Capítulo 11. A Última Primogênita

5K 477 582
                                    

De onde estava, Kendra podia observar o sol se pondo, seus raios tingindo o céu com diversos tons de alaranjado, amarelo, lilás e azul. Ela nunca fora muito boa em desenhar ou pintar, mas tinha certeza de que Cassie e Kate poderiam muito bem captar a essência daquele momento com tinta ou lápis em mãos.

Por alguns minutos, sentindo a brisa do fim de tarde beijar seu rosto e a pedra fria da qual suas mãos estavam apoiadas, Kendra podia fingir que tudo estava bem. Ela podia fingir que quando a porta se abrisse, seria Kate lhe recebendo com um enorme sorriso no rosto pronta para começar a atirar palavras incompreensíveis sobre Kendra até que essa lhe pedisse para repetir um pouco mais devagar. Ou então que quando retornasse para casa, encontraria Cassie, Delphina e Harry brincando no quintal enquanto lá dentro, James cozinhava o jantar enquanto Lily tentava evitar que Sirius, Remus e Peter se matassem com suas brincadeiras infantis.

Kendra apertou a pedra fria contra sua mão, fazendo com que seus dedos ficassem brancos enquanto um suspiro cansado lhe escapava por entre os lábios. Ninguém precisava lhe dizer, pois no fundo ela sabia que tudo estava prestes a ficar muito pior do que jamais estivera.
Já fazia mais de quinze anos desde a última vez em que tivera notícias dela. Depois da última vez, apenas o silêncio frio, o medo e a paranoia constante haviam sido seus companheiros. Porém, Kendra sabia que aquilo não duraria muito, apenas o fato de ela estar naquele castelo outra vez já era motivo o bastante para que soubesse que muito em breve, as proteções iriam cair e ela conseguiria chegar até Cassie.

Sua vontade naquele momento, era simplesmente se sentar no peitoril daquela janela e então pular dali. Sem varinha, sem magia LeFay, sem truques. Apenas cair e abraçar a escuridão e frieza da morte como se esta fosse uma velha amiga. Tudo seria tão mais simples se ela fizesse isso.
Se Kendra morresse, estaria por fim em paz. Não haveria mais preocupações, paranoia, medo, dor ou luto pelos quais sofrer. E ela também estaria com Kate e todas as outras pessoas que havia perdido no meio daquela maldita guerra.

— Kendra — a voz de sua mãe bradou logo atrás da mulher, fazendo com que a mesma pulasse para trás por conta do susto. — O que você pensa que está fazendo? — Indagou Eleanora, enquanto Kendra se virava para encarar a mãe. Os olhos azuis e perspicazes da matriarca a varreram de cima a baixo, por fim voltando a fixar-se em seus olhos.

— Nada — respondeu-lhe ela, com uma das mãos sobre o coração, que galopava feito um louco em seu peito. Em seguida, Kendra então pigarreou. — Eu não estava fazendo nada.

— Você estava praticamente pendurada nesta janela, eu não chamaria isto de nada — devolveu a mulher e com apenas um olhar seu, fez com que o vidro da janela então se fechasse. — Venha, saía de perto dela.

Kendra riu com o tom repreendedor de Eleanora. Era o mesmo tom que a mulher costumava usar com ela quando era apenas uma menina. Um tom repreendedor e afável ao mesmo tempo, que quase a fazia pensar que a mãe se importava com o que acontecia ou deixava de acontecer com ela.

— Não quer limpar a bagunça que meu corpo estirado lá embaixo muito provavelmente irá fazer? — perguntou a mulher em tom zombeteiro.

— Não, eu apenas não quero perder outra filha. Não se eu puder evitar. — Respondeu sua mãe com dureza, embora seus olhos fossem duas piscinas de melancolia e tristeza.

Ela, por sua vez, ignorou o que a mulher dizia enquanto analisava o ambiente ao seu redor uma outra vez.

Estavam na torre oeste, onde outrora havia sido o lugar para onde Kate fugia quando se sentia sufocada naquele castelo – o que era quase sempre, assim como acontecia com a própria Kendra –, mas que agora nada era além de um lugar cheio de tralhas. Sua mãe havia enfiado tudo o que remetesse a filha morta naquele lugar, ou pelo menos tudo o que ela havia conseguido encontrar por ali, já que Kate havia levado consigo boa parte de seus pertences quando fora expulsa de casa e a outra parte, continuava trancada no quarto da irmã que havia sido selado com magia. Ou seja, ninguém era capaz de abrir a porta, com exceção a quem havia lançado o feitiço.

𝐇𝐀𝐑𝐃 𝐓𝐎 𝐅𝐄𝐄𝐋 |✦| 𝐂𝐄𝐃𝐑𝐈𝐂𝐎 𝐃𝐈𝐆𝐆𝐎𝐑𝐘Onde histórias criam vida. Descubra agora