Elisa nunca se importou em acompanhar o pai a cada nova transferência de trabalho. A jovem costumava encarar aquelas mudanças de um jeito otimista e confessava gostar de não se ver presa a um só lugar. Os prós de levar uma vida nômade envolviam: nun...
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Uma travessa com lasanha à bolonhesa estava no centro da mesa.
Era a primeira vez que minha mãe cozinhava em semanas e uma das únicas vezes em que a vi parecer um pouco menos atrasada para um compromisso.
Queria dizer que aquilo era reconfortante, mas não. Daquela vez, não conseguiria fugir. Precisaria encarar a situação e ter uma daquelas conversas onde ela me pergunta como as coisas estão e eu minto.
— Essa ainda é sua comida preferida? — questionou, trazendo uma espátula em mãos.
— Talvez. — respondi, seca.
O semblante cansado em seu rosto foi o que me fez respirar fundo e recomeçar. Eu não podia despejar todos os meus problemas nela. Era direito dela ser feliz, mesmo que eu não tivesse a mesma sorte.
— Desculpa — reiniciei. — O cheiro está ótimo, aposto que o sabor deve estar ainda melhor.
— Espero que sim — ela esboçou um sorriso. — Sei que você tem tido dias difíceis, mas eu tenho me esforçado para que sejam melhores.
Cortei um pedaço da lasanha e coloquei em meu prato, na esperança de que ela mudasse o assunto se me visse comer.
Eu não queria começar mais um daqueles diálogos que não levam a lugar nenhum e seguem em looping eterno. Eu só queria comer, ficar satisfeita e ir pro meu quarto.
— Seu pai ligou hoje. Ele perguntou se eu estava proibindo o contato de vocês.
— Que besteira — respondi com a boca cheia.
— Você sabe que precisa falar com ele, Elisa.
— Será que a gente pode mudar de assunto? — revirei os olhos enquanto me servia um pouco de suco de laranja.
— Seu pai te ama.
Dei um gole no suco, tentando diluir o nó que se formou na minha garganta. Conseguia sentir a pressão na minha cabeça, como se meu cérebro buscasse uma forma de desligar.
— Você está me ouvindo, Lis?
— Sim.
— Então responda. Por que não tem falado com ele?
As palavras foram mais fortes que eu, como uma bola de demolição que eu não conseguia conter. Elas correram pela minha garganta e chegaram em minha boca antes que eu pudesse evitar.
— Porque se ele quisesse mesmo falar comigo, estaria aqui — explodi.
Silêncio, mas não do jeito que eu queria.
Agora eu era a pessoa imatura que despejava palavras cruéis sem nem pensar, mesmo que por muito tempo tivesse censurado meus pensamentos. Fiz de tudo para não ter que ser dura mais uma vez.