Primeiro veio o Timothy, chamado carinhosamente de Timín. Quando ele morreu eu devia ter uns 9 ou 10 anos e eu fiquei muito triste. Mas ele deixou filhos. Quatro gatinhos pretos do qual anos mais tarde só restariam dois. Eu quis dar o nome de um dos gatos de Timín, mas minha mãe disse que não, pois cada um era único. Então eu, com uma fitinha azul nas mãos, escolhi um dos gatos e enrolei a fita em seu pescoço. Minha mãe disse que o nome dele seria Dudu.
Dudu, o gato preto e carinhoso que tinha uma juba grande que lembrava o rei das selvas, era único. Seu miar era único. Me lembro das vezes que o vi dormindo no chão e decidi me juntar a ele. Ele me esperava de manhã cedo para lhe dar ração. Corria pra mim quando via meu pai se aproximar, pois sabia que comigo ele estaria seguro.
Já com cabelos brancos, Dudu adquiriu o modo de dormir debaixo da cama da minha irmã. Se eu tivesse que procurar por ele, ele estaria por lá. Nem sempre, mas algumas vezes. Eu o dava carinho todo dia e ele se virava de um lado pro outro. Se você soubesse apertar direitinho a sua patinha, ele a fecharia.
Por longos oito anos, ele foi meu companheiro e grande amigo com quem eu tinha um incomensurável afeto. Oito anos em que eu passei por várias mudanças, tanto fisicamente quanto intelectualmente. Mas quanto a ele, nada mudou, ele ainda era um animal grato por estar onde estava.
Uma vez saindo de casa, eu o vi no portão. Comecei a acaricia-lo, até que notei que tinha algo errado, que me deixou ali parado acariciando-o por no mínimo dez minutos: Alguém o tinha chutado forte, mas tão forte na mandíbula, que a afundou, o que também fez que seu olho saltasse para fora. O que eu poderia fazer? Ele não conseguiria beber e nem comer nada, mas ele não estava ali apenas esperando morrer. Ele fugiu do lugar em que foi ferido e foi até o portão de casa porque ele estava com medo e sabia que naquela casa, na minha casa, teria quem o ajudasse. Ele queria viver e lutou por isso. Mas o que eu poderia fazer? Não tinha cuidados meus que o fossem salvar. E nem dinheiro.
Após um tempo, ele entrou pra casa e eu apenas o seguia. Minha irmã queria que eu o tirasse de casa, mas eu argumentava que o Dudu queria mostrar que ele estava bem. E assim ele foi até o quarto dela e entrou debaixo da cama. Eu me abaixei para o ver. Ele se deitou como sempre fez e eu continuei olhando. Enquanto eu ainda o olhava debaixo da cama e lembrava de todos os anos de histórias, eu chorei baixo e inconsolavelmente.
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30 dias de escrita
No FicciónEste desafio de 30 dias contam um pouco sobre mim, um homem cheio de amarguras e também repleto de amor. Meu coração e minha alma aqui estão despojados. Prêmios: 3° lugar - Concurso Palavras Douradas 2° Edição