Mei é uma jovem de 19 anos que nasceu numa família pobre. Infelizmente, seus pais tiveram mais filhos do que tinham condições de criar e, no fim, os irmãos e irmãs de Mei foram adotados por pessoas desconhecidas. Mas Mei já tinha 12 anos na época, e quem adotaria uma criança tão grande?
Em um dia frio de outono, o pai e a mãe da menina tomaram uma decisão dolorosa, mas que poderia garantir o sustento da filha, a única opção que havia naquele momento: levaram Mei para uma okiya. Não seria qualquer uma, mas sim a mais discreta, a mais afastada, a melhor para a segurança dela. A okiya era um pouco distante da única estrada que levava para lá, e havia uma grande descida por um caminhozinho de terra até chegar à casa de madeira que era o lugar. Essa okiya foi arquitetada para ser especial, pois tinhas as costas viradas para o caminho e a frente voltada para um lago. O lago era um belo círculo cercado por grama e se parecia com uma cratera.
Os três foram recebidos pela gerente do lugar, Yuzawa Aiko, uma senhora de uns quarenta e poucos anos e que tinha uma aparência de ser bastante rígida. A gerente apresentou toda a casa a ela, assim como todas as mulheres, que totalizavam dez. Mei foi aceita na okiya, mas essa não era a única preocupação da famíla, e isso a Aiko-san percebeu logo. Ela conseguiu tranquilizá-los ao dizer que a menina era muito jovem e não serviria para prestar os serviços de uma okiya, mas que poderia realizar os trabalhos de limpeza, já que estavam sem uma faxineira.
Aquele foi o último dia que Mei viu seus pais e o primeiro dia de muitos que passaria na sua nova casa.
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Já fazia sete anos que Mei vivia na okiya e já estava bastante acostumada com todas as suas ocupações e com todo o movimento. Na verdade, nos últimos anos a quantidade de clientes diminuiu tanto que cinco das dez mulheres que trabalhavam lá se demitiram e foram trabalhar na cidade. Apenas alguns clientes regulares continuavam a vir e sempre pediam a companhia das mesmas mulheres. Esse era o primeiro motivo porque Mei continuava a fazer os mesmos trabalhos de sempre e nunca precisou servir cliente algum, o outro motivo era porque a gerente de certa forma ainda a via como uma menina e todas as vezes que chegava um cliente, pedia a Mei que fosse cuidar de algo no interior da casa.
Aquele dia apresentava ventos um pouco mais frios que os de ultimamente, o que para Mei era uma maravilha, já que vestia roupas quentes e mais compostas do que a da maioria das mulheres da casa. Aquele tempo atraia uma vontade de deitar no terraço e aproveitar a vista do lago.
E assim ela fez.
Os ventos calmos balançaram os sinos de vento que se encontravam na entrada presos a uma viga. Mei se deitou no chão de madeira, seus cabelos negros se espalhavam pela superfície, assim como a sua longa roupa. O céu apresentava um azul belo e o ambiente era tranquilo. Ao fechar os olhos, tudo o que se podia escutar era o som das plantas se movendo segundo a brisa. Nenhum animal, nenhuma pessoa passando na casa. Virando a cabeça para a esquerda, o lago estava parado. A cor era de um verde escuro e algumas flores cor de rosa de uma árvore próxima boiavam na água, lembrando que era primavera.
Toda a calmaria se foi quando Mei olhou para o corredor lateral da casa. Vinha alguém, um homem. Ela se levantou com uma rapidez impressionante e correu para dentro da okiya. Esse movimento repentino surpreendeu o homem de forma que ele franziu a testa.
O homem vestia roupas simples e havia chegado lá com apenas um cavalo, totalmente desacompanhado. Parecia um rapaz comum de 25 anos, mas a verdade é que ele era o fudai-daimyō, ninguém menos que o administrador daquelas terras, Katsukiyo Sakakibara. Ele estava voltando de uma visita à uma das cidades disfarçado para saber sobre as reais necessidades daquele lugar. Seus guardas fizeram questão de segui-lo também disfarçados, mas, ao sair da cidade, Katsukiyo os dispensou dizendo que voltaria pelo caminho mais seguro sozinho. Dessa forma, o fudai-daimyō chegou à deserta estrada que leva à okiya. Percebendo que havia um declínio no terreno que acompanha a estrada, resolveu descer e encontrou uma casa à beira do lago, sem nem saber do que se tratava. Quis entrar por curiosidade e avistou uma mulher deitada no chão. Parecia ser jovem, e por alguma razão se assustou ao vê-lo. Por que ela se espantou?
De onde Mei estava ainda conseguia ouvir o que o homem dizia à gerente. Obviamente Aiko-san havia se apressado para receber o cliente.
-Bom dia, senhor cliente. Seja bem vindo à nossa okiya! É sua primeira vez aqui, não é? Permita-me mostrar nossas belas serventes. Por favor, venha por aqui.
- Mas eu vim de cavalo e o deixei solto.
Neste exato momento Mei passava por eles com uma vassoura na intenção de limpar um dos quartos.
- Bem na hora. Mei, tome conta do cavalo do senhor cliente. Amarre ele a uma viga e garanta que tenha comida e água suficiente.
Mei saiu da casa sem arriscar olhar para o homem, mas ele, em contrapartida, fixou os olhos nela até perdê-la de vista.
Chegando perto do cavalo, ela o amarrou e colocou uma tigela de água para ele e depois alisou seu pelo. Era um cavalo bem cuidado.
Ao voltar para dentro, Aiko-san já lhe deu outras ordens. Ela deveria levar a comida para o quarto onde novo cliente estava. Após colocar os pratos de comida na bandeja, Mei se dirigiu para a entrada do quarto e bateu duas vezes na porta.
- Trouxe a comida. Vou deixar aqui fora.
Ela já ia saindo quando uma voz feminina respondeu de dentro:
- O senhor cliente permite que você entre e coloque a comida aqui.
Era raro que alguém pedisse para ela entrar. Geralmente eles preferiam a privacidade. Mei empurrou a porta e entrou com a bandeja nas mãos. No cômodo estava uma das mulheres vestida com uma roupa que deixava os ombros nus e os cabelos grandes jaziam soltos todos para o lado direito do corpo, as mãos ocupadas arrumando um laço. No fundo, no escuro, estava o fudai-daimyō sentado, a parte de cima da vestimenta um pouco aberta. Os olhos dele observaram ela todo o tempo. Mei, percebendo o olhar e não conseguindo evitar, retribuiu o olhar durante alguns curtos segudos. Pela primeira vez algum homem pretava atenção nela, muita atenção indesejada. Pondo a comida numa mesinha, fez uma reverência, deixando o cabelo cair no rosto e saiu, ainda de cabeça baixa.
Algum tempo depois, Mei se encontrava no quarto dela no interior da okiya, que também era o lugar onde guardavam os materiais de limpeza. Ao ouvir sons de trotes, foi até a janela e viu que o homem ia embora. Quando ele estava próximo à estrada, a gerente entrou no corredor chamando todas.
- Meninas, estou muito feliz em dizer que o novo cliente que acabou de sair pagou muito bem! Ganhamos dinheiro para a semana quase toda só com ele- todas começaram a comemorar- Yoko, onde está ela? Ah, Yoko, meus parabéns! Você deve ter deixado ele muito feliz para dar tanto dinheiro extra!
A mulher abriu um grande sorriso.
Ele parecia ser tão simples, pensou Mei.
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The Concubine
RomanceA pobreza obrigou a jovem Mei a se afastar da sua família para trabalhar em uma okiya, uma casa de gueixas. Mei vive se escondendo dos clientes que poderiam ter algum interesse em seus "serviços", até que a inesperada chegada de um misterioso homem...