Cicatrizes

Capítulo 1

 A escuridão mórbida desta cela tem sido uma boa forma de fugir do caos e da confusão que tem sido nessa prisão, dois dias na solitária, e mais um ano adicionado na minha sentença, totalizando 15 anos de prisão, minha sentença era, anteriormente, de apenas 12 anos, mas devido às tentativas de fuga falhas, eles adicionaram mais alguns, fui condenada por algo que não cometi, apenas estava na hora errada e no lugar errado, a cela em que me encontro não passa de um cubículo grande o suficiente para conter apenas uma cama e uma espécie de vaso, a porta é feita de metal e é grossa o suficiente para que nenhum som escape daqui, não que o fato de que, esta cela se encontre a mais de 50 metros abaixo do chão, não fizesse isso, as paredes são feitas com uma espécie de material macio, para quem, seja lá quem for, esteja aqui, não consiga se machucar, essa cela foi feita particularmente para insanos e psicopatas em geral, mas aqui estou eu, recebendo meu castigo, o único meio de distração que tenho aqui, é uma bolinha de tênis, fico jogando ela na parede e pegando ela de volta. A porta rangeu quando foi aberta, pisquei várias vezes, fiquei vários dias num lugar escuro, até a luz do corredor me cegava, duas mãos me pegaram pelos ombros e me levantaram, meu corpo fraco mal conseguia ficar de pé, os policiais me arrastaram para fora da cela, onde havia mais um deles ali me esperando, do contrário dos policiais que me levavam, este não era tão forte, na verdade, apenas não aparentava, seu uniforme era preto com detalhes em amarelos, enquanto que os outros usavam uniformes de um azul profundo, ele ostentava algumas medalhas no peito, suas botas de cano alto estavam brilhando, sua postura era perfeita, tudo naquele homem exclamava perfeição e disciplina.

 A mão enluvada do homem segurou meu queixo e levantou meu rosto para que eu pudesse ver seu rosto, seus cabelos eram escuros como o céu da noite e longos, eles estavam ajeitados em um rabo de cavalo que ele jogara por cima do ombro, seus olhos escuros e inexpressivos examinavam meu rosto, ele também era surpreendentemente jovem.

- Bom dia...Karma.

 Ele sorria, seus dentes brancos quase que brilhavam, os outros dois guardas que me seguravam algemaram minhas mãos, tive que conter um resmungo de dor, eles apertaram bastante as algemas.

- Espero que tenha aproveitado sua estadia...seu castigo por ter tentado escapar por debaixo do muro...acabou, tenho que admitir que foi um plano meio besta da sua parte.

 Ele continuava sorrindo, sua voz era quase melódica, eu apenas o encarava inexpressivamente, ele lançou um olhar para os dois guardas e eles me soltaram, endireitei minha postura lutando contra a fraqueza que eu sentia, o homem me pegou pelo braço com um aperto firme e me conduziu para o lado direito do corredor estreito e iluminado por luzes pálidas, deixando os guardas para trás.

 Andamos até uma porta pálida que dava para uma escadaria, como se fossem escadas de incêndio, ainda haviam mais alguns lances para baixo, passamos por ela e quando a porta se fechou, o aperto em meu braço se suavizou, ele soltou o ar que aparentemente havia prendido.

- Sendo sincero Karma...eu não estava atuando quando disse que seu plano foi meio besta.

- Obrigada de qualquer jeito.

 Ele mudou sua expressão de irritado para um sorriso acolhedor.

- Sabe, não tem sido fácil manter o disfarce, se o capitão souber-

- Relaxe Ark, eu sei que você sabe atuar muito bem.

 Retribui o sorriso gentil, fomos subindo a escadaria, que parecia não ter fim, em silêncio, Arkire tem sido um bom amigo desde que cheguei na prisão, ele compartilha a ideia nada popular que não era justo eu estar presa, ele é o segundo no comando de toda a prisão, ou seja, muito respeitado, porém, se revelasse que tem me apoiado provavelmente iria perder o cargo, então, quando se encontra na frente de guardas ele me trata como qualquer outro prisioneiro, ou seja, como se eu fosse uma barata, sem ele provavelmente estaria naquela solitária pelo resto da minha vida ao invés de alguns dias apenas.