguém. Prontamente me recusei a sair do carro, mas ele me agarrou pelo braço e me puxou para fora dizendo, que não havia mais tempo, não dava mais para esperar e de forma contundente me pedia para confiar nele.

Simplesmente não conseguia entender como aquele franzino tinha tanta força, sendo o suficiente para me prender perto de si. Então apressadamente fui conduzida por Pedro, passando por entre as tendas de estudos do sítio, mas sempre tentando não chamar a atenção.

Após atravessarmos todo o sítio até o local de trabalho de Tomy, ele pede para que eu o acompanhasse para dentro da escavação, mesmo confusa, peguei uma lanterna e segui em frente, descendo aproximadamente trinta metros de escada de madeira e muita lama.

Chegando em um local muito úmido e com pouca luz, podia sentir as gotas frias de lama caindo sobre mim, nesse momento percebi que Pedro estava parado bem na minha frente e apontando para a direita para que eu pudesse ver o que estava logo a frente.

Olhei fixamente para uma parede quebrada, no qual se encontrava um receptáculo de barro, com metade enterrado e a outra metade de fora. Nesse momento, me ajoelhei de frente para o que via, sem palavras, sem ações e sem acreditar, retirei-o dali sem danificá-lo, o desenterrando por inteiro.

Nesse instante, percebi que estava diante de algo diferente, algo que já não existia nesse mundo, mas que de alguma forma estava ali comigo.

Após retirar o excesso de barro percebi que havia algo dentro do vaso, então com olhos fixos em Pedro coloquei a mão dentro do recipiente, e de lá retirei cuidadosamente fragmentos de papel envolto em plástico, material esse que nunca tinha visto em toda minha vida.

Lembro-me de uma sensação completamente estranha a tudo o que tinha sentido, então Pedro se abaixou para dizer algo para mim, porém, antes que ele pudesse falar, notamos luminosidade de outras lanternas e Pedro sem excitar me pede para esconder os fragmentos dentro da bota.

Logo percebi que eram agentes do governo, que em alta voz exigiram que nos afastássemos do vaso. Procurando despistar, Pedro disse que não havia nada no vaso além de barro, então um dos agentes o segurou pela gola da camisa e com apenas um soco o arremessou contra os caixotes e lonas, como se fosse um pedaço de madeira.

Rapidamente corri até ele e fui ajudá-lo exatamente quando um dos agentes pegou o vaso, e me encarando nos olhos foram embora. Em seguida tentei levantá-lo, mas ele começou a passar muito mal,

- Pedro você está doente? Mas como? Não adoecemos aqui! Assim o endaguei.

Então ele me pediu para deixá-lo lá embaixo, e que levasse os fragmentos em segurança. Ainda tentei levá-lo junto, mas Pedro de forma alterada, repetidas vezes me mandou embora, mas antes que eu fosse ele segurou na manga da minha camisa e disse:

- Isso se trata da compreensão daquilo o que nunca encontrou, aquele sentimento gravado em sua mente, mas que você não sabe como ele foi parar lá, é a nossa luta por saber quem somos e porque somos, tudo isso compilado em algo maior do que podemos imaginar.

Depois disso ele me soltou e então o deixei, arrasada com tudo o que tinha acabado de acontecer sai daquele maldito buraco.

Aflita, e confusa caminhei entre meus colegas sem falar uma só palavra, com roupas imundas e com tamanha tristeza, tudo o que eu queria era sair dali. Tudo o que conseguia escutar era o agudo zumbido que pairava sob meus pensamentos.

DEPOIS DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora