NBi

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Vocês já passaram pela biqueira, ouviram os traficantes que uma vez te ameaçaram de morte gritar "viadinho" e depois responderam "a palavra certa é bissexual, amor"?A sensação é demais! E me levou a entender que "ser lido" como bi não é necessaria...

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Vocês já passaram pela biqueira, ouviram os traficantes que uma vez te ameaçaram de morte gritar "viadinho" e depois responderam "a palavra certa é bissexual, amor"?
A sensação é demais! E me levou a entender que "ser lido" como bi não é necessariamente algo que nos acontece, mas algo que nós temos potencial pra fazer acontecer.

Pessoas cisgêneras têm feminilidade E masculinidade. Eu tenho feminilidadeS COM masculinidadeS e vice versa.
O louco do bagulho é que pessoas cisgêneras são diferentes de mim, de nós. É isso que elas não entendem: existe uma população de bilhões de pessoas que as enxergam como "o outro". Não necessariamente o avesso ou o adversário (como elas costumam nos ver), mas o outro da outra espécie, e só. Tal como um peixe percebe um javali.

Bissexuais cisgêneros vivem a ilusão de "passabilidade estática", seja ela hétero ou homossexual.
Geralmente eu contra-argumentaria até provar que passabilidade não existe, mas ao invés me responsabilizar pelas tolices que o opressor diz sobre si, prefiro me dar a oportunidade de dizer algo produtivo por mim (e, quem sabe, pelos meus).
Enquanto eles (supostamente) têm passabilidade monossexual, já eu vivo um vai-e-volta de ser reconhecida e des-reconhecida (e reconhecida outra vez, depois des-reconhecida de novo) como bi pela mesma pessoa, as vezes num período de minutos.

Eu, a bicha/ nem-homem-nem-mulher/andrógina/figura pseudo-feminina não tenho a vantagem de ocultar os traços "sexuais" da minha personalidade, uma vez que todas as minhas características são erotizadas pela idéia de que o meu gênero, em si, é uma parafilia. Uma idéia pregada pela medicina branca, não só um rumor das ruas.

Meu "bom dia" é literalmente visto como um assédio. Meu olhar é um "olhar estuprador". As pessoas me vêem passar e, em frações de segundos, olham pra minha bunda ou pro volume do meu pênis marcando o vestido, depois elas simplesmente gemem no meio da rua simulando o que elas presumem ser meus gritos de dor durante o sexo anal (que mais uma vez, elas é que presumem que eu pratico).
Tem noção da gravidade?

Se pessoas cisgêneras quiserem espalhar que eu estupro árvores ou que eu me masturbo pensando em unicórnios (ok, essa rolou uma vez), elas podem, porque elas são as racionais e eu o ser invertido "cujo o corpo não corresponde ao cérebro".
E digo tudo isso considerando que eu sou uma transfeminina com barba marcada e sem qualquer traço clássico de progesterona no corpo. Ainda assim, eu sou uma das figura mais "excêntricas" do meu bairro.
Não há como sair na rua das favelas do Paecará e passar sexualmente despercebida, isso é uma fantasia. Passar "reto" como figura normativa não é um privilégio dos "bi heterocentrados", é um privilégio cis.
A bagaceira começa quando a monossexualidade foi feita apenas para pessoas cis. Tanto que quem assume namoro com pessoas trans é automaticamente colocado como alguém que "quer o melhor dos dois mundos", alguém com fetiche em misturar o feminino e o masculino.
Falando no português claro, todo mundo que se envolve com pessoas trans (sobretudo nós pessoas trans que nos envolvemos com nossos iguais) é lido como bi.
É simples: se pessoas trans são "o terceiro gênero", se atrair por pessoas trans é "o terceiro desejo".

Bifobia: Estruturalidade É A PalavraOnde histórias criam vida. Descubra agora