Capítulo 7 O trato

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A dois mil oitocentos e quatorze metros de altura sobre o cume congelado de uma montanha chamada Monte Hérmon, duas entidades cheias de certa elegância mantinham olhares fixos para além das nuvens do céu.

—Está certo sobre isso, meu senhor?—Perguntou uma das sombrias figuras aladas, e seus indecifráveis olhos amarelos emitiram certo brilho pavoroso.

—Eles virão, Azazel—disse o outro que era dono de um rosto que realçava uma beleza nunca antes contemplada por olhos mortais.

Segmentadas armaduras escuras como a noite, pareciam roubar a quase inexistente claridade ao redor de ambos enquanto protegiam seus corpos
viris. Aquele cujo o nome significa "Portador da luz" preservava-se majestoso, sorridente e confiante. A mão direita serrada sobre o cabo de sua espada que era em sua maior parte coberta por Berilos vermelhos, mesmo ansiando por um combate de desforra permanecia imóvel. Assim como Azazel, esse ser de enormes asas negras tinha a cabeça e o rosto quase todo coberto por um preponderante elmo negro, o qual um grande par de aterrorizantes chifres vermelhos se destacava acima dele.

Sobre a proteção de ambos, logo a frente de seus pés descalços, permanecia um grande baú enferrujado. O qual era atado por um forte cadeado preso a uma grande e grossa corrente. Aparentando ter muitos séculos de existência, com certeza, havia sido construído para guarda algo de extrema importância.

Não demorou para que uma enorme carruagem de fogo iluminasse o céu trazendo luz onde as trevas reinavam. E de dentro dessa carruagem uma outra figura alada revelou-se, e esse de asas abertas pairava acima da montanha e dois outros anjos o acompanhavam, um a sua direita e outro a sua esquerda.

E em segundos, os três seres portadores de intenso brilho tocaram seus pés sobre o monte. E ao perfilarem-se diante das duas criaturas sombrias, ambos, de seus cintos vermelhos desembainharam suas flamejantes espadas. Adotando então uma ensaiada posição de batalha, aguardavam algo que parecia um combate inevitável.

—Achas que ainda tens algum tipo de afinidade conosco para que criem coragem de se apresentarem diante de nossas faces, filhos da perdição?— Gritou aquele que tinha cabelos dourados e olhos azuis, este vestido com uma túnica vermelha tinha os peitorais protegidos por uma cota de malha que brilhava como prata polida.

—Miguel.... Miguel.... —sussurrou o único que dentre deles possui vários nomes—não viemos pelejar, e sim oferecer uma troca. O que me diz?

—Não a nada o que me faça barganhar contigo, Lúcifer—Gritou Miguel, e sua voz era como o rugido de um leão enfurecido—agora retorne ao abismo ou o levarei pessoalmente para lá, e dessa vez me certificarei de que nunca mais saia.

—Acalme-se, irmão!—disse Lúcifer, que ainda sorria confiante sem demonstrar temor algum sobres as ameças feitas pelo Arcanjo—tenho certeza que o que possuo aqui é de seu interesse.

—Nada do que vem de ti nos manifesta interesse algum, caído!—Gritou o Anjo que tinha um manto dourado por sobre as ombreiras de sua armadura—Traiçoeiro!—continuou, ameaçando avançar contra as duas figuras. Mas, esse fora impedido por Miguel.

—Rafael, quantas ofensas vindas de uma boca que fora feita apenas para cantar louvores—zombou Azazel—não teria tanta coragem de proferir tais injúrias se Miguel não estivesse ao teu lado.

—Não ouses me desafiar Bode do Deserto!—Gritou ele brandindo sua espada, mas após ser apartado por Miguel e o outro anjo de nome Uriel, Rafael se acalmou.

—Meça suas palavras, Azazel—disse Miguel—ou prometo que de sua boca som algum voltara a ser proferido.

Azazel sorriu, mas não ousou dizer palavra alguma, pois Miguel aparentava estar furioso, e mesmo envolto por toda sua glória, ainda era um ser aterrorizante. O qual até Lúcifer mesmo sem tomar isso como verdade, temia de alguma forma telo que enfrentar novamente.

—O que queres?—Perguntou Miguel, encarando Lúcifer diretamente nos olhos.

— Quero você fora do meu caminho por um dia inteiro!—sussurrou Lúcifer, em tom irônico, como é de seu costume.

—E o que te faz pensar que te deixarei caminhar livre pela terra sem interferência alguma contra tuas atrocidades?

—Três milhões de almas inocentes que aqui estão aprisionadas—respondeu Lúcifer, que ao empurrar com as próprias mãos o grande baú o ofereceu a Miguel—abro mão de todas—continuou sorrindo orgulhosamente—isso somente se por um dia fizer vista grossa para com as minhas ações.

—O que pretendes com isso? — Perguntou Miguel.

—Tem a minha palavra que não farei mal algum aos babuínos—disse Lúcifer—apenas desejo encontrar Aziel e levá-lo comigo.

—Gabriel já está na terra a procura de Aziel—respondeu Miguel—não posso controlar as ações dele, pois as ordens dadas a ele não partiram de mim.

—Não me importo com Gabriel, mas sim contigo e o restante dos que respondem aos seus comandos—disse Lúcifer ao retirar de dentro de suas vestes uma chave de ouro, a qual supostamente abriria o baú—o que me diz temos um trato?

—Você tem doze horas—disse Miguel, e estendendo uma das mãos pegou a chave a seus cuidados—passado esse tempo, se ainda estiverem sobre os domínios de meu pai, eu mesmo irei caçá-los e desse vez não mais terei misericórdia.

E após um breve sorriso Lúcifer e Azazel desapareceram e apenas a voz do rei das trevas ecoou:

—Temos um trato!

—O que foi que você fez?—Perguntou Uriel, totalmente insatisfeito sobre aquilo que acabara de presenciar.

Mas Miguel não se abalou pela insatisfação de seus companheiros.

—Vocês dois voltem, levem o as almas do baú para juízo. Preparem o exército, digam a todos que uma grande batalha se aproxima.

—Você não vem conosco?—quis saber Rafael.

—Não posso—respondeu Miguel—antes preciso encontrar Gabriel, hoje ele é nossa esperança. E não vou abandoná-lo.

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