O correto é "terapie-se" e não "noronhe-se"

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Estávamos nos dirigindo ao hospital

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Estávamos nos dirigindo ao hospital. Coloquei algumas músicas no rádio do carro enquanto minha mãe apenas se concentrava no trânsito e na hora de nossa consulta marcada:

- Aaaaaah mas eu não acredito! O bonito demora 5 dias no chuveiro aí a gente chega atrasado no hospital. Meu pai amado... – Reclamou ela.

Eu ri bastante pela forma com a qual ela falava. Aliás, eu acho que ri da situação inteira porque eu não estava dando a devida importância para as coisas. Depois que falei com a minha mãe e vi que ela estava ali por mim, tudo parecia um pouquinho mais leve.

***

Após assinar um papel aqui e ali, e o médico nos chamou.

- Oi, Sr. Johnathan! Tudo bem?

- Tudo... – Falei

- Aaaah, bacana... O que acontece, Johnathan?

Olhei para minha mãe. A leveza em meu olhar tinha ido embora, dando lugar a uma expressão assustada. Era difícil, não saia... Não conseguia explicar.

- Doutor, viemos aqui para pegar uma guia para que o Johnathan possa passar com um psicólogo – falou minha mãe enquanto colocava a mão sob meu ombro.

As feições do médico mudaram. Ele passou de sorridente para uma pessoa preocupada:

- Certo... Você é a...?

- Me chamo Tatiana, sou a mãe dele – retrucou.

- Sra, Tatiana, muito prazer, sou o Dr. Simas... Poderia me explicar melhor o ocorrido para que eu informe na guia?

- Doutor, o Johnathan não só anda muito desanimado ultimamente, como também tentou suicídio algumas vezes – explicou -. Penso que um psicólogo poderá ajudá-lo a desabafar e a encontrar uma solução.

- Entendo... Bem, com tudo o que você me falou, eu acho que também seria interessante que ele passasse com um psiquiatra...

Meu coração disparou. Meu deus! Além de tudo eu era louco e ia precisar de remédios? Eu estava congelado no tempo enquanto tudo aquilo ocorria, mas, de alguma forma, consegui falar alguma coisa:

- Psiquiatra? É realmente necessário?

- Olha, Johnathan, entenda: o psicólogo é um profissional que vai trabalhar a sua mente e ajudar a reparar feridas que você possui e não podemos ver. O psiquiatra, se necessário, vai entrar uma medicação para que você pare de sentir a dor mental em seu corpo físico. Você não está indo para um médico de loucos, estamos apenas querendo ter certeza que você ficará melhor – disse o doutor enquanto se virava para mim.

Disse "sim" com a cabeça e esperei que ele terminasse de preencher as guias. Uma delas, para um psicólogo. A outra, para um psiquiatra. Confesso que eu adoraria pegar a guia do segundo especialista e queimá-la quando chegasse em casa, por muitos motivos. Mas, realmente, talvez fosse melhor para mim dessa forma.

Enquanto pensava, o doutor continuava escrevendo, até que, em um momento, aproximou os papéis das minhas mãos e disse:

- Aqui... Recomendo que vocês procurem esses profissionais o mais rápido possível.

- Muito obrigada! Faremos isso assim que chegarmos em casa. De qualquer forma, agradecemos muito – disse minha mãe enquanto abria a porta.

Enquanto me levantava, o médico começou a falar:

- Johnathan...

- Sim? – Falei.

- Você não está sozinho. Não se preocupe. Isso vai passar. Admiro a sua força por ter aguentado até aqui.

Não conseguia formular uma frase inteira sem remeter às coisas que eu já tinha passado. Travei por um segundo, e, no momento seguinte, apenas disse:

- Obrigado...

- Imagina, um bom dia para vocês!

***

Graças à minha mãe, na semana seguinte eu teria psicólogo e psiquiatra. Estava tudo fluindo.

Iriamos para a casa da minha avó passar o final de semana. Uma horinha no carro valia o sorriso de mais uma das mulheres da minha vida.

Chegando na casa de Maria Lourdes (ou Lourdinha, como a chamavam), tive uma recepção extremamente calorosa. Como chegamos na hora do almoço, foi um curto tempo até cumprimentar ela e meu avô até que pedissem para que eu fosse para a cozinha comer.

- Ah, meu querido, fiz uma surpresa para você! – comentou minha avó enquanto sorria.

- Sério, vó? Meu deus – soltei um sorriso sem graça. Estava tenso com a situação, ainda mais porque não tinha dito nada a ela sobre tudo o que fez com que eu me isolasse. Mesmo assim, podia ver que ela não tinha mudado nada pela surpresa que ela fez: sempre buscando agradar aqueles que precisavam ou... Ou que ela simplesmente queria agradar.

Almocei a mesma comida que ela sempre fazia. Quando estava perto de acabar meu prato, Lourdes chegou e falou:

- Aaaah! Agora que você está quase acabando posso te mostrar o que eu fiz.

Ela se virou, abriu a porta da geladeira, e tirou uma forma com a sobremesa que eu amava mais que todas (apenas quando ela fazia, claro): torta de limão. Minha criança (adulto, idoso, e qualquer coisa) interior estava gargalhando por dentro. Agradeci a Lourdes por uns dez minutos, sem parar.

- Eu fico tão feliz! Sua mãe me ligou e me contou que as coisas não estão fáceis. Como sei que você adora isso aqui, fui no mercado com seu avô e comprei as coisas para fazer. Vou te dizer: eu provei e está igual todas as outras que eu já fiz – disse a doce senhora enquanto olhava para a torta e soltava um sorriso de satisfação pessoal, como quando fazemos algo com alma.

Naquele momento meu coração amoleceu. Aproveitei e expliquei para ela tudo o que estava acontecendo. Ouviu cada palavra sem me interromper, arrumar desculpas ou qualquer outra coisa (exatamente como fez quando eu disse para a família que era homossexual). Ao final, me disse:

- John, você é meu neto. Você sempre me traz orgulho e sempre trará. Por favor, eu quero te pedir para não fazer isso comigo... Sabe? – disse ela se referindo ao suicídio -. Meu bem, eu te amo tanto, não suportaria te perder. Depois que você me contou que gostava de meninos, eu não dormi uma semana inteira pensando que o mundo seria mais difícil para você. Se acontece algo desse tipo, só deus sabe quando dormirei de novo. Eu te amo muito, meu filho, muito mesmo.

Eu só conseguia chorar e agradecer. Quando me dei conta, já tinha comido um quarto da torta que ocupava uma forma de no mínimo 3 quilos. 

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