Capítulo 3

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Naquela manhã, Mei acordou com o coração apertado. Não havia um só dia em que não penssasse no que Aiko-san dissera a ela. Na noite em que Katsukiyo e ela conversaram, a gerente também a chamou para uma conversa.

Aiko-san havia dito a Mei que já tinha 19 anos, e, com essa idade, ela não conseguiria impedir que homens interessados nela exigissem seus serviços. Isso apavorou Mei tremendamente. A partir de então ela viveria se escondendo e fugindo, estaria por conta própria. A ideia era perturbadora demais.

Ainda era muito cedo quando Mei passou pela entrada com uma bacia de água e alguns panos para limpar um dos quartos. Ali havia chegado dois clientes. A chegada deles foi tão silenciosa que Mei não soube que alguém estava lá. Ia passando apressada por eles bem na hora que a gerente vinha recepcioná-los. Então, o mais novo falou:

- Quem é ela? Quero escolher ela.

Mei congelou no lugar onde estava.

Aiko-san abriu a boca, pronta para protestar, mas logo a fechou, se lembrando que já passou o tempo em que devia intervir.

O outro cliente era um regular de lá. Era ele quem apresentava a okiya ao mais jovem. Ele jamais se importou com Mei. Ela não passsava de uma criança que não chamava atenção.

- Ela? É só uma garota que cuida da limpeza daqui- disse o regular.

- Eu estou interessado nela. Ela é meu tipo- o cliente se virou para Mei- Ei, mulher, que quarto está disponível para nós?

As mãos de Mei suavam tanto que a bacia que ela levava escorregou. Ela não conseguiria falar nem se tentasse.

Neste momento, a coisa menos esperada aconteceu. Se era uma bela coincidência ou obra do destino, não sabemos. A pessoa que adentrou aquela casa tinha escutado toda a conversa e entendia perfeitamente tudo o que estava acontecendo, e ela disse:

- Desculpe, senhor, sinto dizer que estar com essa moça é impossível. Ela é minha companhia particular.

Os olhos de Mei se arregalaram quando viram o rosto do seu salvador, Katsukiyo.

Ele não só disse aquelas palavras, como também ergueu um dos braços para puxar gentilmente a cabeça de Mei de encontro ao próprio peito, pretendendo demonstrar uma intimidade que não tinham.

O rapaz ficou visivelmente sem graça e se virou para trocar sussuros com o regular.

Depois de Aiko-san apresentar as moças da casa para os clientes o mais rápido que pode, veio cumprimentar o homem recém- chegado, a face incapaz de esconder o espanto que a cena lhe provocara.

- Ora, seja bem-vindo, senhor cliente- foi tudo o que pensou em dizer. Ela olhava para Mei, esperando que a própria garota tivesse alguma reação, mas ela só o olhava, cheia de uma gratidão tão profunda, que naquele momento seria impossível pôr em palavras.

- Sinto muito, senhora, mas hoje estou com pressa. Só resolvi passar aqui para relaxar um pouco. Este lugar me acalma- disse mirando o lago- Até outro dia.

E foi isso. Se foi tão rapidamente como chegou. Não houve tempo para agradecimentos, nem mesmo para despedidas. Um segundo depois, ele já estava montado em seu cavalo subindo o declínio a caminho da estrada.

The ConcubineOnde histórias criam vida. Descubra agora