Nos sentamos nos bancos velhos e sujos que haviam no autocarro. Eu sentei-me do lado esquerdo, e o rapaz do lado direito. Formou-se um silêncio estranho durante uns dois minutos, na verdade ainda estava em choque e incrédula ao ouvir aquilo que ele me tinha dito, e ainda mais confusa do que já estava. Tentei obter mais informações acerca destas criaturas e principalmente em saber em que lugar nós estavamos.— Hey! Como é que te chamas? — Perguntei-lhe. Fui simpática ou pelo menos quis ser, forcei um sorriso, que por sinal não foi correspondido. Este rapaz irrita-me profundamente, se eu não precisasse tanto dele, juro por Deus que lhe dava um murro.
— Matheus.
Foi tão curto e objectivo, aí meu Deus apetecia-me chorar de raiva. Porquê que ele não fala mais comigo? Ou pelo que tentasse explicar o quê se estava passar?
Confesso que mesmo estando irritada ainda queria falar com ele. Sem me aperceber cruzei os braços que nem uma criança de cincos anos, estava mesmo chateada. Mas mesmo assim decidi insistir um pouco mais.— Obrigada pela ajuda. Pelo vistos já deves me conhecer, portanto poupo-te das apresentações.
— Não! Simplesmente sei o teu nome. — Olhou fixamente para os meus olhos enquanto o dizia. Confesso que senti-me um pouco tímida.
— Desculpa lá, mas será que podes explicar o quê que está a se passar aqui? Que raio de porcaria são aquelas criaturas? Quais sonhos é que eles queriam roubar? Como é que tu sabes o meu nome? Onde é que eu estou? — Gritei.
Já não aguentava está espécie de enigma, estava farta.— Porquê que estás aos gritos? Vê se te acalmas, mulher. Parecias confiante quanto te vi no telhado, pensei que já soubesses de tudo.
— Pois é, mas as aparências enganam.
— Bom! Com relação ao teu nome... eu só sei porque ouvi uma rapariga a chamar-te de Vénus quando estavas a subir às escadas que dão acesso ao telhado. As criaturas que tu viste, chama-se "medo" e aparecem quando detectam que alguém ou uma pessoa não consegui realizar um sonho ou aquilo que tanto quer por medo de algo/ alguém.
— Hammm? Mas.....
— Não estou aqui a falar de medos inatos, de perder a mãe, pai, irmãos, amigos... porque apesar de o pensamento de perder alguém seja terrificante, não temos controlo sobre isso, é algo que simplesmente temos que aceitar. É uma condição que nos foi imposta, não temos o poder de escolher quem vive e quem morre, só nos resta aceitar e tentar viver da melhor forma — O Matheus proferia estás palavras com tanta tristeza, dava para sentir o sofrimento dele de longe.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sonhos
RomanceO que a história conta não passa do longo sonho, do pesadelo espesso e confuso da humanidade. Arthur Schopenhauer