Capítulo 1

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— Esquerda ou direita? — Aqui estou eu falando sozinha de novo.

É, chegar em uma cidade onde você nunca esteve e se matricular em uma faculdade que nunca viu, não é fácil. Não sei nem pra que lado fica a secretaria. 

— Aff, poderiam ao menos ter cartazes indicando né?! — A primeira coisa que vou fazer no meu primeiro dia de aula, que já é amanhã, é dar uma sugestão de acesso fácil com placas indicativas. 

Meu Deus, estou em desespero, as aulas começam amanhã e só falta 30 minutos para acabar o prazo que me deram pra assinar os papeis da matrícula. 

Ok. A culpa foi minha. Mas o que eu poderia fazer se na semana que eu iria vir nessa cidade me adaptar, procurar um lugar pra ficar e calmamente fazer minha matrícula, minha querida mãezinha ficou doente.

Eu não tinha muito o que fazer né?

Mas depois de uma melhora e de ela insistir muito, pois eu  já estava desistindo de vir e ia fazer outro ano de cursinho por lá mesmo. Eu liguei aqui e expliquei o que aconteceu, lógico que eu tive que ouvir um sermão. E depois de ouvir algumas palavras bíblicas me pediram todos os documentos em anexo e também os comprovantes do hospital, desde o dia da entrada da minha mãe e também os comprovantes de que ela está melhor e que já vai receber alta. "Segundo eles, para que tenha a certeza de que eu não vou dar desculpas para faltar."

— Ah, pelo amor de Deus né? Quem seria estúpido de brincar com a saúde da própria mãe, a ponto de mentir que ela estaria doente só pra faltar aula? — Olhando na tela do celular, der repente esbarro em alguém com muita força, o que me leva a cair no chão. 

Não tenho coragem de abrir meus olhos, é muito azar pra uma pessoa só. 

Não é possível. 

Ok vou fazer igual naqueles desenhos animados e fingir que estou invisível, assim a pessoa que está em pé na minha frente me olhando não vai ver nada e vai embora.

De repente vou abrindo os olhos lentamente e vejo a figura parado em pé me olhando. "Droga falhei de novo, não estou invisível," dar pra saber pelo modo que o garoto está me olhando. 

Ao olhar no relógio. 

— Falta apenas 15 minutos! — Droga, acho que falei muito alto, mais do que deveria. Por que eu gritei?

— Você está bem? — Ouço uma voz a minha frente. — Posso ajudar? Desculpa pelo que aconteceu, foi sem querer, juro. Eu estava olhando no celular e...

— Tudo bem, talvez você possa me ajudar. Onde fica a secretaria? — Falo enquanto ele me ajuda a levantar. 

— Vai nesse corredor e segue reto, no final você vira a sua esquerda e depois a direita, vai sair em frente. — Com um sorriso meio sem jeito ele fala.

Sem pestanejar começo a arrumar minhas coisas depressa, que a essa altura algumas delas já sabe até o caminho, sozinha, quando de repente sinto uma mão quente sobre a minha que está  gelada pelo nervosismo.

— Pelo que eu ouvi você falar, você está sem tempo. Vai lá, eu junto suas coisas e levo pra você logo em seguida. — Não vou questionar o porque o universo quer me ajudar nos 45 minutos do segundo tempo. 

— Está bem então, reto, esquerda, direita. — Levanto e saio correndo pelo corredor a fora igual em uma maratona, o que mais pode  acontecer de errado? Espero que nada.

 — Levanto e saio correndo pelo corredor a fora igual em uma maratona, o que mais pode  acontecer de errado? Espero que nada

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— Você está ciente que não pode chegar atrasada?

Se sair da sala de aula não pode mais entrar para aquela aula e se for dia de provas não  tem direito de refazer a não ser que traga atestado médico em seu nome, daí  damos a você uma prova substituta. 

— Sim! Estou ciente de tudo, eu vi as regras no formulário. — Com um sorriso cínico no rosto respondo, depois de chegar faltando apenas 10 minutos para o prazo que me deram acabar. Foi hilário ver a cara que a moça fez ao me ver, certeza que ela estava pronta pra ir embora, estava esperando só acabar o horário.

Após assinar todos os papéis de matrícula, eu decido esperar mais um pouco pra ver se o anjo que me ajudou aparece, não quero correr o risco de sair daqui e me perder de novo ou desencontrar. E o  pior é que eu nem perguntei o nome dele.

Após mais trinta e cinco minutos eu já estou impaciente a ponto de desistir de esperar, eu quero logo ir embora, tenho tanta coisa pra fazer, desarrumar minhas malas, organizar meus materiais e tentar descansar um pouco. Afinal, amanhã terei que estar aqui de novo.

Tive muita sorte de achar um apartamento para dividir, pois, não teria condições de pagar aluguel, sozinha.

Como vai ser minha convivência com a Cloe? Espero que ela seja mais legal pessoalmente, se é que isso seja possível. Conhecer pessoas pela internet é uma coisa, mas conviver diretamente no dia a dia é diferente. Já nos conhecemos hà 1 ano e essa é a primeira vez que vamos nos ver e, conviver. Pelo que eu vi no anúncio no Facebook ela não é muito exigente, e nós já conversávamos antes disso, ela é muito legal, ao menos é o que espero.

Olho pro lado e vejo no corredor o rapaz que me ajudou, vindo. Ele vem com todas as minhas coisas, cadernos, livros e apostilas. Ainda bem que eu deixei minhas malas na portaria do prédio antes de vir, a Cloe não estava em casa, mas me  arrependo de não ter deixado essas coisas também, como achei que eles já liberariam o armário decidi trazer.

— Oi, desculpa a demora, ouve um imprevisto antes de vir te encontrar. — Ele fala meio sem jeito e coçando a nuca.

— Tudo bem, tranquilo, muito obrigado por  me ajudar. Stella! — Falo esticando a mão pra ele e em seguida pego meus pertences. 

— Caio, Caio Jones — Ele retribuiu abrindo um belo sorriso.

— Mais uma vez obrigado Caio, mas agora tenho que ir. — Falo já me virando pra ir embora 

— Você já sabe os horários das suas matérias? — Ele me pergunta e eu paro abruptamente de andar.

"Droga esqueci de pegar os horários e a secretaria já fechou."

— Bom, pela sua cara acho que não. Como amanhã é o primeiro dia, a secretaria abre mais cedo uns trinta minutos, te aconselho a chegar aqui bem antes das sete horas. — Ao olhar pra trás vejo ele virar as costas e seguir seu destino. 

— Caio, se você não é um anjo não sei o que dizer. — Falo me virando para também seguir meu caminho.

— Me fale isso de novo quando me conhecer melhor. — Ele fala sorrindo, mas sem nem olhar pra trás.

Pedi um Uber, que não demorou muito, pra ver se chegava mais  rápido. Eu sei que não deveria estar gastando dinheiro com isso,  poderia ir de ônibus, pois tenho que economizar dinheiro até arranjar um emprego. Ainda  mais agora que tivemos que gastar uma fortuna, pois os remédios da minha mãe custava muito caro e ainda tem o tratamento dela, mas uma vez ou outra não vai me matar.

Chego no condomínio após  alguns minutos, pego minhas malas na portaria e vou em direção ao elevador, aperto no botão do quinto andar, apartamento 54, bato três vezes na porta e espero por alguns minutos, quando vou bater novamente vejo do lado direito bem próximo à porta um quadrado com um botão redondo no meio, que provavelmente é de uma campanhia. Estou me sentindo uma idiota agora, da primeira vez que vim aqui talvez a Cloe já estivesse. 

Sem querer perder mais tempo aperto aquele botão e agora sim ouço passos vindo em direção à porta, ouço um click e a porta se abre.

Minha Pequena, Grande MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora