Profanação 10. Amigo Imaginário

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Me chamo Luiz hoje tenho 35. Tive um amigo e esse amigo era alguém muito especial para mim, pouco falo sobre ele pois todas pessoas que conto dizem que é coisa da minha cabeça. Mas sei que não, inclusive, muitas das vezes ele já interveio em minha vida e agora vou lhe contar um pouco sobre, mesmo que por algum momento ainda sim, você ache que sou maluco.

Desde muito jovem em meados dos meus 3 anos  de idade, esse amigo já conversava comigo, por vezes quando estava em casa meus familiares me perguntavam com quem eu estava brincando e eu respondia. -Com meu amiguinho Ykki. E de fato, ninguém acreditava muito no que eu dizia, achavam que era coisa da minha imaginação por ser criança. Uma certa vez, lembro-me bem disso, na creche onde eu estudei uma das professoras agachou-se próximo de onde eu estava e estranhando eu não estar brincando com as demais crianças e sentado sozinho em um cantinho na creche me vendo brincar questionou.
-Luiz querido, porque não vai brincar com as outras crianças? E quem é Ykki?
Pois ela havia ouvido eu falar o nome desse meu amigo, no qual não havia ninguém além de mim ali.
Foi então que respondi.
-Ykki é meu melhor amigo tia, gosto de brincar com ele e ele não consegue brincar com elas pois não podem vê-lo.
A professora então, me colocou em seu colo e perguntou mais sobre esse amigo.
-É mesmo? E como ele é?
Eu então um tanto envergonhado respondi.
-Ele é... Diferente das outras crianças.
A professora então entendendo a importância de Ykki no meu círculo de amizades olhou em direção a Ykki mesmo sem poder vê-lo e falou.
-Ykki meu querido, não tenha medo, todas as crianças são bem vindas a creche e você também, então, quando Luiz for brincar com as outras crianças, você pode se enturmar, não tenha vergonha e se quiser fazer companhia a seu amiguinho, pode também frequentar as aulinhas.
A professora não podia ver Ykki, mas eu podia ver perfeitamente seu semblante e ele ficou um tanto triste.
O tempo então passou, por inúmeras vezes conversei com ele em vários momentos de minha vida, me dava conselhos me fazia ser uma pessoa melhor, mas com o passar da minha idade, as pessoas começaram a achar estranho o fato de para eles eu estar falando sozinho, quando na verdade estava falando com Ykki.
Algumas pessoas até se afastaram de mim no ensino médio porque diziam que eu tinha probleminha, faziam bulling comigo e até me excluíam de alguns grupos de amigos, até que uma vez pedi para que Ykki mostrasse a eles que ele realmente existia, falando com eles ou simplesmente aparecendo para saberem que ele estava lá, mas Ykki nunca fez isso, até que uma vez passei vergonha com um pessoal ao falar de meu melhor amigo e pedir que ele fizesse uma aparição ou desse alguma prova. Mas Ykki ficou muito triste e sumiu. Aquele dia fiquei muito chateado e disse que nunca mais queria vê-lo.
Desde então realmente nunca mais o vi ou nem sequer o ouvi em lugar algum.
Isso foi a uns 20 anos atrás.
Porém foi a partir dai que as coisas começaram a ficar estranhas.
Depois que deixei de ver Ykki, um tempo passou e comecei a presenciar vultos escuros e vozes dentro de minha casa, eu dizia para meus pais o que eu via, mas eles nunca acreditavam, até me levaram em algumas consultas com psicólogos e psiquiatras, eles diziam que eu tinha alucinações e me receitavam remédios controlados, mas eu sabia que não estava ficando louco, então eu os jogava fora.
Até que certa noite quando estava dormindo em meu quarto senti algo gelado entrar por debaixo de minha coberta e deslizar sobre minha perna, foi então que bati o braço no interruptor de luz que ficava ao lado de minha cama e acendi, para ver o que estava acontecendo e o que era aquilo.
Quando me deparei com uma criatura bizarra, seu rosto era vermelho com marcas negras, olhos amarelados e chifres pequenos e pontiagudos ao redor da cabeça, deitado ao lado do meu pé, seus olhos estavam revirados e sua boca aberta e escura estendida um palmo abaixo do queixo.
Não pensei duas vezes antes de gritar e sair correndo, pulei da cama e fui em direção a porta do quarto, mas antes que eu chegasse até ela se fechou e me trancou lá dentro, eu gritei por socorro para meus país, enquanto aquela criatura vinha em minha direção lentamente fazendo sons ainda mais assustadores. Meus pais me ouviram e vieram em meu socorro tentando abrir do lado de fora, até que conseguiram, mas foi ai que as coisas pioraram, quando eles abriram a porta a criatura me agarrou pelo pé e me lançou contra o teto, eu sentia como se meu corpo estivesse pesado e preso em amarras. O monstro levitou até minha direção e estendeu sua boca até o meio de seu peito e lançou sua língua contra meu pescoço que se enrolou me enforcando para que eu não gritasse e sua ponta se estendeu até fincar eu meu coração, uma dor aguda tomou parte de de mim, aquele monstro estava drenando minha energia vital, eu sentia isso, um frio extremo tomou conta de meu corpo e eu não conseguia fazer mais nada além de esperar minha morte.
E nesse momento eu orei, e pedi para que alguém me ajudasse, foi então que um feixe de luz cruzou a janela de meu quarto e lá estava ele, Ykki.
Ele deu um leve sorriso e se despediu.
-Adeus... Amigo... Eu sempre estive aqui.
Ele estendeu suas mãos em direção a criatura fantasmagórica e um clarão branco iluminou todo o quarto e os dois sumirão.
Eu não vi o que aconteceu direito, mas logo cai de bruços no chão e voltei a respirar, foi um alívio, achei que fosse morrer.
Meus pais desesperados vieram a meu encontro e só a partir dai começaram a acreditar em mim.
E desde então, nunca mais senti a presença de Ykki, nem de nenhuma outra criatura, tentei entrar em contato com ele várias e várias vezes e agradecer o que ele havia feito por mim, mas nunca mais tive essa oportunidade.

Depois de ouvir o relato o homem de capuz levanta da mesa em que Luiz e ele estavam e questiona.
-Você teve um grande amigo, e também possui um dom espiritual muito forte.
E se eu te dissesse que Ykki era mais que um grande amigo? E que na verdade aquela criatura que te assombrou era mais que um fantasma?
Quando alguém com seus dons de enxergar entidades nobres nasce, elas são chamadas de profetas e Ykki na verdade era um anjo, que estava te guiando e que provavelmente iria te instruir a grandes feitos, mas quando pessoas como você os afasta, os demônios envolta se aproveitam dessa brecha para tomar controle de escolhidos como você, pois eles não querem que o bem prevaleça.
Ykki se sacrificou para selar seus dons e para que você não pudesse mais entrar em contato com o mundos externo quando se foi. Só assim você não precisaria mais se preocupar com nenhuma entidade maligna.
Luiz ficou perplexo com as informações do homem de capuz.
-Por isso estou aqui senhor Luiz... Preciso de sua ajuda, você é a chave para que eu encontre o mau que também me prejudicou.

E o homem tirou seu capuz em frente a Luiz, que estalou os olhos e ficou boquiaberto ao ver o rosto do homem misterioso.

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