Capítulo 03. A (Desastrosa) Festa de Aniversário

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24 DE JULHO DE 1993

Uma brisa fresca bateu contra o corpo de Cassie, fazendo com que alguns fios de seu cabelo balançassem e então caíssem sobre seus olhos. Com uma das mãos a garota então os afastou para atrás da orelha, em seguida suspirou e ergueu seu olhar para o céu noturno.

O céu estava como uma cortina escura salpicada de estrelas brilhantes que pareciam piscar para Cassie lá de cima. Era quase como se elas reconhecessem não só que ela tinha o nome de uma constelação que ficava logo ao norte, próxima a Andrômeda, mas também a conexão que a garota sentia com aqueles pontinhos brilhantes que ficavam tão longe de seu alcance, exatamente como o homem que tinha ensinado Cassie a admirá-las.

Outro suspiro cansado escapou por entre os lábios dela, em seguida Cassie apertou Bastet um pouco mais contra o seu corpo, até que a gata de pelagem preta miasse em protesto.

— Desculpe garota — disse Cassie para Bastet, então abaixou-se e se sentou na grama com a gata entre suas pernas. — Sabia que você é a única com quem posso conversar com sinceridade, não é? Gosto que você não pode me responder de uma forma que eu entenda, assim pelo menos posso fingir que também não me julga — a garota então riu enquanto acariciava os pelos do animal.

Sem parar de acariciar Bastet que ronronava diante a isto, Cassie desviou o olhar para o relógio em seu pulso, constatando então que faltavam apenas dois minutos.

Ela lançou um rápido olhar sobre a casa escura e silenciosa atrás dela, então voltando a sua plena atenção para a gata.

Cassie sabia que lá dentro dormiam a mãe, a irmã, melhor amiga e sua prima, tal como também sabia que nenhuma delas entenderia o motivo de ela parecer tão miserável. Ninguém entenderia, nem mesmo sua irmã.

Durante anos, ela tinha adorado fazer aniversários. Cassie amava como o mundo parecia girar em torno dela todo dia vinte e quatro de julho, quase tanto quanto ela amava ganhar presentes.

No entanto, durante o seu aniversário de onze anos, um pensamento intruso e extremamente doloroso havia simplesmente escorregado para sua mente: a cada ano que se passava e Cassie ficava mais velha, era um ano a mais longe de seu pai. Em poucos segundos, ela faria então quinze anos, o que significava não só que Cassie não via seu pai há quase doze anos, mas também que ela havia passado mais tempo longe de Sirius do que junto dele.

Quando o ponteiro do relógio bateu meia-noite, a garganta de Cassie ardeu como se estivesse em chamas e lágrimas se acumularam nos cantos de seus olhos.

— Feliz aniversário, Cassiopeia — sussurrou ela para si mesma, em seguida abriu um sorriso triste para as estrelas e então disse: — Por favor, digam a ele que eu o amo, está bem?

As estrelas, no entanto, não a responderam.

*

Quando acordou, Cassie não sabia exatamente que horas eram, apenas que um irritante barulho parecia vir do andar inferior e aquilo foi o bastante para que uma careta surgisse em seu rosto.

Normalmente Cassie já odiava quando era acordada, principalmente quando estava de férias e ainda mais no dia de seu próprio aniversário. Porém naquele momento em específico, sua irritação estava ainda maior por não ter dormido muito bem na noite anterior, ou quase nada, na verdade.

Tinha ficado até as três da manhã no jardim, alternando entre chorar pelas pessoas que não estariam presentes em sua festa de aniversário que aconteceria em algumas horas e desabafar com sua gata, que volta e meia soltava miados e ronronava. Cassie duvidava que Bastet entendesse uma única palavra que saía de sua boca, mas poder desabafar com outro ser vivo certamente era algo bom.

𝐇𝐀𝐑𝐃 𝐓𝐎 𝐅𝐄𝐄𝐋 |✦| 𝐂𝐄𝐃𝐑𝐈𝐂𝐎 𝐃𝐈𝐆𝐆𝐎𝐑𝐘Onde histórias criam vida. Descubra agora