De vez em quando, quase nunca, eu meio que me sento sob as estrelas para me lembrar do dia em que minha vida havia virado de cabeça para baixo. Surpreendentemente, a merda toda não aconteceu naquela madrugada quente de 2015, quando entreguei de boa vontade a minha virgindade para o cara errado, em um galpão abandonado e qualquer. Mas ninguém que eu conhecia daquela cidade sabia que a minha primeira escolha imprudente ocorrera vinte e nove dias antes, no refeitório da escola.
Era um dia quente e acalorado, as pessoas estavam espalhadas pelo local em uma mistura de grupos e hierarquias, algo que, em minha visão, sempre houvera parecido bastante patético, mesmo eu fazendo parte de um. Tinham aqueles que não eram nada além de rostos bonitos e grife. Aqueles que só eram inteligentes. Aqueles que eram engraçados, mas possuíam uma beleza caso fossem encarados por muito tempo. Tinham os jogadores. E tinha o meu grupo, pessoas inteligentes e um pouco engraçadas.
Eu não era muito famosa na época, tinha um longo cabelo loiro que necessitava urgentemente de um corte e um óculos feio que estava entre mim e a cegueira. Minha pele era tão pálida que ficava vermelha por qualquer coisa e como eu passava mais tempo do meu dia na sala de jornalismo da escola, a chance dela tomar um bronzeado eram quase mínimas.
Enfim, mesmo a contragosto dos meus amigos, eu estava sentada despreocupada no refeitório, com um bloquinho na mão e com fones no ouvido, gritando musica clássica para meus tímpanos. Mesmo meio perdida entre minhas palavras para o próximo artigo do jornal, pude notar por debaixo dos meus óculos como quase todos ali estavam olhando para os atletas na mesa do canto. Tristes e ao mesmo tempo irritados pela derrota que sofreram no sábado passado.
Me perguntei muitas vezes se havia pegado pesado demais com a resenha sobre o jogo. "Fracasso total e em casa!", era o titulo, o resto do artigo não era nada mais que verdades sobre como eles jogaram realmente péssimos na disputa passada, tão perdidos quanto baratas tontas em um campo.
-Não deveria encarar tanto. – Falou Alita, alisando seus fios ruivos ao meu lado. – Ainda acho que eles podem ter ficado chateados por causa do jornal.
-E eu acho que não. Olhe só para eles. – Falei, apontando discretamente para o grupo. – Estão tristes demais por terem perdido o Nacional para se importarem com um artigo de quatro parágrafos sobre o jogo.
-Não sei não. Não acha que foi um pouco sincera demais nos seus quatro parágrafos, Julie?
Dei de ombros, voltando a encarar meu bloquinho.
-Pessoas gostam de sinceridade. Principalmente quando não são sobre elas.
Em seus dezenove anos, duas unidades mais velha que eu, Alita era uma pessoa cautelosamente ótima, mesmo ela sendo um pouco rude quase sempre. Estudávamos juntas desde o maternal, foi uma espécie de amizade a primeira vista que raramente acontece.
-Vi os gêmeos tirando sarro deles ontem. Eu jurava que se não fosse pela fama que eles possuem, aqueles dois magrelos teriam apanhado do time inteiro pelos comentários.
Pedro e Pietro estavam sentados próximos a janela, as namoradas de ambos estavam sentadas em seus colos, ignorando os espaços vazios no restante da mesa. O cheiro do cigarro, ou seja lá o que eles estavam fumando, estava escapulindo pela janela, para a felicidade de todos. Aquela dupla era temida por todos na escola, incluindo os professore e o diretor, que no momento, tentavam não dar a mínima para as delinquências que aqueles dois sempre aprontavam.
De repente, eu senti algo. Não uma presença ou temor, mas a certeza de que algo estava vindo. O refeitório inteiro notou e se silenciaram em expectativa, de um segundo para o outro tudo ficou tão quieto que se um garfo caísse no chão, o som iria ecoar por todo o ambiente.
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MADDISON
RomanceJulie Maddison era uma boa garota! Não só pelo fato de sempre ter se saído bem nas matérias escolares, ou pelo motivo de que era gentil com qualquer um que encontrasse, ou porque era um amiga verdadeira e atenciosa para muitas pessoas que, na maiori...