Profanação - 4. O Demônio de Cabelos Rubros

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Amazonas 1870. Vilarejo Docas.

A noite estava calma e a luz da lua cheia iluminava quase todo um vilarejo pequeno, que se adentrava para uma floresta gigantesca e profunda, o córrego do rio caminhava por entre algumas casas e podia-se ver o refletir da lua nas águas.
Dois jovens rapazes estavam sentados entre as madeiras que serviam de sustento para manter as casas sobre as águas do rio, ambos estavam batendo os pés sobre elas e conversando sobre seus futuros, aparentavam ter seus dezesseis anos e um tanto entediados começaram a expor suas ideias, o mais magro e criativo de olhos claros e aparência esguia falou primeiro.
-Sabe Oliver, não quero viver para sempre aqui nesse lugar, tudo que fazemos é pescar e obedecer nossos pais fazendo sempre o que eles mandam, limpe isso, arrume aquilo, vá caçar nosso almoço e janta e essas baboseiras. Dizem os boatos que em outros lugares, existem povos diferentes e que eles são mais evoluídos, suas casas, suas roupas e até mesmo as coisas que eles comem, nosso povo é muito isolado, nunca vimos nada além dessas malditas árvores e esses lagos com peixes e animais, já estou farto disso aqui.
O garoto pegou uma lasca de madeira e arremessou contra as águas do rio, com raiva de tudo aquilo.
-Porque eu nasci nesse lugar? Eu nem gosto de tudo isso, é tudo tão chato e entediante!

E deitou olhando para a lua o garoto reflexivo.

-Sabe Oliver. Podiamos construir uma jangada e irmos embora desse lugar, o que você acha?

Oliver o outro garoto de cabelos cacheados mais gordinho e mais alegrinho responde.

-Você ficou maluco? Se formos embora pra onde iriamos? E como viveríamos lá fora e se as outras pessoas lá forem perigosas ou até mesmo canibais? Meus pais sempre dizem que se um dia cruzarmos a floresta encontraremos coisas assustadoras e que podem até nos matar, Jeremi.

Desdenhando de Oliver o garoto de aparência esguia chamado Jeremi retruca.

-Não seja cagão Oliver! Nossos pais falam isso porque tem medo que um dia os deixemos e quem sabe até encontremos coisas muito melhores lá fora, desse jeito com certeza não precisaríamos voltar para esse buraco onde nascemos.

Determinado Jeremi afirma.

-Amanhã mesmo vou começar a fazer a jangada, se quiser vir comigo, estarei no lago perto do matagal alto do lado das árvores maiores, lá é um pouco distante do vilarejo e ninguém vai naquelas áreas por medo da caverna que fica ali perto.

Medroso como era Oliver responde seu amigo assustado.
-Jeremi, a tia Pandora disse que...
-Disse o que Oliver? _Interrompeu seu amigo. -Sua tia vive contando mentiras e historinhas de quando ela era criança, de que via criaturas de arrepiar os cabelos dentro da floresta, as crianças acreditam em tudo que ouvem, você não é mais criança gordo burro. Agora vê se para de me alugar e vamos dormir amanhã tenho muito trabalho pra fazer, já que você não vai me ajudar a sair daqui.

Irritado Jeremi levanta e vai pra sua casa, enquanto Oliver um tanto triste percebe que seu amigo quer mesmo ir embora dali.
Passado uma semana, Jeremi e Oliver ficaram distantes um do outro, Jeremi até achou estranho Oliver não o ter encontrado durante esse período sendo que eles sempre se viam, o garoto esguio já haviam construído a jangada e a deixou perto da caverna, para que pudesse usa-la na sua fuga planejada para o outro dia, ele começou a amarra-la perto das árvores com os cipos, para que ela não fosse carregada pelas águas e logo que a camuflou com as folhas caídas das árvores ele começou a se preparar para sair dali, quando repentinamente ele ouve um barulho de folhas queimando ali nas proximidades. Estranhando o som já que ninguém visitava aquele local que ele havia escolhido para ir ele vai seguindo o som em passos suaves por desconfiar que fosse alguém que ele jamais pudesse ter visto ou até mesmo alguma criatura selvagem, Jeremi então ouve o barulho cada vez mais perto e em seguida começa a ouvir um grunhido estranho, parecia algum tipo de fala, mas ele não conseguia entender a pronuncia. Uma voz assustadora e grossa balbuciava alguma coisa que o garoto n conseguia interpretar, curioso ele se aproximou mais ainda e quando avistou o que era logo se escondeu atrás de um uma das árvores muito espantado com o que virá, e no susto ele pisou no rabo de uma cobra que estava ali foi então que no espanto em que a cobra tentou morde-lo e por pouco não conseguiu ele pisa em algumas folhas secas que estavam ali e tropeça em um cipo cruzado, caindo de costas.
Com medo de o que ele havia visto antes, te-lo percebido o garoto se levanta o mais rápido que pôde e tenta correr, quando ao se levantar ele da de cara com uma criatura assustadoramente terrível. O ser tinha sua forma humanoide, estatura mediana e uma pele extremamente negra e com tatuagens que cortavam sua pele em carne viva, seus cabelos eram longos, vermelhos como o fogo e molhados sempre pingando pequenos vestígios de brasa por onde passava, seus calcanhares e seus pés eram do avesso e possuía garras enormes nas mãos e nos pés, extremamente magro ao ponto de suas costelas e ossos ficarem visíveis e seus olhos eram dois globos brancos.
Jeremi tremeu dos pés a cabeça ao dar de cara com aquele monstro, o medo impediu que ele gritasse ou fizesse qualquer movimento, a criatura olhou dentro dos olhos do garoto e torceu seu pescoço de um lado para o outro movimentando sua cabeça como um cão quando está curioso, seus braços longos rastejavam no chão, ele foi se aproximando de Jeremi enquanto o menino ia se afastando de costas lentamente até ser barrado pela árvore que estava logo atrás, a criatura medonha percebeu que a cobra fugiu com medo e furiosa ela lançou um urro estridente abrindo sua boca enorme e com dentes negros e afiados, em seguida decepou Jeremi com as garras de sua mão direita, a cabeça dele rolou até parar perto da jangada e seu corpo tremulo caiu no chão sem reação.
A criatura em movimento fantasmagórico e rápido foi na direção da cabeça pego-a abriu seu cranio e começou a comer o cérebro de Jeremi.
Em uma distancia segura, Oliver viu toda a cena, ele tinha criado coragem de aceitar o convite do amigo de ir embora, mas depois de ver aquilo ele simplesmente correu e voltou para o vilarejo aonde procurou ajuda.

-Mas quando ouviram a história do meu avô o culparam pela morte de Jeremi e o colocaram na jangada mandando para bem longe do vilarejo, meu avô conseguiu sobreviver e encontrou pessoas que o acolheram e teve nós sua família. Essa é a historia que minha mãe me contava antes de morrer, é tudo coisa da cabeça dele e dela mas é isso que sei. Porque quer saber isso doutor...?
Ouvindo atentamente a história que Isabele uma jovem universitária da Pucc contava, o homem encapuzado ficou em silêncio por alguns instantes e tirou algo do bolso para mostrar para a jovem.
-Vê isso Isabele?
-Sim, é uma madeira... E o que tem? _Retrucou.
-Não é uma simples madeira, observe essas manchas de queimadura, vê a pequena chama nela acessa?
Desdenhando a menina pega seus materiais da mesa em que os dois conversavam e se levanta.
-Olha eu não sei quem você é nem o que deseja, mas já lhe contei o que queria saber, agora me deixe estudar eu preciso ir... _Ela virou as costas e foi saindo.
-Espere. _O homem de capuz a segurou pelo braço. -Obrigado por me contar um pouco da história de seu avô, essa madeira veio da jangada em que ele veio.











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