Elisa nunca se importou em acompanhar o pai a cada nova transferência de trabalho. A jovem costumava encarar aquelas mudanças de um jeito otimista e confessava gostar de não se ver presa a um só lugar. Os prós de levar uma vida nômade envolviam: nun...
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Amanheceu. Mais um dia sem meu pai e mais um primeiro dia de aula.
Já havia quase um ano que meus pais tinham decidido seguir caminhos distintos e que minha mãe estava trabalhando em um atelier que fazia vestidos pra noivas. Irônico ter sido esse o emprego que acabou com o casamento dela.
Eu estava presa em Brígida há um ano.
Não conseguia esquecer a última briga deles. Minha mãe sem conseguir encarar meu pai e os olhos dele fixos nela, com um novo pedido de transferência em mãos. Estava claro que ela não abriria mão do seu emprego. Ela não o acompanharia dessa vez.
Quando saiu de casa, meu pai levou quase todas as coisas dele. Ele só esqueceu de mim.
Eram infinitas as perguntas que eu queria fazer, mas as respostas eram escassas, então eu me afastei de qualquer coisa que me trouxesse dúvida.
Naquela manhã, eu não queria levantar para encarar as pessoas e suas confusões. Eu só queria ficar em casa, descansar e escrever. Histórias onde o amor sobrevive.
— Hora de levantar — minha mãe alertou, batendo na porta.
Eu balbuciei palavras desconexas. Não sabia ao certo se ela havia me escutado, mas parecia ter desistido de bater.
O começo do ano não significava absolutamente nada pra mim, mas parecia importar pra todo o resto. Garotos e garotas com seus materiais novos, se cumprimentando nos corredores da escola, como se não se vissem há séculos.
Confraternização por reencontro não era meu forte, especialmente quando meu cérebro gritava que eu não deveria estar ali. Aquele não era o momento.
Eu nunca havia sido a pessoa que permanecia em um lugar e nunca imaginei que aconteceria comigo. Foi só por isso que minha mãe me deixou mudar de colégio naquele ano, mas alertou sobre ser "a última vez que mudaria até a formatura".
Brígida não havia sido de todo mal, mas era hora de ir embora.
Saí de casa sem me despedir. Suspeitava que minha mãe estivesse ocupada demais desenhando ajustes em vestidos.
Lembrava de ela ter dito algo sobre querer me levar ao colégio, mas dispensei. Não era como se fosse minha primeira vez fazendo isso. Não era novo ou assustador. Era entediante.
Além disso, o meu novo colégio ficava há poucas quadras de casa e era absurdo cogitar que eu não tinha autonomia suficiente para ir até lá sozinha.
Assim que coloquei os pés fora de casa, o sol da manhã tocou meu rosto e eu me senti aliviada. O calor do dia me reconfortou. Por um segundo, senti como se minha energia estivesse sendo recarregada. Apesar de o céu estar limpo e o sol estar de bom humor, o vento tinha uma temperatura fria, mas agradável. O clima estava a meu favor.
Ir andando não parecia mais uma ideia tão ruim. Ao menos lá estaria distante de qualquer memória, mesmo que mínima, do meu pai.
A saudade de ver os dois juntos era absurda e por mais que eu tentasse entender aquilo que minha mãe chamava de livre-arbítrio, eu não conseguia aceitar o fato de que eles desistiram da gente.