Por um sonho...

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_Estudar? Como assim estudar?

Elisa encarou os olhos claros do marido com um misto de medo e arrependimento, já deveria saber que ele se oporia...

_Eu... Bem eu... _E encolheu os ombros nervosa. Não sabia exatamente como falar para o marido de seus planos, na verdade a vida inteira se dedicara apenas a cuidar dos planos dele, era complicado agora falar que sempre sonhara em cursar uma faculdade já que desde sempre desempenhara o papel de esposa, mãe e dona de casa...

_Elisa eu não estou entendendo onde está querendo chegar. _Alex voltou-se para o espelho afrouxando a gravata escura para em seguida tirá-la e jogá-la a um canto.

_bom, eu só estou dizendo que pretendo fazer uma faculdade.

_Faculdade!? E com quem o Hugo vai ficar?

_Apenas no turno que ele está na escola.

_Elisa... _Alex deu um beijo na esposa. _Amor, você não está feliz assim? Te falta alguma coisa? Alguma vez eu já deixei faltar algo pra você ou pro nosso filho?

_Nunca amor... _Elisa encolheu os ombros incapaz de contestar. Realmente Alex nunca havia deixado faltar nada, sempre fôra um marido muito dedicado nessa questão e sabia que não havia sido nada fácil para ele ver-se pai aos dezenove anos tendo que tomar as rédeas da situação para sustentá-la e ao bebê, mas também nada fôra fácil pra ela ver-se grávida aos dezessete, tendo que abrir mão de todos os seus sonhos e assumir a maternidade passando a dedicar-se tão somente ao filho ao marido e à casa.

Não havia nada nesse mundo que amasse mais que os dois, mas agora sentia-se vazia de certa forma, Alex entrara na faculdade enquanto ela ainda estava grávida, estudara e se formara para trabalhar na empresa do pai, e tudo fôra muito rápido e doloroso, sabia que ele dera tudo de si para dar-lhe um lar estável e sabia também o quanto tinha sido doloroso para ele ter sido obstruída  a liberdade de decidir o que verdadeiramente queria...

E para livrá-la do desconforto daquela conversa Hugo chegou correndo e lançou-se nos braços do pai eufórico.

_Pai, pai! Você nem imagina o Doni me mostrou um jogo irado do homem aranha, ele desce de um prédio enorme e pula em cima do carro e depois lança a teia para o helicóptero e...

_E...? _Alex riu divertido diante da energia do filho enlaçando-o pela cintura o colocou na horizontal sabendo que mesmo assim Hugo não iria interromper a narração entrecortando-a apenas com gargalhadas divertidas.

Elisa olhou a linda cena enlevada, ultimamente estava tão pensativa... emotiva... Hugo já tinha sete anos, tinha tantos traços do pai que as vezes imaginava como uma coisinha tão pequena poderia ter tantos detalhes... Lembrava da primeira vez que o pegara nos braços, de como chorara emocionada ao ver aquele pequeno ser tão indefeso e imensamente lindo... naquele momento já sabia que daria a vida por ele, o amor de mãe era inexplicável... nunca pensara que era assim tão forte, que a gente daria a vida sem precisar pensar duas vezes, e sim, dedicara-se completamente ao filho, e não se arrependera em nenhum momento por isso, porque nada era mais gratificante do que vê-lo sorrir, mas agora Hugo estava crescendo, já queria se vestir sozinho, já comia sozinho até tomava banho sozinho... e isso de certa forma a deixava frustrada... As mães eram mesmo ciumentas...

_Amor, o que tem pro jantar? _Alex perguntou se dirigindo pro banheiro e carregando Hugo consigo que gritava rindo.

_Bife, do jeitinho que você pediu. _Elisa sorriu ao ver os dois comemorando, eles sempre gostavam das mesmas coisas, talvez fosse a mania que Hugo tinha em imitar o pai em tudo. _Estou descendo pra pôr à mesa o jantar, é melhor não demorarem nesse banho.

COLEÇÃO POR UM SONHO _ A esposa. Onde histórias criam vida. Descubra agora