Kapitel VII

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FORDAMPE

capítulo sete — evaporar


Baekhyun sabe o que é teatro, mas ele nunca imaginou que o que fazia seu professor pintar o rosto e subir em um palco fosse teatro também. O que ele conhece dessa arte é o que ele cresceu assistindo nas escolas: interpretações pouco criativas de histórias do Livro Sagrado, tudo sempre organizado pelos pastores da Igreja como fonte de entretenimento e aprendizado.

De todas as coisas, Baekhyun jamais diria que teatro e arte podem caminhar de mãos dadas, mas enquanto ele observa seu professor removendo a tinta do rosto com água e um pedaço de pano, os cabelos loiros tão desgrenhados como se ele tivesse sido mastigado pelo vendaval afligindo Copenhagen, o garoto Morgan entende a certeza dentro dessa possibilidade.

Ele é incapaz de se sentir tranquilo com qualquer coisa, desde que ele foi extremamente descuidado em se deixar levar pelo espetáculo em vez de ser cauteloso, mas nenhuma das pessoas que o enxergou ou passou por ele pareceu representar qualquer ameaça real. Além do rapaz do Prédio de Artes, que Baekhyun vagamente lembra quem é, o único rosto que ele conhece é o de Dreier e é por isso que tem lhe seguido.

Houve algum acordo mútuo e silencioso entre todas as pessoas quando elas se deram conta de que o menino Morgan estava entre elas, mas não houve surpresa, rejeição ou qualquer forma de escândalo. Pela primeira vez, Baekhyun foi cumprimentado como uma pessoa normal por alguém e ele ainda está mergulhado demais na irrealidade disso para se dar conta de todas as outras coisas.

Apesar de sempre parecer ligeiramente incomodado com tudo e com nada ao mesmo tempo, Dreier também não rejeita Baekhyun, o expulsa ou o critica por caminhar ao seu redor como um cachorro sem dono. Em vez disso, ele se mantém em silêncio, lavando a tinta do rosto na frente de uma penteadeira muito parecida com a que Juliet tem no quarto e fumando com uma tranquilidade invejável, como se esperasse pacientemente pelo momento em que o menino lhe observando através do espelho vai finalmente cair em si.

Baekhyun não sabe, mas o que ele fez foi invadir o camarim de atores do teatro. É um espaço comprido, mas estreito, delimitado por grossas cortinas vermelhas e decorado com coisas que Baekhyun nunca viu antes, como uma arara de roupas móvel segurando dezenas de figurinos ou uma estante pequena com as prateleiras ridiculamente lotadas de todo tipo de tinta e maquiagem. Há cadeiras de metal e de madeira espalhadas pelo lugar e tapetes diferentes cobrindo o chão. Uma garrafa aberta de vinho tem lugar na penteadeira ocupada pelo seu professor e, ao redor do local, há copos de plástico e de vidro espalhados sobre qualquer superfície estável; é caótico, mas não exatamente desagradável.

"Isso é parte de um ato de coragem?" Dreier pergunta de repente.

Quando não obtém uma resposta, ele procura pelos olhos do garoto através do espelho, deixando de lado o pano com água e recostando-se suavemente contra o apoio da cadeira de metal em que está sentado. Mesmo que ele tenha literalmente acabado de fumar um cigarro — cuja guimba ainda está queimando dentro do cinzeiro —, ele acende outro, soprando para fora a fumaça do anterior antes de tragar para manter o próximo aceso. Larga o isqueiro — seu maldito Zippo prateado —, de qualquer jeito na superfície da penteadeira e faz um esforço mínimo para continuar observando seu aluno através do espelho diante de seu rosto.

A realização atinge Baekhyun Morgan como um soco na boca do estômago.

Ele não estava esperando que fosse realmente conseguir entrar nesse lugar de novo, mesmo que a única referência para o convite que ele recebeu seja essa. Também não esperava ser tratado com tanta normalidade por pessoas que nunca viram o seu rosto antes. Mas ele pode dizer que esperava menos ainda que Dreier não só já tivesse lido seu resumo para o livro, como também decidiu citá-lo aleatoriamente.

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