OLHOS NEGROS

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Em uma terra de deuses e monstros, eu era um anjo, vivendo no jardim do mal.
Gods & Monsters (Lana Del Rey)

Atenção: o capítulo contém gatilho.

S U M M E R

Desmorono na calçada quando cruzamos a esquina da casa de Charlotte. Não paramos de correr por um segundo, e meu corpo sedentário pede socorro, fazendo meu coração quase sair pela boca. Charlotte seca as lágrimas com a manga do cardigan, fixando seu olhar em um local aleatório, perdida em um estado de choque.

- Lottie? - eu chamo, tocando a sua perna - Você está bem?

Ela recua.

- Summer, eu preciso pensar sobre o que acabou de acontecer. Vá para casa, depois conversamos.

- Espera! - eu grito, quando ela vira as costas - Preciso da sua ajuda para salvar Lauren...

- O quê? - A garota me fita por cima do ombro, soltando um riso nervoso

- Summer, nós acabamos de fugir de uma casa sinistra, digna de um filme de terror. Se quer ajudar, ligue para a polícia e permaneça quieta, sem causar mais problemas.

Entramos em um silêncio constrangedor.

- Me desculpa, Summer - Charlotte murmura - mas, eu acho que não posso mais fazer parte disso. Lauren estava descontrolada, talvez seja melhor para ela ficar presa. Ela pode ser perigosa se for solta na sociedade.

E eu tenho vontade de gritar que perigosos são aqueles que a prendem.

- Eu vou salvá-la. Com ou sem alguém.

Minhas palavras cortantes são o auge para Lottie começar a caminhar, sem olhar para trás. É a sensação de ter perdido uma amiga para as sombras que me seguem. Elas são malvadas... E não permitem que eu dívida minha atenção com outras pessoas.

Minha casa não é muito longe do lugar que estou, mas apresso o passo quando o céu londrino começa a escurecer, com nuvens cinzas e pesadas cobrindo o céu azul. Há algo místico em Londres e está longe de ser uma cidade comum. Escondidos entre a famoso torre do relógio do Big Ben e a roda gigante London Eye, existem almas vagantes e demônios, caçando suas próximas vítimas em meio a multidão de turistas. E a cidade parece perceber o que acontece em sua volta, pois demonstra toda a sua tristeza no clima pesado e gélido.

Gotículas começam a cair, me fazendo puxar o capuz do meu moletom.

Um arrepio me cerca quando dobro a esquina e vejo uma multidão de pessoas cercando a residência vizinha. É a casa do Sr. Connor e um carro da perícia forense está estacionado ao lado, com investigadores dispensando as pessoas e tirando-as do limite da faixa amarela, estendida pelos limites da casa.

Um aperto faz meu peito doer e sinto minha respiração falhar por alguns segundos.

- O que está acontecendo? - eu tento falar, mas minha voz sai mais baixa do que o esperado.

- o Sr. Connor - Felicity, minha outra vizinha, responde a minha pergunta. - Ele foi encontrado morto na banheira. Parece que ele não suportou...

E eu entendo o que ela quis dizer. O Sr. Connor não suportou todos aqueles demônios e atentou contra a própria vida. Um zumbido alto atinge meus ouvidos e minha cabeça dói, estou entrando em um colapso.

- Não, isso não é verdade - Eu nego com a cabeça, soltando um riso frouxo e desacreditado - Ele estava no hospital psiquiátrico. Não tem como ele estar aqui.

Eu sinto a culpa me tomar por completo.

- Ele fugiu durante a madrugada, Summer - Felicity me lança um olhar de pena, se afastando vagarosamente.

Melancolia das Almas CondenadasOnde histórias criam vida. Descubra agora