KAPITEL V: SAMFUND
Era quase cruel de tão irônico que ele estivesse ali também.
Com a queda de energia, causada pelo vento intenso e pela chuva que ele traria mais tarde, tudo o que Baekhyun podia ter em meio ao breu era um vislumbre do rosto de seu professor, iluminado singelamente pela luz alaranjada da pequena chama queimando no isqueiro.
Dreier era uma silhueta sombria segurando um Zippo prateado, pintada em um tom sóbrio de laranja. A escuridão já era suficiente para deixar Baekhyun Morgan apreensivo, mas a presença repentina de seu professor ali parecia intensificar essa sensação indesejada, essa forte impressão de estar à mercê do desconhecido.
Com dedos muito trêmulos — tanto pelo frio quanto pelo nervosismo — Baekhyun guiou a ponta do cigarro até a chama no isqueiro, acendendo-o e tragando para que continuasse a queimar. No instante seguinte, a chama desapareceu com o mesmo click que a fez surgir e tudo estava mergulhado em breu novamente. Ou quase.
Quando tragava o cigarro, a iluminação provinda da ponta se expandia minimamente, só o suficiente para ele enxergar alguns centímetros adiante. O rosto de Dreier já não era mais visível. Nem suas mãos. Nem o assustador e constantemente presente suéter amarelo que Morgan jurava que ele estava usando.
"Hvad laver du her, dreng?" A voz do professor quebrou o quase silêncio que afogava Baekhyun naquele lugar sem luz, mais alta e clara que o ruído do vento.
O que você faz aqui, menino? Soava rude se parasse um pouco para pensar, mas havia sido dito de uma maneira suave. Ele só estava fazendo uma pergunta, e Baekhyun ainda assim sentia como se estivesse sendo confrontado de alguma maneira.
E talvez estivesse. No fim das contas, Dreier sabia ser sutil.
"Eu... estava indo para casa." Não era uma mentira, mas sua voz era incapaz de se manter firme mesmo assim. Baekhyun não gostava nem um pouco da ideia de soprar palavras para o escuro, mas gostava menos ainda do vazio desconfortável e inexplicável que aquilo lhe causava. Moveu os pés nervosamente e sentiu a parte de trás das pernas tocar a parede de tijolos às suas costas. "Parei para fumar. Não dá para... para acender um cigarro no vento."
O som de pedrinhas sendo esmagadas sobre o chão de concreto soava muito mais alto do que deveria e Baekhyun sentia o corpo inteiro se arrepiando sob a sensação de não saber o significado daquilo. Fechou os olhos e encolheu o corpo sob o casaco, o cigarro pendendo aceso da boca e iluminando parcialmente seu rosto de aparência cansada.
"Vá para casa logo." A voz de Dreier se projetava da esquerda e Baekhyun instintivamente olhou naquela direção. Meio segundo depois, uma porta se abriu e jogou a luz amarelada de um monte de velas para o lado de fora. A silhueta do professor tornou-se bem mais visível naquele momento, e era caótica a maneira como ele parecia tão diferente, o cabelo loiro despontando em todas as direções, o rosto pintado. "Esse não é um lugar para meninos como você."
No minuto seguinte, ele havia adentrado o local iluminado e Baekhyun se viu afogado no escuro outra vez, as pupilas dilatando em um esforço inútil de enxergar o que estava a sua frente. Grudou os ombros na parede de tijolos e tentou relaxar a tensão do corpo, suspirando em seguida e soprando para fora toda a fumaça com gosto forte presa em sua garganta.
Baekhyun não saberia dizer quanto tempo mais ele permaneceu parado ali, letargicamente encostado à parede. Tudo o que ele sabe é que só se moveu outra vez quando as luzes da rua se acenderam de novo — ainda terrivelmente falhas em sua missão de permanecer estáveis — e quando foi capaz de sentir a primeira gota de água trazida pela chuva caindo em seu rosto, escorrendo pela bochecha até o queixo como se trilhasse o caminho de uma lágrima.
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sociedade dos poetas mortos
Hayran Kurgu[sehun/baekhyun] Na Dinamarca de 1988, Baekhyun Morgan está à deriva. Quando começou a estudar Literatura, ele não se imaginava fazendo parte dos boatos que seguiam Sehun Dreier pelos corredores da universidade. Porém, à medida que se deixa levar pe...