Elementais das Trevas - Os Nove Portais Demoníacos #1

1

Como os anjos podem dormir quando o diabo deixa a luz da varanda acesa?

- Tom Waits.

Selene Midnight conseguia, infelizmente, ouvir as vozes do trio de garotas do outro lado da sala, reclamando da aula de história. Não estavam erradas, porque até mesmo ela estava irritada com a voz do professor Caleb.

Sentada na última carteira no fundo da sala próxima das janelas enormes, Selene estava entretida desenhando um par de asas na última folha de seu caderno.

— Um belo par de asas... – disse para si bem baixinho, com um sorriso contente no rosto. Seus olhos azuis brilhavam de tantas expectativas que tinha sobre um "outro mundo" existir.

— Que belo par de asas, senhorita Midnight – a voz grave e sarcástica de Caleb surgiu ao lado de Selene. Todos voltaram o olhar para ela, que engoliu em seco, sentindo as bochechas arderem. – Com certeza isso não é sobre a nossa aula, certo?

— Ah, com certeza não – Selene levantou o rosto, tirando do rosto uma parte da franja, olhando para Caleb com um sorriso sem graça.

Risadas se espalharam pela sala.

— Ótimo. Continue assim que não passará de ano – Caleb se afastou, voltando para a frente da sala.

Você diz isso como se eu não tirasse boas notas, não é, professor mané?

Selene bufou, virando a página e colocando – novamente – na matéria de História. Ela não gostava daquele tipo de história. Sempre foi fascinada por histórias de fantasia, como as histórias de seu avô: baleias brilhantes voando pelos céus, seres humanos lutando contra monstros usando magia. Sua imaginação para lá de fértil assustava as pessoas de Pittsburgh e, mesmo aos dezesseis anos de idade, Selene se autoproclamava uma sonhadora com histórias para serem contadas e ilustradas. Uma contadora de histórias nata, assim como seu avô.

Mesmo que isso custasse sua má reputação.

O sinal ressoou pelo colégio, anunciando o término daquela entediante aula. Selene saiu da sala e respirou o ar puro da liberdade, abrindo um sorriso de alivio. A caminho de seu armário, ela notou alguém a seguindo a passos rápidos a fim de ficar ao seu lado.

— Ei, ei, Sel! – a garota, Cindy, sua melhor amiga, conseguiu acompanhá-la. – Como foi a aula de História? – Cindy estava exibindo um sorriso provocativo e colocou uma mecha de seus cabelos curtos e lisos atrás da orelha.

— A chatice de sempre – parou em frente ao armário, colocando a senha para abri-lo. – Caleb me pegou desenhando – Selene olhou para Cindy com um sorriso e levantou uma das sobrancelhas.

— De novo? Se você for contar, todos os professores já pegaram você desenhando – Cindy tirou um pirulito do bolso da saia, e o levou para a boca, recostando o braço em outro armário. – Imagine se eles te pegam desenhando um cara gostosão bem na última folha do caderno de matemática?