Elisa nunca se importou em acompanhar o pai a cada nova transferência de trabalho. A jovem costumava encarar aquelas mudanças de um jeito otimista e confessava gostar de não se ver presa a um só lugar. Os prós de levar uma vida nômade envolviam: nun...
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Por mais entediante que Brígida pudesse ser, o quarto que tinha ganhado ao me mudar era o mais aconchegante que já tive em muito tempo. Não só pelo seu tamanho, mas pela ambientação que planejei com a ajuda da minha mãe.
A ideia era minimalista com um toque rústico e tudo tinha a minha cara. Meu pai costumava dizer que era um quarto de fada e eu concordava, porque sempre tinha um cheiro de madeira e patchouly.
Eu gostava de como ele parecia uma casa da árvore moderna e feita pra dormir. Ali eu me sentia em paz. Aquilo era raro e precioso demais pra mim.
Eu estava deitada na cama haviam horas, encarando o teto e bolando uma boa resposta para o elogio de Eric. Me perguntava se já tinha passado tempo demais ou se ainda era válido responder? Talvez fosse uma boa ideia bancar a enigmática.
Ser nômade havia me ensinado muitas coisas, mas nunca aprendi a como reagir quando alguém quer se aproximar. Talvez eu não devesse me esforçar tanto ou talvez eu devesse me esforçar mais do que pensava. Eu só queria continuar sendo "interessante" para ele, porque aquilo estava sendo bom.
De repente, comecei a analisar minha estadia na cidade. Por que eu achava tão ruim estar ali?
Passei tanto tempo me lamentando por ter sido deixada pra trás por meu pai, que sequer vi as coisas que estava ganhando. Nina podia ter razão, talvez fosse o momento de escrever minha própria história e parar de me alimentar com o que outras pessoas viveram.
Meu pai estava vivendo a vida dele enquanto minha mãe redesenhava o destino dela, mas eu continuava parada. Nunca havia sido protagonista daquele enredo e era hora de começar.
Peguei o celular e abri a conversa com Eric. Não tinha nada ali além da mensagem que ele enviara horas antes. Assim que comecei a digitar a primeira palavra, uma notificação chamou minha atenção.
"1021. Hoje às 20h", escreveu Nina.
1021 era um pub que ficava há algumas quadras do Método. Nina sempre falava daquele lugar com as amigas e se referia a ele como o point de encontro dos jovens mais interessantes da cidade, mas eu sabia que aquilo não era verdade.
Em meu colégio anterior (que também ficava em Brígida), ninguém nunca havia mencionado a public house. Provavelmente, aquele era o lugar que os alunos do Método se encontravam quando queriam se reunir depois das aulas.
Eu nunca fui fã desses encontros com colegas de classe. Qual o propósito de marcar um encontro com pessoas que você já vai ver no dia seguinte?
Mesmo assim, pensei em aceitar o convite porque não queria ser indelicada com Nina mais uma vez. Ela estava sendo legal e compreensiva comigo, era o mínimo que eu podia fazer para retribuir aquele cuidado.
"20h? Meio tarde", respondi.
Eu sabia que ás vezes parecia uma senhora de 80 anos, mas ficar na rua até tarde não era um dos meus hobbies favoritos, principalmente se isso envolvesse outras pessoas. Faço mais o tipo que aprecia sua própria companhia e que passa horas desfrutando momentos consigo mesma.