Os dias ficaram quentes conforme o verão manuseava a natureza a seu querer. As mulheres da casa frequentemente iam conversar na entrada sobre o clima, observando o lago, mas Mei não o olhava mais.
Fazia muitas e muitas semanas que o fudai-daimyō não visitava a okiya. Ás vezes, Aiko-san parava subitamente o que estava fazendo só para levantar a cabeça e, sem nem mesmo perceber que estava pensando alto, perguntava onde estava o cliente. Até as meninas perguntavam por que o homem generoso nunca mais veio. Houve uma ocaião em que a gerente se aproximou de Mei e indagou se ela saberia que atividades lhe mantinham tão ocupado, ao que ela respondeu que não com um aceno de cabeça.
Aquele dia estava especialmente quente, e a noite não foi diferente. Todas as mulheres se recolheram cedo devido ao cansaço causado pelo tempo.
Mei foi até a entrada da okiya para apagar os candeeiros que ainda estavam acessos e ia fechar a porta quando escutou uma voz gritar:
- Espere, não feche.
A lua cheia permitia ver quem vinha tão tarde. Era Katsukiyo. Mei arregalou os olhos.
- O que você faz aqui a essa hora?
- Desculpe- disse ele- mas eu prometi a mim mesmo que viria hoje. Mas aconteceram tantas coisas que só pude chegar agora.
Antes que conseguisse pensar em outra coisa, Mei perguntou subitamente:
- Por que não vem aqui há tanto tempo?
- Estive muito ocupado, muito mais do que pensei que estaria. Se sabe quem eu sou, sabe também que tenho muitas obrigações.
- É, eu sei- falou baixinho- Você deve saber que neste horário todas já dormem, Aiko- san e eu somos as únicas ainda de pé, e eu já vou me recolher. Mesmo depois de tanto esforço, não há nada que possa fazer aqui hoje.
- Eu já imaginava, mas não vim aqui pra falar com elas, vim para falar com você.
- O quê?
Katsukiyo se sentou, praticamente se largou no chão de madeira e passou a mão na cabeça, jogando o cabelo para trás. Com a luz da lua era possível perceber o suor no seu rosto. Mei sentou ao lado dele.
- Está muito quente hoje. Justo hoje, quando estava com pressa e tive que correr com o cavalo. Não queria chegar aqui nestas condições.
Mei olhava para ele com fixação.
- Por que você veio?- falou, ainda prendendo o olhar nele.
As águas do lago refletiam a lua e o céu isento de nuvens e estrelas, que eram apagadas pelo brilho do astro que dominava a noite.
- Eu vim para te pedir em casamento.
Se Mei não estivesse sentada, ela teria caído.
- O quê?
- Eu não sou uma pessoa que saiba prorrogar as coisas. Eu estou apaixonado por você e quero me casar com você, Mei. Você aceita?- ele disse com um sorriso.
- Mas... mas eu achei que você não gostava de mim, achei que tivesse raiva. Da última vez que veio aqui...
- Ah, aquilo... Eu não tenho orgulho de dizer que tive ciúmes. Foi a primeira vez que senti isso. Eu fui obrigado a me casar com uma nobre e uma concubina e jamais gostei de nenhuma das duas. Eu sentia necessidade de sair do castelo, não queria assumir a responsabilidade de cuidar delas quando eu nunca quis me casar. Você é a primeira pessoa que me fez ficar ansioso para lhe encontrar outra vez, a primeira pessoa que eu amo. Eu não soube como agir quando um dos meus soldados se declarou para você. Apenas fiquei sem reação, minha cabeça a mil. Quem sabe fosse melhor você ficar com aquele rapaz, ele tem um bom coração e com certeza faria de tudo para te fazer feliz, enquanto eu apenas te traria problemas, mas, como eu pensei, eu não consegui nem pensar em te deixar ir- Katsukiyo tomou a mão de Mei entre as suas- Sei que não vai ser fácil, você se casaria com um homem casado, duas vezes, mas eu prometo que vou fazer tudo por você.
A luta que Mei travava contra si mesma para conter as lágrimas encontrou um fim com essas palavras. Katsukiyo secava uma lágrima que caia pela bochecha da garota quando perguntou:
- Mais alguma dúvida?
- Não- ela respondeu, soluçando.
- Certo, agora quero ouvir a sua resposta.
- Eu aceito- e com um abraço tentou parar os soluços.
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The Concubine
RomanceA pobreza obrigou a jovem Mei a se afastar da sua família para trabalhar em uma okiya, uma casa de gueixas. Mei vive se escondendo dos clientes que poderiam ter algum interesse em seus "serviços", até que a inesperada chegada de um misterioso homem...