Capítulo 4

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- Mei, está pronta? Temos que ir agora.

Hoje é o dia de compras. Uma vez por mês a gerente vai à cidade com alguma das mulheres com uma enorme lista, e desta vez ela escolheu levar Mei.

A cidade mais próxima ficava a 50 minutos de distância, que seriam percorridos a pé. A cidade é um lugar muito movimentado, pois tem uma da maiores feiras de todo o território.

- Aquele dinheiro extra que o nosso novo cliente nos deu vem muito a calhar. Olhe só os pedidos das meninas! Todas pediram uma roupa nova, dizendo que estavam cheias de trapos- se aproximando de uma banca repleta de tecidos, Aiko-san disse- Veja, Mei, esses tecidos são lindos, parecem ser de boa qualidade e estão com um preço ótimo! Escolha o seu.

Mei estendeu a mão na direção de um belo tecido azul escuro quando o som das ferraduras de cavalo lhe fez se virar. Era raro uma oportunidade em que saísse. Aiko-san vinha à cidade com mais frequência, principalmente para comprar frutas e verduras.

Aquele barulho era causado não por um, mas por quatro cavalos, cada um com um homem montado vestindo uma espécie de armadura. Além deles, mais quatro homens vinham andando atrás e outros quantro haviam parado formando um quadrado em torno dos senhores e cavalos. Na formação parecia haver um líder, já que um dos cavalos ia na frente dos outros três. Esse mesmo parou um pouco mais adiante de onde Mei se encontrava e ela se inclinou para observar a figura que guiava o animal, se perguntando se seria algum nobre. O que ela jamais imaginaria é que essa pessoa lhe seria familiar. Sem que ele precisasse descer da montaria, a garota reconheceu seu salvador.

Ao perceber que um dos rapazes que formavam o quadrado estava bem ao lado dela, não hesitou em perguntar:

- Senhor, quem é este homem que está em cima do cavalo da frente?

O rapaz a quem ela perguntava era jovem, a idade aproximada a de Mei. Antes que pudesse se espantar com a pergunta, ele se espantou com a beleza da moça e com a delicadeza que ela demonstrava.

- Esse homem é o fudai-daimyō- respondeu- Não o conhece?

Que surpresa! A imaginação de Mei nunca iria tão longe.

- O que disse?

- Este senhor é Katsukiyo Sakakibara, o fudai-daimyō destas terras.

Então ela entendeu. Entendeu que ele podia se vestir com roupas simples, mas não era pobre, muito pelo contrário. Entendeu que se sentara e contara toda a sua história ao lado de alguém importante. Entendeu também que fora defendida e abraçada por alguém poderoso. Seria errado ir ao seu encontro ali, bem no meio da cidade, para agradecê-lo por tudo? E se isso ficasse mal? E se o povo visse ele, tão poderoso, falando com uma garotinha que não sabe seu lugar? Não, ela esperaria até que ele viesse à okiya novamente e lá lhe agradeceria com todas as palavras.

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Dois dias se passaram e Mei só pensava em como comunicaria ao fudai-daimiyō seu agradecimento. Se perguntava de hora em hora quando ele viria. Limpava o chão quando Aiko-san entrou na casa anunciando que três cavalos desciam até a casa. Da entrada Mei observou a vinda de seu tão esperado benfeitor.

Tão rápido quanto foi possível, ela guardou os materiais de limpeza e lavou as mãos. Ao voltar, encontrou Katsukiyo já dentro da okiya e dois homens do lado de fora, retirando os calçados.

- O que o senhor deseja?- A gerente se apressou em dizer.

- Eu gostaria de comer alguma coisa. Estava resolvendo algo importante e não pude comer nada desde cedo.

- Então vou levá- lo à nossa despensa. Pegue o que quiser, é por conta da casa.

Ele partiu atrás de Aiko-san, deixando Mei e seus companheiros na entrada. Ela se virou aos senhores e perguntou:

- Os senhores não desejam nada para comer?

- Não, estamos bem. Katsukiyo-dono nos ordenou que coméssemos enquanto ele estava em reunião – respondeu o homem que aparentava ter um pouco mais de quarenta anos.

Mei se admirou com a consideração que Katsukiyo tinha com seus subordinados e estava cheia demais de pensamentos desse tipo para perceber que o outro homem era o mesmo rapaz com quem ela falara na cidade. Ele olhava para ela com tanta firmeza. Desde aquele encontro não parava de lembrar dela, em todos os momentos. Tinha se apaixonado por ela e acreditava que encontrá-la de novo tão prontamente era um sinal de que o destino os queria juntos. O coração dele batia com alegria e emoção.

- Você... você trabalha aqui? Porque...

Depois destas primeiras palavras, Mei não escutou mais nada, pois Katsukiyo havia retornado para aquele lugar e estava encostado na parede na saída do corredor comendo uma maçã e com outras duas em sua mão esquerda.

Enquanto o garoto contava sobre sua paixão à primeira vista com o rosto corado, Mei maquinava as palavras que diria à Katsukiyo. Sua boca chegou a abrir para falar quando o rapaz, até então esquecido, deu dois passos em sua direção.

-... e é por isso que eu gostaria de ter a sua companhia hoje. Então, talvez possamos conversar mais.

As últimas frases do garoto fizeram a cabeça de Mei travar. Ele queria a companhia dela?

Os olhos de Mei se dirigiram do rosto do menino para Katsukiyo. Por favor, era o que diziam, por favor não deixe ele fazer isso. Por favor.

A feição do fudai-daimyō continuou a mesma, ele continuou mastigando a maçã, parecia que não tinha percebido. Mas Mei não piscou, não desviou o olhar, era desepero que havia nela, no seu coração parecia que algo estava se partindo. Até sua respiração parecia ter se reduzido ao mínimo necessário.

Parecia que uma eternidade tinha se passado quando alguém finalmente se moveu. Katsukiyo andou até o centro da sala, ficando ao lado do jovem.

- Com essa menina, não. Ela não faz esses serviços.

Foi tudo o que falou. Mei continuara silenciosa.

Katsukiyo não esperou comer todas as maçãs para ir embora.

A situação, tudo o que aconteceu foi imprevisível.

Por que? Por que ele estava tão frio? Desta vez ele não ia me ajudar, ia ficar só assistindo?, pensou Mei. E aquele foi o dia em que ela sentiu a dor de um coração partido.

The ConcubineOnde histórias criam vida. Descubra agora