Eu não estou conseguindo acreditar que minha mãe simplesmente deixou o Luk ficar aqui.
Não houve gritos, brigas ou drama. Ela só me ouviu e o questionou sobre tudo o que eu já havia perguntado, obviamente recebendo as mesmas respostas. Então virou para mim e disse que ele poderia ficar, mas que isso seria unicamente responsabilidade minha. No fim, acho que fiquei chocada de tal forma que nem tentei confrontá-la sobre não ter acreditado em mim anteriormente, quando nos falamos no telefone.
Ainda não entendi o motivo dela ter aceitado tudo tão fácil...
Olho para o céu alaranjado, pensando em como esses dias definitivamente entraram para a lista de mais estranhos da minha vida. Acho que desde a morte do meu avô, não acontecem coisas tão intensas como essa.
Ouço duas batidas na porta e ali está a minha mãe, me olhando com sua expressão ranzinza habitual, sabia que não seria tão fácil! Tenho certeza de que ela pedirá para eu colocá-lo para fora.
— Quero falar com você — ela diz enquanto entra no meu quarto com passos largos, parece estar querendo adiantar seja lá o que tem para dizer, é sempre assim, não é de seu feitio ficar muito tempo comigo, ou muito próxima de mim, acho que deve ser mania que ela acabou pegando em seu oficio.
— Claro.
Sento-me e a espero começar, ela se acomoda em meu lado, fazendo careta ao ouvir o ranger da estrutura da minha cama. Meu estômago se revirar a cada segundo que passa, o nervoso me corrói, enquanto ela parece estar escolhendo com cuidado as palavras que vai usar.
— Eu sei que você não gostou nada de termos nos mudado para cá. — estou prestes a interrompe-la mas ela faz um sinal com a mão, me pedindo para esperá-la terminar de falar. — E eu sei o quanto a mudança custou para você... — ela respira fundo, como se estivesse meditando enquanto falava e ajeita a postura. — Só quero que saiba que eu entendo.
Sinto que meus olhos estão querendo sair da minha cara neste momento. O que está acontecendo? É pegadinha? Desde quando minha mãe conversa comigo? E é compreensiva? Será que ela finalmente viu que tudo o que aconteceu bagunçou a minha cabeça? Que realmente me deixou mal? Seria possível finalmente poder fazer as pazes com a minha mãe, sabendo que ela me entende? Que ela se importa?
— Okay...— é tudo o que eu consigo fazer sair da minha boca. Acho que estou em um tipo de estado de choque pelo o que acabei de ouvir.
— Então...— ela perde um pouco da postura, como se algo tivesse a incomodando. — Desde quando você está com esse menino?
Sinto como se um ponto de interrogação se formasse em minha cara.
— Hã?
— Não se faça de boba, estou tentado ter uma conversa franca com você, será que pode, ao menos uma vez na vida, colaborar?
Isso foi como um tapa na minha cara. Não pode ser que é ela esteja achando que eu tenho algo com o Luk! Não quando a mesma o ouviu dizer que eu o ajudei, viu os machucados dele!
— Como assim? O que você está insinuando?
— Ora, eu não estou insinuando nada, apenas estou querendo saber a quanto tempo você está trazendo esse garoto aqui para casa. E eu já disse, entendo que toda essa mudança foi difícil para você, e é extremamente normal esse tipo de atitude. Se pensasse mais na sua mãe aqui, veria que também foi difícil para mim! E por isso, eu sei o que está acontecendo, você precisava extravasar essa revolta de alguma forma, não é mesmo? Então tratou de arrumar um namorado as escondidas...
Sinto toda a felicidade que me preencheu a segundos atrás se esvair. Eu não estou acreditando no que estou sendo obrigada a ouvir. É isso? Ela realmente acha que eu estou tendo uma fase de rebeldia? Ou seja, continua não se importando...
— É isso que você acha que eu faria? — minha voz sai rouca, sinto que a qualquer momento as lágrimas vão sair. — Depois de todo esse tempo... Pensei que ao menos notaria que eu já aceitei que essa é a nossa vida agora. Que eu ainda não estou bem, mas a fase de negação já passou.
O silencio entre nós foi esmagador, nossa relação mãe e filha nunca foi a mais concreta do mundo, mas tem tempos que parecia definhar a cada dia mais.
— Eu tentei. — disse ela enquanto passava a mão em seu cabelos, separando algumas das mechas claras entre seus dedos. Uma outra mania dela, sempre fazia aquilo quando estava ansiosa, e eu sei que a sua vontade é sair dali logo. — Eu realmente tentei. Veja só, se quiser ficar junto com ele, fique eu não me importo, sei que não vai durar muito, ninguém te suporta por muito tempo.
A vontade de responder que eu sabia que ela não se importava era gritante, mas eu consegui me segurar.
— Só não cometa o mesmo erro que eu cometi, não quero ter o desgosto de ver uma prole sua tão cedo. — essa última parte foi quase um sussurro e mesmo assim, me atingiu mais do que se ela tivesse feito um escândalo.
Ela se levantou e foi embora, fechando a porta atrás dela. Fico olhando para aquela direção até notar que meu rosto está molhado. Me deito e tento pensar em alguma coisa que me faça parar com aquelas lágrimas idiotas, mas nada vem à mente, então desisto e decido ir ficar um pouco do lado de fora de casa, porque se eu ficasse naquele quarto, não iria conseguir sair tão cedo e eu definitivamente não queria isso. Não mais.
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Fique Ao Meu Lado
Teen FictionAyla mora em um pacato vilarejo do interior, com sua mãe, extremamente abusiva, o que a faz ser presa em sua zona de conforto, até o dia em que ela encontra um jovem desmaiado na floresta, e decide ajudá-lo. Este homem é Lucian, que após acordar, s...