Capítulo 01

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Uma sardinha prensada numa lata teria mais espaço do que ela dentro daquele enorme bolo de papelão, pensou Sakura Haruno. E se, por acaso, nunca saísse dali?
Gotas de suor porejavam pelo rosto abaixo, e as gotículas, como contas de cristal, inundavam seu peito e deslizavam entre os seios. Ela sorriu, arqueou o traseiro e alisou a frente de seu traje contra os seios.

— Ai! — gritou quando uma das falsas moedas de ouro feriu sua mão.

Outro assunto que queria discutir com Itachi: ele não mencionara aquela fantasia quando a contratou. Aliás, havia muita coisa ainda para falar a respeito.
A fantasia consistia em pequenos pedaços de seda vermelha nos lugares estratégicos e gaze quase transparente que escondia os outros. E uma porção de ridículas moedas de ouro. Todas as vezes que ela se movia, as benditas moedinhas tilintavam como enfeites chineses que vibram ao vento.

— Você está pronta? — uma voz estranha sussurrou.
— Sim. — Não, não realmente — Eu devia estar em casa, assistindo TV — murmurou ela. — Exceto que não tenho televisão.
— Silêncio — recomendou-lhe a voz.

Como se o solteiro daquela noite não fosse suspeitar que alguém estivesse dentro do falso bolo de papelão de três andares. Só se fosse muito tolo. Ela não teve tempo de ponderar sobre tal pensamento quando a caixa começou a rolar.

— Ei, devagar — gritou Sakura quando uma tábua bateu no seu quadril. O bolo parou comum solavanco. Sua cabeça bateu contra o lado do sufocante artefato de papelão. Ela passou a mão na testa para massageá-la.

— Desculpe-me pela parada abrupta — declarou a voz. — Baterei no bolo três vezes. Será a dica para você pular fora.

Dentro do exíguo espaço do interior do falso bolo, ela ouviu portas se abrirem, seguidas por aplausos vigorosos. Ela não havia feito cálculos matemáticos. Dallas, Texas, adicionado à festa de despedida de solteiro e álcool, significava problemas pela frente. Talvez devesse ter considerado aquele trabalho mais cuidadosamente.
O dinheiro a receber pelo serviço extra parecia tão bom que ela não pensara em nada mais. Não que pudesse voltar atrás. Contas tinham que ser pagas.

Toc... Toc... Toc...

Não havia tempo para se preocupar agora. Sakura empurrou a tampa do megabolo.
Nada aconteceu.

— Você deve sair agora — a voz sussurrou com urgência.
— Não posso — replicou ela.
— Então, Itachi, você a amedrontou? — gritou alguém.

Sakura cerrou os dentes e empurrou com toda sua força. A tampa saltou e caiu no chão com um baque surdo. Que maravilha poder respirar novamente!

— Da maneira que Itachi gosta de doce, talvez ele a conserve para si mesmo — alguém falou. Uma risada geral ecoou pela sala.

Talvez ficar dentro do bolo não fosse tão má idéia, agora que podia respirar.

— O que há de errado?

O pobre rapaz parecia frenético. De qualquer modo, ela duvidava que Itachi quereria pagá-la para ficar dentro do bolo. Sakura tentou ficar de pé, mas suas pernas não cooperaram.

— Minhas pernas estão dormentes. Não consigo me mexer.

Mãos a seguraram e puseram-na de pé. Um trilhão de agulhas alfinetavam suas pernas. Ela as esfregou enquanto o olhar varreu a sola precariamente iluminada.
Havia talvez vinte pequenas mesas cobertas Com toalhas brancas. Ela calculou duas dezenas de homens, os olhares fixados nela. Tranqüilizou-se quando viu duas garçonetes movendo-se entre as mesas.

— Sorria.

Em vez de sorrir, fixou o olhar nos olhos de um deus moreno. Se um homem pudesse ser descrito como bonito, ele era a própria imagem desse homem. Parecia ter vinte e dois anos, pelo menos quatro anos mais novo do que ela.
Automaticamente, Sakura baixou os olhos para depois focalizá-los em volta da sala cheia. Quase deixou de vê-lo. Sua visão mudou para uma das colunas existentes na sala e para a pessoa encostada nela.
Se o moreno a seu lado pudesse ser chamado de luminoso, aquele outro sujeito poderia ser chamado de obscuro, ele a fazia lembrar-se de uma nuvem carregada de eletricidade prestes a produzir um relâmpago ou trovão. Sakura tinha a impressão que ele a mirava com intensidade. A expressão do rosto era de enfado e mau humor.
Se ele não queria estar numa despedida de solteiro, por que viera?
Ela tremeu. Nenhum sorriso. Nenhum calor. O homem sombrio lhe deu um certo nervosismo. Estampando um vasto sorriso na face, ela voltou a atenção para a pequena multidão ali em frente, fazendo algazarra.

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