Os dias passavam e a Sara estava cada vez mais triste. Havia dias que ficava na janela do meu quarto horas e horas, olhando para rua. De certa forma já estava conformada, a medida que o tempo passava os pedidos tornavam-se menos constantes.Quanto a mim, o que dizer. Sentia a falta do Matheus. Mesmo que tenhamos convivido pouco, estava com saudade do feitio desagradável, irritava-me bastante pensar nele, era uma tortura. Por vezes dava-me vontade de ir ter com ele, mas, o meu orgulho era mais teimoso que eu. Porém o importante é fugir desses pensamentos e me concentrar em ajudar a Sara a ser alegre outra vez.
Fui para o meu quarto e encontrei a Sara por cima da minha cama. Aproximei-me dela e dei-lhe um beijo na bochecha.
- Queres brincar comigo?
- Não! Quero ir ao parque, levas-me?
- Já sabes que não posso, querida. Desculpa.
- Porquê que o pai não nos deixa brincar? Porquê que temos de ficar em casa? – Chorava enquanto falava. A Sara não conseguia perceber porquê que o pai a proibia de sair, na verdade, nem eu. A história do pai com relação aos supostos medos, se assim os posso chamar não era credível, muito menos a do Matheus. No entanto por mais estranho que pareça fazia sentido porque os medos pareciam-se com os dementadores de Harry Potter só que ao invés de se alimentarem de felicidade humana, alimentam-se de sonhos, eram semelhantes pelo facto de causarem o mesmo efeito aos seres humanos, ou seja, deixar as pessoas num estado vegetativo. Pensando de uma forma muito engraçada, tudo me levava a crer que eram primos, ou até mesmo irmãos.
- Não fica assim, Sara. Vamos arranjar uma solução. – Peguei-lhe nas costas, enquanto fazia-lhe miminho com as mãos.
- És uma mentirosa. Estas sempre a dizer isso, e nunca fazes nada. – Gritou a Sara de forma a empurrar o meu braço com o cotovelo. Saltou da cama e foi a correr para o seu quarto.
Era horrível ver a Sara naquele estado. Não custava nada ir ter com o meu pai e explicar o que sentia com relação aquela situação. Era uma questão de conversa, só tinha de expor aquilo que sentia, não precisava de ter medo. Mas a Sara tinha razão, era uma mentirosa que não conseguia ajudar ninguém, muito menos aqueles que me eram queridos, não conseguia ser destemida o suficiente para enfrentar o meu pai. Vendo bem, sempre foi assim.
Parece parvo, mas o melhor que tenho a fazer agora é tomar um banho e tentar refrescar não só o corpo, mas também a mente.Fiquei horas e horas na banheira do quarto de banho, e como já não fazia uma bela hidratação algum tempo decidi aproveitar o momento, deve ser por isso que o meu cabelo não crescia. Até que era bonito e os meus cachos eram incríveis e volumosos porém não passavam da altura do queixo. Pintei-o de castanho no verão passado, digamos que não foi a minha vontade das vontades porque a princípio quis pintar a marrom para poder fazer jus ao meu nome, afinal de contas tinha o nome de uma deusa romana e nada mais justo do que termos o cabelo da mesma cor. Tinha certeza que ia ficar uma deusa no meio daquele caos, pois sentia-me tão bonita quanto a aquela que era equiparada a deusa da beleza Afrodite, psique. Mas quando fui pedir opinião ao meu pai, logo disse que não pelo facto de não combinar com os meus olhos castanhos claros e o meu tom de pele.
Já eram vinte horas quando o meu pai me tinha chamado para jantar, mas nem sequer o respondi, não me apetecia ouvir a minha própria voz. Depois do banho apressei-me a vestir, era ignorante, mas não ao ponto de ser estupidamente mal-educada. Meti um calção jeans e uma t shirt preta a condizer com as semis- botas da mesma cor, deixei o cabelo molhado porque já não tinha tempo de o secar.
Quando cheguei a sala, estava todo mundo calado, como sempre. A cara da Sara me entristeceu, já não aguentava, tinha de falar.
- Pai! Eu e as meninas podemos ir ao parque amanhã? Eu sei que já lá não vai ninguém, mas seria bom para ela e para a Sofia. – Arrastei a cadeira e me sentei.
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Sonhos
RomanceO que a história conta não passa do longo sonho, do pesadelo espesso e confuso da humanidade. Arthur Schopenhauer