Quando eu acorde no meio do que parecia ser um mar de dores de cabeça e enjoos, a primeira coisa que enxerguei foi um teto branco e desfocado. Não pude conter um gemido de frustração por uma onda confusa de dor assim que tentei me levantar.
-Veja, Liam, ela esta acordando. Querida, como se sente? – Falou minha mãe, um pouco alto demais.
-Onde estão meus óculos?- Sussurrei.
-Droga! – Exclamou um homem, meu pai. – Esqueci.
-Como é que você esqueceu? Estava sobre a mesa da cozinha, do lado da mochila de roupas que eu pedi para você pegar.
Papai pareceu ficar sem resposta.
-Mãe, não tem problema. Eu consigo sobreviver sem a visão perfeita por algumas horas. Só, por favor, fala um pouquinho mais baixo, meus nervos e veias cerebrais parecem que estão prestes a explodir e contaminarem meu cérebro com sangue.
-Desculpe querida. – Pediu ela, bem baixinho agora.
Pisquei para ver se conseguia distinguir alguma coisa no meu campo de visão. Não consegui.
-O que foi que aconteceu? – Perguntei.
-Sofreu um acidente, meu bem. Não se lembra?
Ah, sim! A freada descuidada e imprópria dos jogadores que não tinha nada haver com um trocadilho de jogo. Meu Deus, eu podia ter morrido!
-Parece que um carro bateu no seu, a polícia não sabe bem explicar.
Que novidade! A polícia ali era tão eficiente quanto às perguntas de idade em sites impróprios. Acho que as crianças que brincavam de polícia e ladrão, faziam um trabalho melhor.
-Quem me trouxe para cá?
-Um Stiveblack. – Falou meu pai, pelo que parecia, entredentes.
-Ah, Liam, não fique assim. Foi muita gentileza da parte do rapaz trazer Julie para o hospital, e pagar a conta, e ligar para a gente...
-Ele pode enfiar o dinheiro dele no...
-Pai!
Falei ao mesmo tempo em que minha mãe gritava:
-Liam! Pelo amor de Deus, deveria estar agradecendo ao garoto, não praguejando.
Papai soltou um suspiro revoltado.
-E quem não diz que não foi ele que causou o acidente, Carmen? É bem do feitio daquela família idiota fazer merda.
-Não foi ele. – Falei. – Anthony me tirou de lá, foi outra pessoa que bateu no carro.
-Viu, Liam?! O que eu disse? Os filhos nem sempre são como os pais.
Convencimento era algo que estava longe de passar pela mente do meu pai a respeito daquele assunto. Seu ódio pela família do Anthony começara desde a sua época da escola. E era um assunto chocante e imperdoável demais para ele, principalmente porque minha mãe estava envolvida. Que sorte meu pai ter chegado antes dela de ser brutalmente violentada pelo pai de Anthony. De qualquer jeito, todos ficaram com cicatrizes, algumas bem mais visível, como a que tinha no rosto do senhor Alísio Stiveblack, cortesia de Liam Maddison. E outras eram mais ocultas, envolvidas em meio de magoa, ressentimento e superação.
-Não importa. Não gosto deles. E se esse garoto não fez nenhuma besteira ainda, pode apostar que vai fazer.
Não conseguia enxergar ainda, mas podia apostar que minha mãe estava revirando os olhos para meu pai. Logo senti suas mãos alisando meu cabelo, tão reconfortante que nem notei quando adormeci mais uma vez.
Quando acordei novamente, o quarto estava silencioso e claro. No entanto, eu sabia que não estava sozinha.
-Você sabe que eu não enxergo nada sem o óculos, não sabe? Por que não chega mais perto e se identifica. – Eu disse, encarando o borrão colorido perto da porta.
-Só queria saber como você estava. Não queria incomodar.
Anthony se aproximou, parando bem ao lado da cama.
-Você poderia estar por aqui? Ainda está no horário de visita?
-Não, mas eu estava no corredor esperando seu pai sair para poder entrar aqui de penetra. E então, como se sente?
-Como se tivesse sofrido um acidente de carro, mas vou sobreviver.
-Que bom que não se machucou muito.
-Pois e. Obrigada também, por me trazer para cá e por pagar a conta.
-Eu ia dizer que não foi nada, mas como seu pai jogou um monte de dinheiro em cima de mim, duvido que ainda tenha esse direito.
Fiz uma careta.
-Ele não fez isso.
-Fez sim, tenho uma sala de espera inteira de prova. – Sua voz parecia divertida, nem um pouco magoada.
-Desculpe por isso.
Ele ficou um instante em silêncio antes de responder.
-Não precisa pedir desculpas. Você não tem culpa em nada disso, anjo.
-Tenho sim. Foi muito gentil da sua parte, e eu tive muita sorte de você estar passando por ali naquele instante.
-Eu diria que foi destino. Mas, na realidade, eu gostaria de te pedir um favor.
-Claro, estou ouvindo. – Falei.
-Sei que é um direito e dever seu. Mas, acabamos de sair de um nacional e estamos prestes a entrar em outro campeonato, se a equipe sofrer perdas agora...
-Você não quer que eu dê queixa?
-Nos dois sabemos de quem foi à culpa do seu acidente, anjo.
-Anthony, eu podia ter morrido com aquele acidente. Eles foram um pouco longe demais, não acha?
-Sei que sim. E pode ter certeza que vão pagar por isso, mas... o jogo e... droga! Eu falei para você tomar cuidado!
-Se você dizer que eu tive culpa, juro que levanto daqui e te dou uma surra.
-Não, não e isso. É só que... por favor, Julieta, não dê queixa. Se eles forem presos, mesmo que só por alguns dias, vão perder o direito de jogar no time por causa da política da escola.
Aquele foi o momento em que eu deveria ter notado que tudo estava sendo bom demais para ser verdade. Um garoto mau, de repente interessado demais na minha pessoa. Pelo amor de Deus! Os sinais estavam ali para quem quisesse vê-los, estavam quase se esfregando no meu rosto. Como eu não pude ver que tudo aquilo não se tratava do meu bem estar ou da minha decência? Era apenas uma tática para eu não entrar com um processo contra os amigos dele. Contra o time dele. Contra os status dele. Mas como a ingenuidade ainda habitava um pouco em mim naquela época, tudo que conseguia pensar era: Ele me avisou, me salvou e estava no meu quarto no hospital mesmo sabendo que meu pai tem ódio pelo seu sobrenome. Foram esses pensamentos que fizeram meus olhos encara-lo e minha decisão tomar mais uma estrada errada que certamente iria me ferrar no futuro.
-Tudo bem. – Respondi.
-Obrigado. – Sua voz transbordava alivio.
-Não me agradeça. E acho melhor você ir, antes que meu pai volte.
-Certo. Eu espero que fique melhor logo.
-Vou ficar. Obrigada.
Escutei a porta se abrir e fechar com um baque. E quando meu pai voltou de novo, fingi estar dormindo para que ele não visse a minha cara chateada.
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MADDISON
RomanceJulie Maddison era uma boa garota! Não só pelo fato de sempre ter se saído bem nas matérias escolares, ou pelo motivo de que era gentil com qualquer um que encontrasse, ou porque era um amiga verdadeira e atenciosa para muitas pessoas que, na maiori...