▪️EU QUERO PODER.

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🇧🇷 BRASIL- RIO DE JANEIRO

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🇧🇷 BRASIL- RIO DE JANEIRO

🔷DANTE

Eu tinha oito anos quando meu pai resolveu me perguntar o que eu queria da vida.

Eu tinha dois exemplos em casa, o meu pai que era Chefe do morro do Alemão e a minha mãe que era policial, a maior diferença entre os dois era que o meu pai amava o que fazia e morria de orgulho do seu trabalho e a minha mãe rezava todos os dias para conseguir um afastamento da policia.

Quando meu pai me perguntou o que eu queria da vida, eu parei pra pensar.

Eu nasci no complexo, fui criado aqui, eu amo o morro, eu estou seguro aqui dentro junto com o meu povo. A maioria das vezes em que eu vejo o meu pai puto é porque a policia matou mais um inocente, porque a policia invadiu a casa de um trabalhador, porque a policia quer tomar o morro e todos os moradores tem medo disso, porque a policia não defendeu quem merecia defesa, porque a policia está cobrando juros demais pra evitar invasões ou não prender um dos nossos, mas porque eles deveriam cobrar pra evitar invasões? Ou porque eles cobram para não prender um dos nossos? Não são eles que são os bonzinhos e nós os vilões? Porque somos nós que temos que defender e cuidar dos nossos se esse é o trabalho deles? Talvez eles não sejam realmente os bonzinhos e se for pra ser bom como eles, eu prefiro ser mal como o meu pai.

Foi então que com 9 anos eu segurei em uma arma, era uma ponto 40 preta e eu me lembro como se fosse hoje. O meu pai colocou uma garrafa em cima de um tonel azul e falou que eu só sairia quando acertasse ao menos um tiro na garrafa de vidro, eu passei o dia inteiro ali, mirando e mirando e nada, não consegui acertar. No dia seguinte ele me levou pra boca principal, me mostrou tudo que ele costuma fazendo ao decorrer do dia. No terceiro dia ele me matou um homem na minha frente, um soldado que estava desviando droga para beneficio próprio. Depois do terceiro dia ele só me mostrou o lado ruim de ser um bandido, com certeza na intenção de me fazer desistir, mas como eu vou desistir depois de entender que eu nasci pra isso?

A minha mãe nunca interferiu em nada mas também nunca conversávamos sobre o que eu estava fazendo quando saia com meu pai, a única coisa que ela sempre exigiu foi que no meu boletim escolar tivesse as melhores notas e que eu fizesse um curso na faculdade não importa qual fosse, ela só exigia que eu fizesse um.

Hoje 12 de março, eu estou no ultimo semestre do curso de contabilidade, tenho 21 anos, muito bem educado, muito bem treinado, um matador, um assaltante e um assassino reconhecido por meu pai como um dos melhores, talvez vocês achem que seja o pior titulo que uma pessoa deveria se orgulhar de ter, mas eu não concordo com vocês, esse é o meu legado.

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Guga – O que tu vai fazer? – Ele traga o seu cigarro de maconha, sentado no sofá acolchoado da nossa casa.

RESILIÊNCIA | MORROOnde histórias criam vida. Descubra agora